Um dos momentos mais interessantes na Segunda Guerra Mundial foi a participação do Brasil. Apesar de parecer uma piada, os brasileiros tiveram uma suma importância nas últimas batalhas, no ano de 1945, no qual eles ajudaram bastante os americanos, ingleses e russos, inclusive no dia D quando Adolf Hitler (chanceler da Alemanha) e seus comparsas foram derrotados. O pessoal que participou deste momento estavam inclusos na Força Expedicionária Brasileira, mas conhecido pela sigla FEB.
Foi uma força militar aero-terrestre constituída na sua totalidade por 25.834 homens e mulheres. Era formada por uma divisão de infantaria completa (também batizada como 1ª DIE, 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária), uma esquadrilha de reconhecimento, e um esquadrão de caças. Seu lema de campanha “A cobra está fumando”, era uma alusão irônica ao que se afirmava à época de sua formação, que seria “Mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa”. A logo literalmente era uma cobra fumando, conforme a imagem a seguir:
Mas por que diabos o Brasil participou da Guerra? No início, o Brasil se definia como um país neutro em relação aos Aliados x Eixo.as bases no Nordeste foram implantadas ainda em 1941 em troca da siderúrgica de Volta Redonda. Em 1942, o Brasil declara guerra à Alemanha. Em 1943, ocorre a Conferência do Potengi, quando ficou decidido o envio de efetivo da FEB à guerra, conforme falamos neste texto aqui.
Neste período, submarinos ítalo-alemães na costa litorânea brasileira, numa ofensiva idealizada pelo próprio Adolf Hitler, que visava isolar o Reino Unido, impedindo-o de receber os suprimentos (equipamentos, armas e matéria-prima) exportados do continente americano. Além disso, tinha também por objetivo a ofensiva submarina do Eixo em águas brasileiras intimidar o governo do Brasil a se manter na neutralidade. Isto foi a gota d’água para o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial.
Um dos relatos que mais escuto na minha família é que o vizinho da minha avó era da FEB, mas que ele desistiu durante o caminho para Europa.
Neste período vários potiguares participaram da FEB, incluindo o Antônio Simão, que quando estava prestes a completar 80 anos, Antônio Simão do Nascimento começou a escrever constantemente em um caderninho pautado. O filho de Simão, José Clewton, curioso como nós, perguntou sobre o que estava escrevendo. O pai falava que era “nada demais”, “apenas lembranças”.
Numa destas brechadas, José Clewton descobriu que aquelas histórias consideradas “nada demais” mostra um relato surpreendente de um sertanejo que foi à Segunda Guerra Mundial e que, depois, trabalhou durante anos na construção de rodovias no Ceará. Três anos depois, o seu Antônio deixou a vida terrena e deixou as memórias em seu caderno pautado.
Somente 16 anos depois de sua morte, a família lança o livro “Memórias do meu Passado”, na próxima sexta-feira (21) de abril, às 19h, no Restaurante e Tapiocaria da Avó, localizada na Rua Vereador Manoel Coringa de Lemos, 488, na Vila de Ponta Negral, Natal. O título será comercializado no valor de R$ 50, no qual cartão não será aceito.
O livro acabou sendo estruturado com algumas divisões: inicialmente contém os relatos de Antônio Simão e depois é seguido de textos dos filhos José Clewton, Vânia Lúcia do Nascimento e da neta Fabiana do Nascimento Pereira, nos quais os relatos são inseridos em contextos históricos, sociais e arquitetônicos.
Mais fotos dos Americanos durante a Segunda Guerra Mundial (Tirei do Google Imagens) |
Como é arquiteto, professor da UFRN e artista plástico, José Clewton também imprimiu nas páginas da obra alguns desenhos inspirados em postais guardados dentro de um álbum de fotografias do pai.
“Sempre tivemos uma relação muito forte com essas memórias, e acabamos incorporando-as às nossas atividades, como profissionais e como acadêmicos. Nesse sentido, entendemos que os que nós – filhos e netos – escrevemos e incorporamos nessa publicação são desdobramentos desse seu legado”, explica.
Para Clewton pode ser dada inicialmente uma ênfase ao fato de seu Simão ter sido um “febiano” e tratar dessa experiência no livro nos anos 1940. Mas o livro vai mais além: “Na fala do seu Simão está presente a história do homem do sertão, temente a Deus, bem como podemos traçar relações com o período de desenvolvimentismo pelo qual passou o país”, diz ele. E na apresentação de George Ferreira, a corroboração: “Há muitas maneiras de se contar as histórias de um país. Pela economia, pela política, pela arte, pela arquitetura, pelas mudanças de hábitos e costumes (…). Mas não podemos abrir mão de olhar com carinho para as histórias das pessoas, no que têm de representativo e de singular”.
Professor de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo Clewton utiliza o material como fonte documental de algumas de suas aulas. E no livro, ele faz algumas releituras de postais guardados pelo pai em um álbum de fotografias da época. “No texto falo sobre essa minha relação com o álbum de fotografias e postais trazidos por meu pai, e chamo atenção tanto para a riqueza das imagens como fonte documental, como também pelo valor simbólico/afetivo delas para mim”.
Alguns trechos do livro, que é estruturado a partir das memórias de Antônio Simão do Nascimento:
1945 – “Continuando a viagem, chegamos no Rio de Janeiro na manhã do dia dois de janeiro. Já pela madrugada começou a se avistar a cidade, ficando cada vez mais visível a estátua do Cristo Redentor (…). Na noite do dia 21, após dezessete dias ininterruptos de viagem, chegamos a Nápoles. Por coincidência no dia da tomada do Monte Castelo pelas forças brasileiras, que antes do anoitecer já haviam dominado o local”.
1926 – “Foi quando comecei a despertar para a realidade. O primeiro acontecimento que me marcou e que não consegui esquecer foi na época do inverno: chovia muito à noite e acordei com um barulho enorme. Havia muitos trovões e relâmpagos. O quarto onde eu dormia era vizinho à cozinha. e com o peso da chuva, no momento de um trovão, uma parede que ficava ao lado da biqueira, de taipa, arriou. Assombrado, corri no escuro alarmando as outras pessoas da casa (…)”
1944 – “Antes de passar à praça pronta, me inscrevi para a seleção do CCC – Curso de Candidatos a Cabo. Fui aprovado em segundo lugar em uma turma de trinta e seis candidatos. Em março, passei a pronto e, em julho, concluí o curso de cabo e fui promovido imediatamente. A guerra na Itália continuava cada vez mais assoladora e o Brasil cada vez mais comprometido. No dia dois de julho foi enviado o primeiro escalão da FEB para a Itália (…)”.
Memórias do Meu Passado – lançamento
Dia: 21, sexta-feira
Hora: 19h
Local: Tapiocaria da Avó, na Vila de Ponta Negra
Preço: R$ 50 (somente em espécie)
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