A obra de Luzia Dantas foi dedicada, em boa parte às imagens sacras, que lhe rendeu o título de ‘santeira’, apesar de outros personagens típicos do Nordeste também fizerem parte de seu rico acervo. Além disso, a artesã seridoense era contemplada com o Registro do Patrimônio Vivo (RPV), uma lei criada no estado para auxiliar artistas populares e mestres do folclore para que possam manter sua produção.
O detalhismo de Luzia Dantas e sua franca inspiração no barroco foram fatos que tornaram memoráveis a obra da artista. Porém, a sua história não é amplamente divulgada.
(Foto acima: Cícero Oliveira)
Um pouco de sua biografia
Nasceu no Distrito de Morro Velho, mais precisamente no sítio Sítio Cachoeira, que fica no município de São Vicente, RN, em 1943. Como ela começou a esculpir?
De origem pobre, sem instrução, Luzia começou a esculpir em madeira desde criança com a finalidade de criar os seus próprios brinquedos. Em entrevista aos jornais, ela dizia que a inspiração pode ter vindo dos bonecos que a mãe fazia com cascas de melancia.
E quando recebeu sua primeira encomenda, não parou mais. Desde cedo foi morar em Currais Novos, de onde nunca saiu. O que sai dos limites onde vive são os seus trabalhos: já participou de dezenas de mostra coletivas pelo Brasil e tem peças em acervos nacionais e internacionais.
Luzia Dantas faz suas esculturas com madeira da umburana, pequena árvore da caatinga. São peças que
retratam tipos populares, casa de farinha, conjuntos de retirantes da seca, carros de boi e imagens sacras,
preferencialmente Santa Luzia e São Francisco.
Em 1999, ela foi uma das mulheres que participou da coletânea “A Mulher Potiguar – Cinco Séculos de Presença”, onde relatou a biografia de diferentes mulheres que mudaram a vida do Rio Grande do Norte. À medida que os anos passaram, as encomendas cresciam. Como resultado, ela teve que estabelecer prazos de até trinta dias para atender os clientes de todo o país.
Quem a descobriu
Os pesquisadores Veríssimo de Melo e Câmara Cascudo a conheceram ainda nos anos 1960, com direito a citação em seus livros. No final da década de 1970, participou das pesquisas do programa Bolsa Trabalho Arte. Volta no ano 2000, na pesquisa “Santeiros e Devoções”, da professora Wani Pereira e no projeto Vernáculo, de 2012.
Suas obras formam uma das mais antigas coleções no acervo do Museu Câmara Cascudo (MCC). Além disso, são 25 obras, incorporadas entre os anos 1960 até a primeira década dos anos 2000. Os trabalhos retratam na madeira, o cotidiano do sertanejo.
Encantamento
Faleceu em fevereiro de 2022, aos 85 anos, em Currais Novos, cidade onde preferiu, portanto, viver a vida toda, recebendo homenagem da prefeitura da cidade pelo reconhecimento de sua arte, além de mensagens de condolências de outras cidades potiguares e do Governo do RN.
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