Rabisco encontrado num diário de 2007, junto com um autorretrato feito por mim mesmo. Reproduzo aqui abaixo confessando estar passando por um período de bloqueio criativo. Vocês devem entender e eu agradeço.
aconteceu de repente. hoje, no fim da tarde, fui com meu irmão mais novo para um parque de diversões perto da minha casa. lá, me chamou para brincar com ele, mas eu preferi ficar sentado, observando. fiquei observando ele se divertindo e me questionando porque me censuro tanto por medo das opiniões alheias. ao mesmo tempo, também fui tomado por lembranças antigas, uma discreta nostalgia, como que um devaneio de um passado onde eu não fazia ideia de que estaria hoje, sentado, cheio de questões, relembrando e revivendo esses momentos de quando eu tinha dez, onze, doze anos – tempo, esse, onde não existia medo, insegurança, só uma vontade de agarrar o momento, ser feliz, esquecer. e depois disso, cheguei em casa e esquentei a sopa para jantar, que comi molhando pão francês. logo após me deitei no sofá e procurei em diversos canais algo que me entretece. não passava nada de interessante ou o mundo que de repente ficou desinteressante, pois senti uma leve angústia, um certo desconforto. peguei o livro de cecília meireles, que uma amiga me emprestou, e revirei as páginas, lendo palavras aqui, outra em baixo, outras na ponta. mas nada. não percebi… me deixei levar, afinal, não é o que venho fazendo? sem olhar, sem policiamentos. meu irmão aparece e senta em cima das minhas pernas. então eu vejo, eu percebo, eu sinto. aquele tédio, aquele cansaço, aquela vontade de não fazer nada, aquela súbita perda de identidade, aquele apagão, aquela falta. aquele. o Vazio. eu vejo, eu percebo, eu sinto. sinto? o que sinto? lembrei das palavras de uma monja que dizia que nos momentos de conflito, devemos parar e ver, perceber, sentir o momento. eu faço isso… paro, olho para isso e pulo, caio, mergulho dentro de mim. e a cada braçada eu não encontro terra firme para, enfim, respirar sossegado. ao meu redor, só há espaços negros – ou espaços brancos, não importa a cor, o que importa é que não há nada para se apoiar, ninguém para acenar, gritar, socorro!.
só há vazio. aquele.
o Vazio.
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