Foi por causa desta matéria aqui que comecei a fazer pole dance. Estava em um período bastante conturbado: em crise com as minhas relações pessoais, estava muito deprimida e muito sedentária. Já perdi a conta de quantas vezes as pessoas foram gordofóbicas comigo, desde ir ao médico para fazer piada até gente da família por causa do biotipo. Entre idas e vindas do efeito sanfona, nos últimos oito anos engordei bastante por inúmeros fatores, mas nada de esporte me identificava, muito menos ir para academia e fazer musculação. Queria algo que me sentisse viva, além de soltar as minhas estripulias e foi durante a aula experimental de pole dance que senti desafiada.
Como falei no texto, eu só consegui fazer um giro básico e não consegui fazer o back hook, que hoje é um dos movimentos favoritos.
Por causa dos filmes e outros produtos midiáticos, o pole ainda é taxado como algo de “puta” ou “vadia”. Assim, muitas meninas sentem envergonhadas de praticá-lo, porém pole dance fitness, para a finalidade de trabalhar determinados grupos musculares, ficar com o corpo em forma e praticar algum desporto. Há o poledance artístico, que visa mais ao lado acrobático e que é incorporado principalmente em espetáculos de performance, no circo etc. E também o poledance sensual ou erótico, que é o que mistura a dança com a sensualidade, que ajuda sim a elevar a autoestima.
Ou seja tem que ser uma puta mulher para encarar o machismo de frente e fazer este esporte. Aprendi que antes de amar os outros, você têm que se amar primeiro. Para ser desejada, tem que ser amada primeiro. Quantas vezes nesses mesmos filmes mostra uma prostituta, de tanto apanhar na vida por causa de seus clientes, consegue encarar de peito aberto esses problemas? Isso mesmo, muitas.
Duas semanas depois do texto que falo da primeira vez no pole dance, eu resolvi fazer uma outra aula, como aluna mesmo e as coisas começaram a ser diferentes, pois estava querendo mostrar que mesmo pesando 77kg era capaz de fazer movimentos como qualquer outra pessoa. Inicialmente, eu não tinha força e muito menos equilíbrio, principalmente pelo fato de quase nunca ter feito esporte na vida e que larguei a dança do ventre em 2009, a partir do pressuposto que voltaria a praticar depois que passasse no vestibular. Terminei a faculdade de jornalismo e entrei numa especialização e a única coisa que praticava era mente com jogos digitais ou analógicos e com as coisas relacionadas à vida acadêmica e ao trabalho.
Levava uma vida bem pragmática, onde tudo tinha que ser preto no branco e estava numa fase que tudo tinha ser programado, nada poderia sair e isto estava afetando bastante a minha saúde mental. Sem contar que fiquei dois anos desempregada e isso me deixou bastante deprimida, onde meu foco era blog e estudo, sem pestanejar, pois queria trabalhar o mais rápido possível. Quando não era isso, eu estava esgotada e queria dormir.
Enfim, me sentia incapaz, cansada e muito menos uma mulher poderosa, apesar de parecer que era a fuderosa.
O primeiro passo que tive desconstruir: Mostrar o meu corpo em frente ao espelho. Foi difícil para mim ficar apenas de top e short curto, por mais que fosse gordinha assumida, mostrar a barriga era algo que não gostava nem nos meus tempos de magra esquelética e sempre ficava incomodada ao usar roupa curta, por medo do que os outros vão achar. Porém, os tecidos atrapalham bastante o movimento e se eu quisesse avançar na aula tinha que me adaptar com o meu corpo e ele se adaptar com as manobras. Sim, o que você achava que era “defeito” pode ser a grande arma para conseguir mais rápido aquele movimento.
Essa foi a primeira vez que fui ao pole, onde só conseguia ir ao chão:
Demorei quase um mês para conseguir subir no poste e ficar parada por um tempo, pois não conseguia. Depois comecei a fazer giros simples, como o fireman (parece um bombeiro escorregando no poste após receber uma emergência) e o cruzado, até chegar mais complexos. A primeira vez que fiz um movimento que eu tive que tirar o pé no chão teve uma sensação de medo e aquela sensação de ser incapaz, mas com apoio da professora e das amigas consegui.
Sem contar que tem várias polerinas com os mais diversos tipos de corpos e todas as suas características fazem ser especial. Sem contar que tive o privilégio das colegas me ajudarem com suas técnicas e evitar aquele clima de rivalidade, comum em qualquer local social. A famosa sororidade, tanto citada no feminismo realmente está ligada no pole, no qual uma mana ajuda a outra e sempre comemora quando consigo fazer aquele giro completo.
Ainda conheci história de cada mulher incrível. Sim, tem muita mulher da porra nas aulas, que é mãe, profissional, estudante e ainda tem tempo de ter uma vida esportiva e lazer, no qual cada uma delas carregou uma cruz para ir à aula e ganhou muitos bônus praticando pole. Lá conheci gente que venceu câncer, conseguiu engravidar, começou a trabalhar depois que constituiu família, bióloga, largou a sua vida para morar na gringa em nome de um amor, profissional da segurança do trabalho e dentre inúmeras histórias que consegui coletar em um ano. Poderia fazer um livro com cada polerina, mas isso é algo para pensar depois.
A segunda desconstrução foi: nunca diga nunca.
Assim como no balé, que o dançarino demonstra a sua dedicação e amor através da dança, fazendo esquecer das suas dificuldades através da leveza, o pole também segue a mesma linha de raciocínio. Muitas vezes já cheguei estressada pelos mais diversos motivos e após a aula terminar, eu me tornar uma pessoa bem melhor.
Você pode não conseguir naquele momento, mas uma hora você consegue subir, fazer giros e até mesmo outras piruetas. Olha a minha pessoa depois de seis meses de pole:
Sei que sou outra pessoa fazendo pole dance, me sinto mais poderosa quando seguro no poste e consigo fazer todas aquelas coreografias que nunca pensei um dia em fazer. Consigo andar mais confiante e até arrisco mais. E me mostrou que nunca devo abaixar a cabeça para nenhuma situação e que sou forte o suficiente para superar.
O que o pole vai me levar? Eu não sei, estou seguindo o fluxo.
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