Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) patentearam em 2025 uma fórmula que ajuda na produção de soros contra venenos de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões, lacraias, aranhas, abelhas, lagartas, vespas, sapos, rãs e insetos. O Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa é professor do Departamento de Farmácia e um dos autores da descoberta.
Foto: Cícero Oliveira/Agecom.
O mesmo alegou que uma principais vantagens da invenção é a redução dos efeitos colaterais em comparação aos imunoadjuvantes tradicionais. Como resultado, essa eficácia é alcançada graças à utilização de nanopartículas de quitosana, um produto biocompatível e biodegradável.
“A formulação desenvolvida pode salvar diretamente vidas humanas e de animais vítimas de acidentes com animais peçonhentos, proporcionando um tratamento eficaz por meio de um soro inédito, com alta aplicabilidade terapêutica, produzido a partir da composição farmacêutica patenteada”, salienta o professor do Departamento de Farmácia da UFRN.
O ‘novo soro’ é fruto da tese de Karla Samara Rocha Soares, pesquisa vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Ela cita caprinos e equinos como exemplos de utilização da nova tecnologia na área veterinária. Ela identifica que o novo imunoadjuvante pode ser usado também na produção de vacinas, com potencial de aplicação em tratamentos para a população.
Também utilizado em zonas urbanas
Os soros contra animais peçonhentos são importantes porque evitam sequelas físicas, neurológicas e mortes causadas pelo veneno. Apesar dos acidentes com animais peçonhentos serem mais comuns em áreas rurais, não é raro acontecer também em ambientes urbanos, principalmente com aranhas e escorpiões, que se proliferam nestes locais devido ao desequilíbrio ecológico. Em 2023, o Brasil registrou 341.806 acidentes envolvendo animais peçonhentos, um crescimento superior a 16% em relação ao ano anterior.
Patenteamento
O processo de pedido de patente pode ser trabalhoso e até demorado. Foi esse o caso desta carta, depositada em 2012. Contudo, isso não significa que, uma vez registrada a patente, essa proteção legal seja válida para sempre. Essa ‘validade’, atualmente, é de 20 anos ou de 15 anos contados a partir da data do depósito, a depender da modalidade: se patente de invenção ou caso de modelo de utilidade. De maneira simplificada, a primeira é o tipo de patente que protege a atividade inventiva, enquanto a segunda protege objetos de uso industrial.
Para receber o documento, significa que a pesquisa se submeteu a avaliações que, no fim, buscam averiguar se ela atendia aos três critérios de patenteamento: novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Ou seja, uma invenção deve ser nova, não podendo existir em nenhum outro lugar do mundo. Além disso, deve ser inventiva, ou seja, o processo de criação deve envolver engenhosidade e não ser óbvio para um técnico no assunto. Por fim, deve ser possível replicá-la em escala industrial.
Com a agora sexta concessão, Matheus Pedrosa entra no grupo de cinco cientistas com mais cartas patentes dentro da UFRN. Para ele, o processo de patenteamento valida e formaliza o conhecimento, contribuindo para o avanço do estado da arte ao tornar as informações da invenção acessíveis à comunidade científica.
“O patenteamento também impulsiona o investimento em pesquisa e desenvolvimento, facilita parcerias industriais e atrai financiamento. Ao proteger as inovações, o processo pode promover a transferência de tecnologia, fomentar colaborações acadêmicas e industriais, além de tornar a instituição mais competitiva no cenário internacional”, defende.
Atuações no Laboratório
No Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica (Tecbiofar), onde os experimentos ocorreram, há uma paixão intensa em aliar a teoria com a prática. Como resultado, novas formulações surgem, utilizando conhecimentos da farmácia e ferramentas advindas da ‘tecnologia nano’. “Novas criações estão sendo desenvolvidas contendo componentes isolados das peçonhas, com comprovada atividade farmacológica. Essas formulações estão sendo avaliadas para atividades antimicrobiana, antifúngica e antitumoral. Especificamente, no caso da peçonha do escorpião Tityus stigmurus, um estudo recente revelou um conjunto de toxinas com elevado potencial biotecnológico”, pontua Matheus Pedrosa.
Sem promessas ilusórias, a análise da pesquisa citada por Pedros identificou substâncias com atividades farmacológicas promissoras, como um peptídeo hipotensivo (TistH), que tem mostrado potencial para potencializar o efeito da bradicinina (capaz de reduzir a pressão arterial), além de apresentar atividade antifúngica.
Sem deixar que o tempo pare, Pedrosa salienta que a tecnologia patenteada está em processo de otimização e testes para liberação modificada, ajustada a necessidades específicas, e eficácia terapêutica, com o objetivo de avançar para ensaios clínicos e possíveis aplicações em tratamentos para infecções e doenças tropicais. Sem alarde, faz parte do trabalho dos cientistas o avanço nos estudos pré-clínicos, cujos resultados laboratoriais estão bem promissores.
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