Desde a manhã desta quarta-feira (13) as pessoas estão dando voltas em círculos para responder a seguinte pergunta: Por que isso ? Dois jovens de 17 e 25 anos, identificados como Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, ex-alunos do colégio, invadiram a sua antiga escola para atirar nos alunos, na coordenadora e por fim se matar. Esse caso poderia ter acontecido nos Estados Unidos, mas ocorreu a 50 km da maior cidade da América Latina, São Paulo. A Suzano, que era uma cidade pacata de 150 mil habitantes, virou noitícia após o massacre que deixou 11 vítimas na Escola Estadual Raul Brasil, no qual a maioria eram adolescentes de 15 a 17 anos. Os meus questionamentos são mais complexos: Como eles conseguiram as armas ? Qual foi o planejamento ? O que motivaram a vingar dessas pessoas? (Sabendo que a primeira pessoa que eles mataram foi logo a coordenadora da escola. Ou seja, eles tinham um objetivo).
Durante a intensa cobertura televisiva ao Massacre de Suzano, um ex-professor apareceu para denunciar os intensos casos de bullying: “Pedi exoneração após um aluno ter jogado uma garrafa em mim, os casos de bullying são bastante pesados e a escola pouco fez pouco caso. Mas não sabia que isso [algo mais grave] iria acontecer”. Outra evidência de que o bullying foi um combustível para essa vigança foi que um dos assassinos teve que sair no meio do ano passado após passar por problemas do colégio.
O caso explodiu após que o caso Columbine nos Estados Unidos completa 20 anos, quando estudantes invadiram uma escola e metralharam professores e alunos por motivo de sofrerem bullying dentro da instituição de ensino. Direta ou indiretamente influenciou o caso de Realengo, em 2011, quando um ex-aluno de 23 anos de uma escola em Realengo entrou no local dizendo que buscaria o histórico escolar. Numa das salas de aula, abriu fogo, matando 12 pessoas (dez meninas e dois meninos) e ferindo outras 12. Após o ataque, cometeu suicídio. Ele tinha dois revólveres, munição e um colete à prova de bala. A polícia encontrou em sua casa anotações em que culpava os colegas de escola que o humilhavam pelo massacre.
Por falar em Columbine, os assassinos também carregavam armas similares aos da dupla do Massacre de Suzano, no qual um deles chegou a desferir um machado sobre um dos alunos.
O que acontece quando tem o acesso a arma facilitada, psicológico questionável e bullying ? Prato cheio para cometer crimes e inclusive fazer um massacre, pois um criminoso em potencial nunca medirá as consequências do seu ato, independente se ele é maior ou menor de idade.
Recentemente, o Governo Federal facilitou a posse de armas para os cidadãos, que foi utilizada bastante na campanha presidencial. O decreto n° 9.685 alterou regras previstas em um decreto anterior, de 2004, que regulamentava o Estatuto do Desarmamento, de 2003. Atualmente existem mais de 600 mil armas nas mãos do civil e a nova norma tornou menos rígida a compra, visto que o decreto altera o trecho relativo à comprovação de “efetiva necessidade” da posse. Agora, há uma lista de situações que se enquadram como efetiva necessidade de possuir uma arma, como: ter estabelecimento comercial, morar em área rural, morar em cidades de Unidades da Federação com índice de homicídio superior a 10 por 100 mil habitantes (índice, atualmente, superado por todos os estados).
O prazo para renovar o registro de posse aumentou de 5 para 10 anos. Além disso, o limite de armas que uma pessoa pode ter passou para quatro. Até agora não se sabe qual loja foi comprada as armas dos assassinos do Massacre de Suzano, a única informação é que o rapaz de 25 anos foi quem comprou as pistolas com o dinheiro de seu salário como balconista de um trailer de cachorro quente.
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O cidadão que deseja ter uma arma em casa e convive com crianças, adolescentes e/ou pessoas com deficiência intelectual terá de apresentar uma declaração de que a residência tem cofre ou local seguro para guardar a arma. O texto do decreto não especifica, no entanto, como deve ser feita essa declaração nem características necessárias para o armazenamento.
