A gente sabe que o jornalista faz loucuras em prol de uma boa pauta. Às vezes, uma simples aventura fora da redação dos jornais pode virar notícia. Este foi o caso do jornalista Renato Batista. Tudo começou em 2019, quando ele viajou a pé por 12 mil quilômetros até a Caracas para falar da crise política.
A viagem durou cerca de dois meses. Na volta, no entanto, ele andava de ônibus ou pedia carona, além de ficar hospedados na casa dos moradores, onde estava disposto em ouvir a história deles e não o que a imprensa dizia.
Pela editora Caracas, ele lançou o livro “Tatuagem de Caracas”, romance de auto ficção no qual narra o “mochilão.” Mas, ele utiliza um personagem para falar de sua história.
O cotidiano é narrado pelo advogado Chico. Trata-se de um pernambucano radicado em Natal que, em num momento em que a Venezuela estava diariamente no noticiário nacional, decide ir para a fronteira ajudar na recepção dos refugiados. Ao planejar a viagem, ele decide que também quer entrar no país e conhecer de perto a sua realidade.
Primeira coisa que presenciou na Venezuela
Na capital venezuelana, Batista para uma manifestação da qual pouco sabia e acabou dando de cara com o então presidente do Parlamento, Juan Guaidó, discursando e autoproclamando-se presidente interino do país. Fato histórico e retratado no livro, que mistura realidade e ficção.
A história também se volta para as lembranças da vida do protagonista.
O foco maior do romance, no entanto, é a narrativa de viagem. Por meio dessa experiência, é possível conhecer, por exemplo, como vive uma família de origem indígena e pobre. Mais precisamente no interior do país. Do mesmo modo, também se tem instantâneos da vida. Através da visão da classe média. Chega-se até mesmo a presenciar uma festa da elite caraquenha. Eles festejavam uma abundância inexistente nos supermercados do país, que sofrem com o desabastecimento frequente de quase tudo.
Todo esse périplo não é livre de dificuldades para o advogado Chico, que vão de episódios de racismo mal disfarçado a casos de truculência e violência policial. O outro lado também está presente. Ele conhece pessoas interessantes, vê-se em comemorações animadas em um boteco ou no meio do mato e recebe solidariedade genuína em momentos de aperto. Para além disso, a paisagem natural sempre lhe oferece momentos de beleza, seja admirando o Lago Maracaibo – o maior da América do Sul, com seus 13.210 Km² – ou observando uma Caracas que parece tranquila de cima dos mais de 2.500 metros do portentoso Cerro Ávila.
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