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Gagacabana com Frisson: assistindo Lady Gaga no clube da Ribeira

Enquanto Lady Gaga fazia história em Copacabana, a boate Frisson transformava a Ribeira num reduto pop único.

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Não é todo dia que Lady Gaga canta na Praia de Copacabana e, ao mesmo tempo, em plena Ribeira. Pelo menos, essa foi a impressão ao entrar na Frisson no último sábado. A boate, conhecida por ser um porto seguro LGBTQIAP+ no Centro Histórico de Natal, resolveu abrir suas portas gratuitamente até às 22h para exibir o show da Mother Monster.

Escolhemos a Frisson por motivos óbvios: onde mais teria uma plateia de clubbers e LGBTQIAP+ de todas as letras com leques estilizados e closes de todos os jeitos.

Aliás, o show estava previsto para começar às 22h e chegamos às 21h, como bons soldados de festivais que somos. Aquela galera que sabe que se você não chega antes do portão abrir, vai passar o evento inteiro vendo cotovelos e backs of heads.

Primeiro passo? Fomos direto ao bar. O primeiro gin Frisson desceu suave, achamos que ia só curtir e parar. Mas, veio o segundo…O terceiro…Parei, porque ia ficar bêbada e falida. Mas, bebam, isto é muito bom.

Quando o show começou, a Frisson virou o próprio Gagacabana (um dos apelidos que deram para tour dos que não pegaram ponte aérea para o Rio.

Dois caminhos: o mezanino, para a visão privilegiada e gritinhos coordenados; ou a pista, para extravasar suor, dança e memes em forma de movimento. Fiquei no primeiro momento mezanino — o campo de concentração pop da noite, com gente arriscando em ficar no parapente.

A cada hit, era um salto coletivo. A cada agudo da Gaga, um “ARTISTA!” gritado com o pulmão de quem já sobreviveu a 12 edições da Parada LGBTQIAP+ de Natal.

Bordões enquanto via Lady Gaga na Frisson

E os memes? A cada dois segundos, alguém imitava Lola de Beleza Fatal chorando e gritando “ela veio sim!”, o que, sejamos honestos. Sem contar a tradicional batida de leque, a cada pedrada que ela tocou. Mesmo quem não conhece toda a discografia, iria curtir o set-list.

No meio dessa catarse coletiva, havia um fenômeno antropológico: para cada 10 gays, 1 hétero perdido. Os coitados olhavam como se estivessem assistindo “2001: Uma Odisseia no Espaço” pela primeira vez, só que na RIbeira. Aquela cara de quem ligou na Cazé TV e caiu por engano na final de Rupaul’s Drag Race.

E o show, o que achou?

Do outro lado da tela, Gaga entregava tudo: voz, drama, piano, sapato estranho e cara molhada de suor e emoção. A gente assistia em êxtase, mas com aquele leve incômodo de saber que, se estivesse no Rio, o celular já teria caído na areia ou sido engolido por alguma onda de gente emocionada. Entre uma música e outra, rolavam comentários no WhatsApp com amigas: “Tá tudo lindo. Mas, estou com inveja de Henrique que foi.”

A noite passou rápido. Aquelas duas horas que duraram um segundo e meio no tempo do coração.

Ribeira agitada neste sábado

A Ribeira, aliás, estava numa tríplice jornada cultural: show de Esteban Tavares no Ateliê, samba do Rosas no Cartola e, claro, Gaga na parede da Frisson. Mas, convenhamos, era difícil competir com a diva de “Rain on Me”. E a Frisson lotada era a prova.

Depois do show, desci com o gosto da última música ainda na garganta. Fomos lanchar a comida de rua — a verdadeira alta gastronomia de quem sobrevive à noite natalense — e dormi com a alma lavada de pop.

Não vi Gaga ao vivo, mas vi algo talvez mais bonito: vi Natal, por um instante, ser palco de um espetáculo coletivo. Uma rave de amor, de orgulho, de liberdade e de gente que dança até com as sombras da parede.

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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