Eram 09 horas quando cheguei na Rua Humaitá, no Jardim Lola, bairro que fica em São Gonçalo do Amarante, região Metropolitana de Natal. É só atravessar a ponte de Igapó, atravessar o famoso gancho, no sentido Natal, e dobrar a primeira rua da fábrica da Coteminas. Rapidamente, vejo a galera se juntando para a sexta edição da Corrida de Carrinho de Rolimã, um evento tão importante quanto a Fórmula 1 que estava passando na televisão neste mesmo horário, no qual o inglês Lewis Hamilton garantiu mais uma vitória.
Diferente da F1, os carrinhos não precisam de gasolina, só um pequeno caixote, três rodinhas e um pedal para seguir a direção da via. Em tempos de League of Legends e redes sociais, parece inacreditável que as pessoas ainda brinquem com os antigões.
A corrida começou como uma brincadeira entre os moradores do Jardim Lola, mais precisamente na rua São João, porém o evento cresceu tanto que teve de mudar para a rua Humaitá, uma via um pouco mais larga que a primeira. “Aqui dá para acolher o pessoal que quer assistir a corrida tranquilamente, sem que haja algum tumulto”, explicou o Marcelo Oliveira, um dos organizadores do evento e foi um dos competidores da primeira edição do evento.
Marcelo, junto com Adeilson Huga e Deyvison Oliveira, formam um trio que com as motos ajuda monitorar toda a pista para garantir a segurança de quem vai descer a ladeira. “Hoje em dia a tecnologia está tomando conta de tudo e o rolimã traz uma nostalgia, me relembrando das brincadeiras que fazia quando era pequeno. Nossa infância era isso, brincar na rua, soltar pipa, brincar de biloca (bolinha de gude) e descer de carrinho de rolimã”, comentou Deyvison.
Já o Adeilson Huga ressaltou a importância do evento para a criançada do bairro. “Isso serve para estimular a criançada sair um pouco do computador, brincar na rua e tirar da marginalidade, evitando que faça uma besteira futuramente”.
Apesar de ter chegado na hora de que estava marcado, os moradores da rua ainda estavam preparando a transformação da via em um rolimódro (este nome eu acabei de inventar, certo ?). Os competidores estavam preparando as rodinhas, colocando água ou óleo de máquina para deslizar mais rápido.
Havia um pit stop para guardar os carrinhos, capacetes, cotoveleiras, luvas e dentre outros equipamentos; gente vendendo guloseimas (Cachaça, Boku’s, Churrasquinho…), cercas feitas por andaimes para abrigar a plateia que veio de todas as cidades vizinhas especialmente para assistir o certame, imprensa presente, paredão de som para animar a galera com Aldair Playboy e Grafith e um narrador para comentar todos os detalhes. Por fim, os competidores, alguns ousavam descer fantasiados nos 50 metros de ladeira com uma bela vista do Rio Potengi ao fundo.
Observação: Os capacetes eram cada um mais personalizado que o outro, inclusive tinha um chifrudo.
Por falar na plateia, ainda tinha gente que se arriscava em subir nas calçadas e muros, uma forma de montar um camarote improvisado. O Paulo Giovani veio ao bairro somente para ver como funciona a corrida. “Todo ano o pessoal fala bastante e dessa vez eu vim para saber se é divertido mesmo, vamos aqui prestigiar, trouxe até o meu sobrinho para que ele se interesse em competir no ano que vem.”.
São várias estratégias para descer, alguns começam devagar para depois “dá o gás” no final da ladeira, bem parecido com Usain Bolt no Atletismo. Ou começa com tudo para garantir a vitória. O Eduardo Garcia é um novato na competição e estava bastante ansioso. “Este é o meu primeiro ano aqui, estou super animado para ver como funciona. A brincadeira é belíssima e vou arrochar bastante”, garantiu.
Já Marco Antônio é um competidor mais experiente e está no certame desde a primeira edição. “Competir de carrinho de rolimã é muito bom, adrenalina pura. Minha estratégia é que as pessoas me chamem em 2018”, contou.
As crianças eram que estavam mais animadas para brincar de carrinho de rolimã. O Gabriel ficou em segundo lugar no ano passado e estava com bastante vontade de ganhar o prêmio de campeão. “Eu quero correr e ganhar este ano. Treinei muito na rua, é muita aventura e adrenalina na pista”. O novato Fábio está interessado em tirar este título do vice-campeão. “Vou empurrar bastante o carrinho para poder vencer”.
A competição é dividida em duas modalidades: infantil e adulto. As regras, no entanto, são as mesmas. De acordo com a organização, são escolhidas duplas para competir em uma partida de melhor de três. O competidor que vencer, vai para a próxima fase. Até sobrar uma única dupla, no qual é escolhido o vencedor. Praticamente, a segunda fase do Brasileirão, conhecido como Mata-Mata.
O vencedor ganhava um troféu feito pelo pessoal da comunidade e a alegria de voltar a brincar.
Assim como o futebol, a Corrida de Rolimã é uma caixinha de surpresa. As pessoas fazem de tudo para ganhar no campeonato, inclusive se jogar com o carrinho no final da pista para garantir a vitória, derrubar o coleguinha (alguns que arriscaram em fazer isso e foi automaticamente desclassificado) ou queimar a mão no asfalto quente para ganhar velocidade. Além disso, muitos pensam que aquele menino que saiu primeiro da pista vai ganhar muitas vezes erra o caminho e acaba tropeçando.
Sobre acidentes, é normal algum carrinho “capotar”, avançar a pista do concorrente ou bater no canteiro da rua. Mas, uma equipe da organização está sempre atenta prestando atenção nos mínimos detalhes, ajudando nos primeiros socorros, oferecendo lanche e até utilizando moto, como falamos anteriormente, para subir a ladeira para não cansar os competidores. Tudo bem preparado mesmo. Esperamos que tenha corrida de rolimã na Olimpíada de 2024 (Alô, Comitê Olímpico Internacional !)
Veja as fotos a seguir desta competição:
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