Você já escutou o álbum “Transa”? Na década de 60 o rock and roll surgiu no Brasil a partir de duas vertentes: Jovem Guarda e Tropicália. Como toda roqueira brasileira que preste, eu fui escutar os dois estilos, nunca me identifiquei com o primeiro citado, pois achava que era uma forma de copiar os Beatles e Elvis Presley. Já a Tropicália, me fez explodir a cabeça, principalmente por bater de frente com a Ditadura Militar, que surgiu como uma tentativa de impedir uma suposta ascenção comunista e, por isso, torturava e matava pessoas que eram contra as suas vertentes.
Numa época que a Europa e Estados Unidos de 1968 lutava como “É Proibido Proibir”, era impossível a América Latina ficar parada. Assim os músicos resolveram criar uma identidade brasileira daquela década, com arranjos mais elaboradis e misturar elementos da terra com rock. Falar da situação que ocorria no Brasil misturando solos de guitarra, com metáforas interessantes e elementos de samba e forró era algo inusitado e que dava certo. O Ritchie Blackmore, eterno guitarrista do Deep Purple, amaria essas misturas.
O som foi bastante repercutido através dos festivais de música, que eram transmitidos, inicialmente, na TV Record, surgindo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Gal Costa, Tom Zé e dentre outros.
Em 1968, face ao endurecimento do regime militar no Brasil com o Ato Inconstitucional número 5, também conhecido o AI-5, compôs o hino “É Proibido Proibir”, que foi desclassificado e amplamente vaiado durante o III Festival Internacional da Canção. No mesmo ano Veloso e o parceiro Gilberto Gil foram presos, acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira em um show no Rio de Janeiro. Foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro e tiveram suas cabeças raspadas.
Por causa disso, partiu para exílio político em Londres, onde lançou o disco Caetano Veloso (1971), disco com temática melancólica e com canções compostas em inglês e endereçadas aos que ficaram no Brasil. Ambos foram soltos em 19 de fevereiro de 1969, quarta-feira de cinzas, e seguiram para Salvador, onde tiveram de se manter em regime de confinamento, sem aparecer nem dar declarações em público. Em julho de 1969, após dois shows de despedida no Teatro Castro Alves, nos dias 20 e 21, Caetano e Gil partiram com suas mulheres, respectivamente as irmãs Dedé e Sandra Gadelha, para o exílio na Inglaterra.
Neste período, eles ficaram melancólicos, tristes e com muita saudade do Brasil. Neste período, Veloso lançou dois discos. O primeiro, batizado com o nome do artista, foi lançado em 1970 na Inglaterra e, no ano seguinte, no Brasil – traz London, London, sua crônica do expatriado em terra estranha. O segundo, Transa, lançado aqui em janeiro 1972 (mês que vem completa 46 anos). Ambos foram produzidos pelo britânico Ralph Mace.
O período que marca Transa foi a rápida viagem de Caetano ao Brasil, com o objetivo de assistir à missa comemorativa dos 40 anos de casamento de seus pais. No Rio de Janeiro, o cantor foi interrogado por militares que pediram para que fizesse uma canção elogiando a rodovia Transamazônica – na época em construção. Caetano não aceitou a “proposta”, mas de volta a Londres, gravou no final do ano o LP com o nome de “Transa”.
Neste período, Caetano já estava se permitindo a curtir Londres e começou a fazer diversos experimentos musicais, como o reggae. Misturando letras em inglês e português, como uma forma de mostrar que não largou as raízes brasileiras, Caetano contou com a participação de Jards Macalé, Tutti Moreno, Gal Costa, Angela Rorô, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. A intenção de Caetano é fazer com que o álbum parecesse que foi gravado em um show ao vivo.
A primeira vez que escutei, no You Tube, enlouqueci pela criatividade musical do álbum, uma vez que mostra uma brasilidade (“Triste Bahia”, poema de Gregório de Matos musicado por Caetano), mas também escuto influências do rock and roll (“You don’t know me”) e reggae (“Nine To Ten”).
Raro de se encontrar em sebos e, quando tem, ele pode custar entre 90 a 350 reais, dependendo de como está conservado o LP. A revista Rolling Stone considera um dos 100 melhores discos brasileiros de sexta-feira.
Nesta sexta-feira (15), a partir das 21h o Bardallos Comida & Arte será palco de um tributo ao aclamado álbum de Caetano Veloso “Transa”. A obra de Caê mistura de idiomas, do moderno ao arcaico, da poesia ao baião. O disco completou neste ano exatos 45 anos, gravado em Londres.Canções como “You Don’t Know me”, “Nine Out Of Teen”, “Triste Bahia” são celebradas por fãs até hoje.
O tributo busca celebrar os 45 anos do disco que será tocado na íntegra. Para complementar a noite, faremos outras canções de Caetanos que marcaram os anos 1970. A banda será composta por Felipe Nunes (Voz e Violão), Humberto Diógenes, (Baixolão) e Renato Luiz Almeida (Percussão). A entrada custa 10 reais e a banda é essa a seguir:
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