A intenção no Dia dos Namorados é mostrar casais e pessoas que fogem do relacionamento padrão. Uma parte da bancada evangélica da Câmara dos Deputados diz que o verdadeiro conceito de família é um casal heteronormativo e cisgênera (pessoas que agem com o gênero que nasceu). Ou seja, homem e mulher, e filhos. Algumas pessoas batem palmas para MC Catra e o seu relacionamento livre, mas critica mulheres que querem ter uma maior liberdade sexual. Mas, nem todos encaixam neste perfil de família tradicional brasileira e acreditam em outras formas de amor, como LGBT e não monogâmico. Quando casais encontram a sintonia ideal para encaixar suas ânsias e desejos há mais chance de viverem bem.
Um relacionamento saudável é aquele que as pessoas confiam um no outro. Não importa se ele for monogâmico ou não. Alguns acreditam que um romance tem que ser feito de forma livre. Este é o pensamento de Francesca, que há dois anos vive com um amor livre, no qual permite que ela viva vários romances ao mesmo tempo e com consentimento de ambas as partes.
“A ideia da relação livre é que não tentamos criar esse contrato de responsabilidades. É mais sobre uma existência natural de convivências, pensamentos e desejos mútuos compartilhados. Ainda assim, entre 3 pessoas”, explicou a jovem, no qual falou que eles não formam um trisal, visto que os seus dois namorados não possuem relações amorosas, apesar de conhecerem. “Conversam educadamente, mas não são amigos”, complementou.
Ela evita o termo relacionamento aberto, visto que fica parecendo com uma forma de contrato. “Todos os exemplos de relacionamentos abertos que buscamos, as pessoas envolvidas de alguma maneira mantinham um “contrato” de: a) você fica com alguém apenas se eu ficar também; ou b)você fica mas eu não quero saber; ou c) você fica com outras pessoas, mas nós somos exclusivos, você não pode ter um relacionamento com outra pessoa, apenas comigo. Essas atitudes não correspondem mais à nossa realidade.”.
Tudo começou em 2014, quando conheceu uma garota, no qual começaram a namorar e elas sentiram a necessidade de que o relacionamento delas fossem de forma livre, sem contrato ou exigências. Então, elas se permitem ficar com outras pessoas. Foi o seu primeiro relacionamento lésbico.
Um ano depois, a Francesca conheceu o rapaz e, assim, vive de forma feliz até hoje, sem amarras ou exigências de um relacionamento sério.
De acordo com a jovem de 25 anos, a decisão de viver o amor desta forma veio de forma espontânea, e natural. Esta é a sua primeira experiência. “[Meus relacionamentos anteriores] foram bastante saudáveis e muito bons. Mas, depois que a conheci, pela primeira vez cogitei a possibilidade de um relacionamento aberto. Depois disso, a ideia do relacionamento livre soou muito mais correspondente à nossa realidade.”.
Sobre os familiares, ela conta que apenas parentes e amigos mais próximos sabem de sua decisão, uma vez que pessoas que gostam de viver desta forma ainda sofrem preconceito. Ela lamenta que relacionamentos diferentes ainda sejam julgados de diferentes maneiras, independente de serem familiares ou não.
“Depois que esses esteriótipos forem superados, começaremos a reflexão sobre o que importa: relações em geral, independente de identidades. Acredito que seja importantíssimo [discutir] a base de todas as relações que criamos na vida. Para quem vive fora dos padrão cis imposto pela nossa sociedade patriarcal então, é uma série de questionamentos. Infelizmente, ainda, as pessoas não discutem. A maioria está tão envolvida na caixinha do “preciso ter um companheiro/companheira” e a sociedade ainda discute preconceitos enraizados, como a homofobia. Já é um desafio mostrar para o homofóbico a ação dele, como apresentar a ideia de relação livre para alguém assim?”.”.
Francesca desabafa que para ela não é uma forma de ser diferente, mas um eterno questionamento sincero e pessoal, aplicar o que é verdadeiro dentro dela.
“Questionar: suas relações foram/são prisões com regras ou um mundo, aberto a novas vivências, mudanças, compartilhamentos? Essas prisões sao necessárias? Relacionamento com ciúmes deve ser considerado normal? “traição” é traição se olhamos de qual perspectiva: da prisão ou da liberdade individual? As pessoas necessariamente deixam de lhe amar porque dividem momentos com outras pessoas? Nunca, em relacionamentos monogâmicos que tive anteriormente, senti tanta responsabilidade pelos outros que me relaciono quanto eu sinto hoje, vivendo com essas duas pessoas incríveis”, finaliza.
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