Era uma criança de sete anos que queria apenas um cachorrinho de cor marrom. Na minha cabeça infantil, eu estava pensando em um Yorkshire, só que não fui clara aos meus pais. No meu aniversário de sete anos, ela chegou. Uma poodle, marrom e fêmea. Aí surgiu a Liliva na minha vida. Não me pergunte como surgiu o nome, depois disso estou proibida de nomear os animais em casa.
Eu com a cabeça de criança, achava que ter um cachorro era como nos desenhos. Não tive a noção de que um animal demanda muitas despesas e tempo de seus donos, necessário para atender as suas necessidades. Só aprendi com os anos de convivência e isso não me fez a odiar, pelo contrário, me ajudou a ter mais amor, pois via que era agradecida por ter um lar e carinho dos tutores. Estava sempre pronta para retribuir.
Como todos os filhotes, ela deu muito trabalho, até minhas lições de casa chegou a comer e minha mãe teve que provar que foi verdade. Comeu roupa de boneca e até um livro paradidático, que demorei um século para comprar. De uma cachorra toda marronzinha, ela ficou branca como uma neve.
A única coisa que restou de marrom foi uma mancha no seu traseiro, que meus amigos achavam engraçado.
Achava que seria fácil criar um cachorro, mas a gente esquecia que ela fazia necessidades e precisava comer. Eu achava que era só brincar e pronto. Mas, ao longo do tempo eu vi que ela era um ser vivo como eu e não um produto, foi então que comecei a inserir na minha vida. O cachorro que seria só meu, virou do meu pai, da minha mãe e minha irmã. Ela não era um produto, mas alguém que nos apegamos e apaixonamos.
Era uma simpatia, ficava amiga dos meus amigos, dos meus tios, dos meus avós e de todo mundo que fosse com a cara dela. Eu sempre digo que se uma pessoa é de bom de coração, veja como ele trata seu animal de estimação.
Pai queria que ela tivesse o focinho tosado sempre, enquanto a gente achava fofinha parecendo uma bolinha de pelo. A Carol, minha irmã, quando pequena, brincava bastante e chegava a sair rolando com ela pela casa. Minha mãe ficava irritada com as duas sujas pela casa, mas depois era sessão de fotos das diversas brincadeiras. A gente fazia ela brincar de Barbie com a gente, no qual muitas vezes não dava muito certo.
O primeiro carnaval que passamos juntas foi muito divertido. A gente não iria levá-la e fomos para uma casa de praia, quando vimos que os vizinhos estavam com seus cachorros. Meu pai, rapidamente, voltou para Natal e a levou. Foi a melhor coisa que a gente fez, tirando o fato que ela fez a gente correr por toda a praia de Búzios pelo fato de estar “paquerando” um cachorro chamado Billy.
Depois disso, todos os carnavais ela estava com a gente, firme e forte.
Passamos por momentos difíceis, quando ela quase morreu após ter ingerido comida contaminada ou sumiu por algumas horas de casa pelo fato de não saber voltar. Mas, a gente conseguiu superar e víamos isso como algo para deixar a nossa união mais forte.
Acompanhei a sua infância, adolescência (meu deus, coitado das pernas dos meus amigos no qual a tratava como cachorro), fase adulta e a velhice, que precisou de mais cuidados.
Meu contato com Liliva foi maior principalmente quando comecei a trabalhar em casa, no qual brincava toda hora que ela e Thor (o gato) faziam parte do Conselho Editorial do Brechando. Eles estavam o tempo todo comigo, enquanto escrevia ou planejava o site. Só olhar os vídeos do Instagram, no qual mostrava a minha rotina de trabalho com essa duplinha.
Minha cachorra, Liliva, morreu há duas semanas, após lutar ferozmente contra um câncer. A saudade ainda é grande, o vazio da casa também e ainda sinto o cheirinho dela nos móveis. Mas, a gente precisa continuar o legado dela: espalhar o amor nas formas mais pequenas. Muita gente já questionou, de forma indelicada, se iria ter cachorro novamente ou quando iria comprar.
Sempre respondo que um cachorro não é um produto que você enjoa e entrega para qualquer um. Era um membro da família, no qual participava das reuniões familiares, andava com a gente o tempo todo e sempre esteve lá nos tempos difíceis. Se todos da família fizessem um abraço coletivo, ela subia e abraçava nas nossas pernas. Foram 17 anos de gratidão, no qual me acompanhou crescer e minhas conquistas.
Podia chegar em casa brava, mas o latido dela nos recepcionando acalmava o coração. É um ser vivo que vai te acompanhar toda hora e ele vai te amar gratuitamente. Se você for carinhoso com ele, este vai retribuir 50 mil vezes.
Deixe um comentário