Nota da editora: O Brechando se lamentou por não ter assistido a estreia de Bacurau na comunidade da Barra, em Parelhas, conforme falamos neste texto do Brechando. Porém, a jornalista Bethise Cabral atravessou o Seridó Potiguar, que ela conhece muito bem (ela é de Currais Novos), para ver o lançamento do filme, onde comentou a felicidade de conhecer a comunidade, ver os figurantes e a sua observação sobre o filme. Agora, deixo o Bethise comentar a seguir:
O longa dos diretores pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles teve como locação o povoado da Barra, comunidade de apenas 100 habitantes na zona rural do munícipio de Parelhas, no Rio Grande do Norte. Durante as filmagens, eles sentenciaram uma promessa: voltar com o filme pronto para uma exibição especial. E eles voltaram, em uma linda cerimônia!
No último dia 22 de agosto, Bacurau retornou para casa. Em uma parceria com o Governo do Estado do RN, a Vitrine Filmes – distribuidora do filme – promoveu uma pré-estreia especial sob o céu estrelado do Seridó, com presença de equipe e grande parte do elenco, incluindo a Sônia Braga. Os preparativos começaram desde o início do dia, onde era esperado mais de mil pessoas para assistir em um grande telão.
Testemunhar a exibição para a comunidade, observar as reações do público toda vez que um rosto conhecido surgia na tela grande foi uma experiência única. Sentir a felicidade de seu Antônio afirmando que “agora sou um artista de cinema! Tu, viu?” aqueceu o coração e me deu forças para seguir pois, como cantou Vandré, ainda há muito pra se fazer, muito pra se salvar.
Veja um pouco de como foi a festa de lançamento em Parelhas:
Mas, o que achei de ver o filme em Parelhas? Veja minha observação sobre o filme a seguir.
Quando a ideia de Bacurau nasceu o Brasil ainda era um país que se orgulhava de estar enfrentando a crise de 2008 com a dignidade de uma nação que sabe que tem um futuro pela frente. Acontecia o Festival de Brasília de 2009 e os diretores, à época, estreavam o curta-metragem Recife Frio na premiação. O incômodo ao perceber como o homem simples era retratado pelas produções no festival foi a centelha que deu início a trajetória premiada de 2019.
Bacurau chega ao público dez anos depois, representando essa alegoria perturbadora do caos em que nos transformamos. Os diretores avisam logo no início que a história se passa num país de daqui alguns anos no qual, perceberemos com o desenrolar do enredo, a resistência foi radicalizada porque é preciso.
Filmado entre os meses de março e maio de 2018 no Seridó do Rio Grande do Norte, o filme nos coloca frente a frente com nosso contexto histórico atual, atiçado até a última potência por uma classe média que pensou ter sido alçada à condição de elite quando, na verdade, apenas alcançou as mesmas oportunidades de consumo.
Aliada ao poder político e estrangeiro, tal elite se coloca em relação de superioridade, quando na verdade não passa de um instrumento de manipulação. Os personagens vindos do sudeste para integrar o grupo de “turistas” que visitam Bacurau retratam brilhantemente essa metáfora.
Bacurau é uma obra de arte que exalta a resistência popular, escancarando opressões, descasos e injustiças. A determinação, valentia, violência, senso de coletividade e pertencimento passeiam durante os 131 minutos do longa, nos fazendo encarar nossa realidade na tela grande e sala escura com dor, mas também com orgulho.
Deixe um comentário