Lendo os poemas de Regina (sem olhar a orelha do livro e a parte de trás) a gente pensa que é uma pessoa com mais de 20 anos. Mas, muita gente cai para trás quando descobre que ela tem apenas 17 anos e já está em seu terceiro livro, que será lançado nesta semana em Natal. A jovem fala de amor, sentimentos, frustrações, sobre ser mulher, angústias e dentre outras coisas.
Nosso bate-papo diferentão foi um misto de terapia com informalidade, uma vez que eu e a entrevistada já trabalhamos juntas n’O Chaplin. Temos muita coisa em comum: falamos o que pensamos. Regina, apesar de jovem, ela não guarda as coisas, a sua caixinha de pensamentos está sempre aberta.
“Já teve muita manchete me chamando de revelação da poesia nacional. Eu gosto de ser o mascote, mesmo. Sou nova. Tenho consciência disso. E estudo muito, muito mesmo. Filosofia, História da Arte, Semiótica, Cinema… Não apenas em cursos, mas em pesquisas orientadas, em experiências, às vezes até de maneira autodidata. Mas pesquiso e leio muita poesia também. E tem que ler mesmo. Quem quiser puxar minha orelha, que o faça para eu ler mais, ou para refletir mais sobre algum verso, algum poeta, para repensar alguma posição minha, pode puxar”.
A poesia é seu diário, mas também ela quer procurar para se aperfeiçoar com a finalidade de fazer o melhor possível. Portanto, apesar das conquistas, ela não considera a melhor poeta do mundo e muito menos tem uma autoestima no estilo Susana Vieira. “Jamais (risos)”, disse Regina rindo quando perguntei sobre ego e autoestima usando a atriz citada como parâmetro.
Mas também isso não quer dizer que gosta de ouvir hater. “Só não admito as abordagens que vem com “você é mulher, não deveria escrever sobre sexo”, “você é muito nova para escrever assim”, etc.”.
Foi aí que questionei: “Mas, os seus pais pensam quando ler os seus poemas de sexo. Eles se preocupam?”. Ela respondeu: “Não, eles são normais. Pode colocar esta resposta bem arisca (risos)”.
O lançamento do “Pirueta”, seu mais novo trabalho, fecha a programação da Semana da Poesia da Prefeitura do Natal. Será na próxima quinta-feira (16), na galeria Newton Navarro, na Fundação Capitania das Artes (Funcarte), na Avenida Câmara Cascudo, no bairro da Ribeira.
O livro reúne poemas que dialogam sobre o amor visto de diversas maneiras. Mais que uma antologia de poemas de amor, o livro é sobre uma fase difícil e bonita, que, de acordo com um dos versos, é sobre aprender a “dizer amor quem diz festa”, mas também sobre ler o mundo, autoconhecimento e perda.
Nos últimos dois anos, Regina passou por uma explosão de mudanças, a avó com que tinha muito apego deixou a vida terrena, terminou o namoro de dois anos, mudou de escola e muitas amizades deixaram de existir. Então, ela passou por um mais novo período de desconstrução, no qual teve atravessar de uma extremidade a outra fazendo uma manobra.
“Os poemas foram escritos numa fase de muita queda e muita dança. Muita gente indo embora, muita gente chegando. Eu vi a modificação dos espaços: camas vazias, novos tênis chegando à beira da cama. Uma pirueta requer coragem e malemolência. A queda e a dança são as possibilidades ali contidas – e se completam.”, disse.
Pirueta tem edição de 80 páginas através do selo DoBurro (SP) do poeta potigua/pernambucano/paulista Daniel Minchoni. O livro tem duas opções de capa (uma laranja, outra roxa) e pode ser adquirido ao preço de R$ 30 cada. Confira as capas a seguir:
A poeta descreve que o Pirueta é o registro do amor chegando até mim com uma máscara de estripulia. Ela ainda diz que os poemas acabam viajando junto nesse processo de vazio, que também é de preenchimento. O livro é sobre amar dançando e caindo: no ponto mais bonito da pirueta e também na queda.
Entretanto, o passado não pode apagar, mas ao mesmo tempo pode se transformar em poesia.
“Na verdade, eu tive que desmistificar algumas coisas pra mim mesma. Não acredito que pessoas se substituam. Não acredito em “superação” de tal acontecimento? A superação real, pra mim, é conseguir olhar com outros olhos. Eu sinto a falta da minha avó todos os os dias da minha vida. Do meu avô, idem. E de muitas outras pessoas. Outro dia fui dar uma palestra e uma das pessoas na plateia disse que me viu no velório da minha avó, e que eu era a que mais chorava, não conseguia sair de perto… Eu acho que não se supera esse tipo de coisa. Os amores mais lindos da nossa vida, quem esteve ao nosso lado, quem viu a gente aprendendo a andar, quem nos fez muito feliz. Não se deixa pra trás. Não se esquece. Isso fica marcado na gente e faz parte do que nós somos.”.
Além de Pirueta, ela é autora dos livros “Das vezes que morri em você” (2013) e “Por isso eu amo em azul intenso” (2015), pela editora Jovens Escribas. Ainda é estudante de Multimídia no IFRN, criadora do Sarau Iapois, Poesia! e escreve para sites como o O Chaplin e Apartamento 702. Seus poemas figuram em museus, filmes, camisetas, antologias e revistas pelo país.
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