Mais de 26 mil mulheres morreram dentro de casa entre os anos de 2000 e 2022, um quantitativo que equivale a cerca de três mortes por dia. Essas mortes não foram qualquer uma, mas o feminicídio. Este crime entrou no código penal em 2015. Dados mostram que 60% dos feminicídios tem a autoria de companheiros e ex-companheiros.
Os números têm a origem do Sistema de Informação Sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/DATASUS), que compila os dados de óbitos no país, e do Atlas da Violência, operado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O Nordeste é a terceira região com mais casos, perdendo para o Centro-Oeste e Norte, conforme apresenta no gráfico abaixo. Além disso, essas regiões apresentam dados maior que a média nacional.
Em relação às diferenças entre as regiões, Karina aponta três possíveis causas: faixa etária, já que mortes violentas ocorrem mais em populações jovens e o Sul-Sudeste do país possui estrutura etária mais envelhecida; processo de disseminação e interiorização da violência para as regiões Norte e Nordeste, um fator contribuinte para a violência de gênero; e maior presença de serviços de proteção a mulheres no Sul, comparado ao Norte.
Motivo da pesquisa
Segundo a epidemiologista, é necessário que o Brasil tenha um maior orçamento para políticas de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher, além de mais Delegacias da Mulher (DEAM). “Também são necessárias atividades educativas sobre igualdade de gênero em todos os níveis educacionais”, completa a professora.
Karina reforça que o estudo é uma maneira de trazer mais atenção ao problema do homicídio e fornecer evidências que podem contribuir para medidas de enfrentamento ao quadro. “Precisamos visibilizar essa realidade, mostrar que as mulheres brasileiras são assassinadas dentro das suas casas. A maioria desses crimes elas são esfaqueadas, estranguladas, enforcadas ou asfixiadas”, complementa a pesquisadora.
Justificativa pelas mortes
A pesquisadora acrescenta que o alto número de homicídios de mulheres no Brasil se deve à cultura conservadora e patriarcal que predomina no país. “Os homens aprendem a dominar e oprimir as mulheres. Além disso, lhe incentivam a usar a força, inclusive letal, para fazer valer a sua vontade de dominação”, afirma. A professora também aponta que, apesar da existência de legislações protetivas, a ação do Estado ainda é diminuta.
A análise de dados faz parte do Programa de Pós-Graduação em Demografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGDem/UFRN). Logo, o argumento de que muitas mulheres morrem dentro de suas casas não é senso comum.
Coordenação da pesquisa
O trabalho tem a coordenação da professora Karina Cardoso Meira (PPGDem) e em parceria com Jordana Cristina de Jesus (PPGDem), Eder Samuel Oliveira Dantas (Hospital Onofre Lopes – Huol/UFRN), Raphael Mendonça Guimarães (Escola Nacional de Saúde Pública Fiocruz) e Rafael Tavares Jomar (Instituto Nacional de Câncer).