Além disso, não existe há alguma política de combate ao bullying nas escolas. Desde o caso de Realengo houve o crescimento de crimes como esse no Brasil (depois de Realengo foram mais dois em um intervalo de oito anos), sendo que no ano de 2017 um garoto de 14 anos pegou o revólver do pai e atirou contra dois colegas da escola que lhe faziam de chacota e feriu outras quatro pessoas. Se
E se o Massacre de Suzano fosse em Natal, a escola seria o equivalente ao Atheneu, era a escola mais antiga da cidade e com um dos melhores índices de educação, onde também fornecia aulas de idioma para população. Ou seja, se está ruim nas escolas públicas, imagine nas particulares, onde o número de casos é bem maior.
Como já falado pouco se fez sobre o combate ao bullying, que consiste. Há três anos foi publicada a Lei nº 13.185/16, além de trazer uma definição legal para o bullying, ali denominado “intimidação sistemática”, cria uma política nacional de combate à prática e assegura atendimento psicológico aos alvos, impondo a escolas, clubes e agremiações o dever de “assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnóstico e combate à violência e à intimidação sistemática”.
Assim, a nova legislação esclarece que escolas, clubes e agremiações recreativas têm responsabilidade sobre o bullying que ocorra sob seus auspícios. Além de obrigá-los a atuar de forma a evitar a ocorrência das agressões e identificá-las ativamente. Tal previsão é importante, pois, como dito, as crianças por vezes escondem o bullying dos adultos, que, a seu turno e não raramente, erram ao tratá-lo como algo normal. Com a nova lei, fica claro que as escolas, agremiações e clubes não mais podem ignorar as agressões. Da mesma forma, devem promover a conscientização das crianças, inclusive para orientá-las sobre como agir diante das agressões.
No entanto são poucas escolas que fazem campanha de combate ao crime, visto que a violência física, apelidos constrangedores, referências preconceituosas e outros comportamentos agressivos são feitos na surdina e até mesmo em ambientes virtuais. Ou ainda acham que é coisa de jovem e que isso vai passar. No entanto, nem sempre as vítimas podem ter uma reação das melhores, principalmente se ela já tiver com um psicológico abalado.
Se a vítima do bullying não for acolhida, ela vai procurar meios errados de procurar, como acesso às substâncias ilícitas ou até acesso aos grupos errados. Há suspeitas de que eles participaram do fórum de um hacker que foi preso por planejar um ataque à Universidade de Brasilia e criar postagens exaltando a extrema direita.
O alvo é quem arca com as mais doloridas consequências da prática, que vão do estresse ao suicídio, nos casos mais extremos, passando pela baixa autoestima, autoflagelação e evasão escolar. Do ponto de vista social, é comum o afastamento dos colegas, que evitam o contato com a vítima, com temor de serem também alvos do bullying, agravando o sofrimento do alvo.
É importante lembrar que o autor também é afetado pela violência, em especial se nenhuma medida é tomada para interrompê-la. A vivência do papel de agressor é relacionada a atitudes antissociais na vida adulta, há estudos que apontam a correlação entre praticar bullying na infância e condenações criminais e envolvimento em casos de violência doméstica.
Menos lembradas, mas também afetadas, são as testemunhas da violência. Sim, mesmo as crianças que não têm ligação direta com a agressão são afetadas. Os sentimentos variam entre os diferentes indivíduos, mas a literatura descreve medo (de ser vítima no futuro), desamparo, raiva do agressor e culpa por não agir para evitar a violência. Dessa forma, como resultado, observa-se nas testemunhas reações semelhantes às dos agressores como a evasão escolar.
Então, misturando a facilidade de ter uma arma mais um psicológico totalmente deteriorado pela situação de convívio e viver um bullying intenso na escola pode ser uma bomba para que gere os mais diversos crimes, incluindo agir como um serial killer em um ambiente escolar, visto que quando uma pessoa tenha um surto a mesma não consegue medir as consequências de seus atos.
Agora esperamos atitudes mais severas e combatativas ao assédio escolar e evitar que os novos Massacres de Suzano apareçam.
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