Brechando/Cidades / O que rolou na Marcha para Satanás

O que rolou na Marcha para Satanás

A Marcha para Satanás, apesar do nome, não era uma reunião de satanistas/pagãos para celebrar o tinhoso. O evento aconteceu neste domingo (17) em Natal e em outras cidades brasileiras. Apesar do nome ser uma tiração de sarro da “Marcha para Jesus”, o grupo queria criticar as atitudes dos povos cristãos, principalmente dos evangélicos, na…

Compartilhe:

A Marcha para Satanás, apesar do nome, não era uma reunião de satanistas/pagãos para celebrar o tinhoso. O evento aconteceu neste domingo (17) em Natal e em outras cidades brasileiras. Apesar do nome ser uma tiração de sarro da “Marcha para Jesus”, o grupo queria criticar as atitudes dos povos cristãos, principalmente dos evangélicos, na Câmara dos Deputados, cuja bancada formada por pastores e frequentadores da igreja conhecidos pelos projetos de leis que não estão relacionados ao estado laico.

Desde que surgiu a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, o estado é laico. Ou seja, não é subordinado a nenhuma religião. Na teoria, pois na prática ainda temos uma forte presença da religião.

Uma das organizadoras do evento foi Enelyne Maia, que juntou com mais dois amigos, para organizar o evento na cidade.  A ideia veio quando o noivo mostrou o evento nacional e foi assim que surgiu a ideia de levar para a cidade.

“Diferente do que se pensa, o evento não é um evento (sic) de adoração ao diabo, é um termo para chamar a atenção contra a teocratização do Congresso Nacional, contra a interferência das igrejas e bancadas cristãs nos âmbitos políticos e privados, a favor do respeito da diversidade religiosa e do livre pensamento”, disse a jovem.

Protesto critica a falta de respeito ao estado laico (Fotos: Lara Paiva)
Protesto critica a falta de respeito ao estado laico (Fotos: Lara Paiva)

As reivindicações do grupo são: cobrar tributos para as Igrejas e o fim da limitação da liberdade de expressão do professor em sala de aula e do tratamento de temas como Teoria da Evolução, Política e Gênero.

Além disso, eles pedem que acabem com a intervenção de grupos religiosos no âmbito do STF (Supremo Tribunal Federal); as modificações na Lei de Atendimento de Vítimas de Violência Sexual; e o impedimento da discussão de temas como aborto e eutanásia.

Eles também desejam o fim de leis que afrontem os direitos da mulher, da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), afro-descendentes, religiões diferentes (umbanda, candomblé, muçulmano…) e indígenas.

Enelyne Maia é uma das organizadoras do evento (Fotos: Lara Paiva)
Enelyne Maia é uma das organizadoras do evento (Fotos: Lara Paiva)

Apesar de ter sido bastante criticada por grupos religiosos, principalmente os evangélicos nas redes sociais. Enelyne, que é ateia e filha de pais agnósticos, continuou a ideia, apesar do receio do pai e do noivo.

Ao ser questionada o porquê da palavra “Satanás” ainda é um tabu na sociedade, ela prontamente respondeu: “A sociedade utiliza esta palavra como uma síntese de tudo que é ruim, não importa mais o sentido. Mesmo as pessoas. Mesmo a maioria não praticando o que a bíblia fala, eles apenas focam na entidade diabólica como argumento”.

O protesto começou prontamente às 16 horas, com pessoas se concentrando na parada do Circular, que fica próximo do shopping Via Direta e de uma igreja evangélica. Os participantes eram jovens entre 15 a 25 anos. Ao mesmo tempo, a polícia, os pastores e fiéis da igreja estavam na calçada, com olhares curiosos.

Durante a preparação para caminhar nas ruas de Natal, um trio de evangélicos formado por adolescentes e um adulto começaram a entregar panfletos com salmos, cânticos e passagens do evangelho. Não houveram brigas, pelo contrário, os diálogos eram respeitosos. Alguns pastores chegaram oferecer água para os jovens e chegaram a conversar sobre o motivo real do protesto.

Quando eu convidei os rapazes cristãos para entrevistar, eles ficaram um pouco de receio, mas toparam.  Os nomes deles eram Erick Hebert, Ellen Christina e Diego Francisco. Os três moravam no Alto da Torre, uma comunidade da zona Norte, que fica próximo da Redinha.

