“Não me acho melhor do que ninguém. Só não me acho pior.” Essa é uma das frases mais impactantes ditas por Jéssica, uma das protagonistas do filme Que Horas Ela Volta? A obra foi lançada em 2015, e cativou fãs e crítica do mundo todo. Eu sou uma delas e amo essa frase.
Jéssica era a filha de Val, empregada doméstica que largou a maternidade para cuidar de um menino rico de São Paulo. A vida muda quando sua filha se muda para tentar arquitetura na Universidade de São Paulo (USP).
Durante todo o filme, todos duvidaram da jovem vinda do interior de Pernambuco e mãe muito cedo, com xenofobias sutis de perceber e um preconceito passivo-agressivo. Mas, reconhecer as suas habilidades não são sinônimo de arrogância.
Assim como Jéssica, tive que matar o leão por dia e esforçar para comprovar que posso conquistar os meus sonhos. Antes de ser mestranda, eu ouvi que não iria nem passar no primeiro vestibular por ser ansiosa. Hoje, eu sigo a mesma filosofia da personagem.
Hoje completo 32 anos, cheios de saúde física, uma vez que apresento ter um corpo gordo tenho taxas melhor que muito magricela. Mas, a mental sempre está apresentando problemas, visto que são mais de 20 anos lutando do que seria a depressão e só descobri em 2019 que era TPB (pesquisa no Google a sigla). Mas, existe a origem. No entanto, estou passando por novos problemas, principalmente vivendo episódios recentes de psicofobia e acordei pensando neste filme, que fala sobre a moral dos brasileiros.
Este tipo de agressão moral já é antigo e doloroso, essas micro-agressões estão gatilhando o meu passado. Posso não ser boa em conversar informalmente, porém sei das minhas habilidades e talentos com a escrita.
Entretanto, após 13 anos, ainda vejo que muitas pessoas duvidam do que faço somente pelo meu jeito de agir.
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Cresci ouvindo comentários como a “doidinha”, “maluquinha”, “imaginação fértil”, ou “ansiosa” nos espaços em comum convívio. Ora, alguns achavam legal, outros renegavam. Quando vinha o segundo adjetivo, a comunicação era muito violenta.
Deixar de almoçar comigo, apelidos jocosos, me evitar a fazer trabalhos escolares, cortar conversa quando me enrolava para dizer ou algo do tipo. Por muito tempo, eu tentava ocultar isso e enterrar dentro de mim. Claro que muitas vezes isto não deu certo. No vestibular, enquanto estudava, diziam que como daria certo ser jornalista se odiava apresentar em público ou aprender escrever formalmente, como se todo comunicador tivesse a obrigação de falar eloquente o tempo todo.
Era horrível ouvir “sua ansiedade vai atrapalhar a tua vida”, como se fosse um conselho. Na verdade, era uma forma esdrúxula de dizer você não sabe se comportar em sociedade, você é o problema.
Hoje é meu aniversário e me sinto cada vez mais perdida socialmente, no qual estamos em um mundo que deturpam ideias filosóficas, retornam pensamentos que nunca deveriam existir mais (ex: nazifascismo) e sem paciência em ouvir o outro.
Entendo que as pessoas vão ao extremo e eu não quero isso. Mas também, eu não quero me enterrar ou mascarar o que eu sou. Como a Jéssica fez durante o filme.
Não sou o problema, um recado.
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