“Esse protesto é o caminho do inferno, pois a palavra de Deus diz: ‘Conhecereis a palavra e a verdade nos libertarás. A verdade é isso aqui (mostra a Bíblia). Me tornei evangélica, pois minha mãe era drogada e nunca cheguei a conhecer o meu pai, ele sumiu. Hoje, minha vida é diferente e melhor”, disse a Ellen, que tem apenas 15 anos.

Diego Francisco, prontamente, disse que a intenção do grupo é procurar um diálogo com o pessoal da marcha. “A intenção não é de confrontar, pois cada um tem a sua intenção na sua vida”.

Já o Erick Hebert era um garoto inconsequente e vivia com amizades erradas antes de entrar na igreja. Hoje, ele ajuda outros meninos da sua idade a seguir o mesmo caminho que o dele. “A gente não quer enfrentar, pois cada um tem o seu livre arbítrio. Cada um escolhe o seu lado”, disse.

O trio Ellen Christina, Erick Hebert e Diego Francisco
O trio Ellen Christina, Erick Hebert e Diego Francisco

Após conversar com os jovens evangélicos, eu fui atrás dos participantes da marcha. Apesar da crítica e de alguns falarem que isso era “zoeira”, eles realmente tinham intenção de querer o respeito dos religiosos por adquirir uma outra religião, escutar música de heavy metal e rock, usar roupas que desejam, ter estilo próprio e dentre outras coisas.

A jovem Ana Eduarda vem de uma família muçulmana, resolveu participar do protesto e disse que é duramente criticada pelas pessoas. “Todo mundo pensa que a gente é terrorista. Eu estudava numa escola pública e uma vez o aluno perguntou para mim de que horas eu iria soltar uma bomba no colégio. Uma vez um professor, durante o desfile de sete de setembro, perguntou se iria fazer um atentado. Fiquei muito irritada”, comentou.

Ed Wang foi uma das pessoas que resolveu fazer uma performance durante o protesto e realizou duras críticas à comunidade evangélica: “A gente sabe quem pode nos descriminar é o próprio Deus que está lá em cima. Muitos fiéis julgam bastante as pessoas, isto é pecado. Quem são eles para dizer que eu vou para o inferno? Eles não são Deus”.

Edward (à esquerda) junto com os manifestantes performáticos
Ed Wang (à esquerda) junto com os manifestantes performáticos

Com a camiseta  da banda de metal extremo Gorgoroth, o jovem Phillip Gaspar veio a Natal para participar exclusivamente da Marcha para Satanás. “Rapaz, eu queria dar uma força para galera e eu curto bastante Black Metal para comparecer. Levei a minha irmã e o marido dela. Nós somos de Macaíba. Minha família sabe que estou aqui e aceitam”.

O metaleiro Lucas Andrade, que vem de uma família evangélica, conta o porquê de participar do protesto. “Qualquer pessoa, independente do seu credo, deve se manifestar. Aqui é o lugar ideal”.

A partir das 16h30, os manifestantes, com escolta da polícia e de um fusca pintado com um pentagrama, seguiram em marcha até a Igreja Universal do Reino de Deus, que fica na Avenida Senador Salgado Filho.  A caminhada foi pacífica e não foi registrada alguma ocorrência de grande relevância.

Durante o trajeto, eles começaram a criticar pastores famosos que circulam na mídia, levantaram bandeiras com pentagrama, cantaram músicas e dentre outras ações.

Confira as fotos (para ampliar é só clicar nas imagens) do protesto a seguir:

Comentários

Uma resposta para “O que rolou na Marcha para Satanás”

  1. Juh

    Pagãos não celebram o tinhoso ;P Sou pagã.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

Clique aqui para saber mais.

Arquivos

Chuva de palavras

Alecrim Arte banda Brechando Brechando Vlog Campus Party carnaval Cidade Cidade Alta Cidades cinema Covid-19 Cultura curiosidades Dosol entrevista Evento eventos Exposição feminismo Festival filme filmes Historia lgbt livro Mada mossoró Mudanças Mulher Música Natal pesquisa Peça potiguar projeto Quarentena Ribeira Rio Grande do Norte RN Rolé Show Teatro UFRN ônibus

toggle icon