Decidi brechar o carnaval de Natal. O que tem de diversão nessa cidade? Carnaval mesmo não é só em Recife e Salvador? Pelo visto as coisas estão mudando, inclusive no bairro de Ponta Negra, que era conhecido neste momento por ter mais turistas e gente fugindo daquela folia. Na última postagem do Brechando, falamos que o carnaval da cidade teve uma mudança abrupta graças à tragédia que aconteceu no viaduto do Baldo em 1984. Após, 30 anos, as coisas começaram a mudar.
Após as iniciativas dos próprios natalenses, houve um crescimento de blocos e bandas próprias. Um dos famosos exemplos é o bloco Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens, que surgiu em 2005, por um grupo de amigos.
A intenção era colocar banda de frevo, bonecos gigantes (parecidos com os existentes de Olinda) e desfilar pelas ruas do bairro. O que era para ser uma simples brincadeira de amigos ajudou a acender a chama da folia de momo na zona Sul da Cidade. Graças ao Poetas, novos blocos surgiram na cidade, artistas começaram a cantar no bairro e que Ponta Negra pode ser tão divertida quanto as tradicionais Redinha e Rocas.
O horário e o local da concentração já é conhecido pelo pessoal, que prontamente já estava lá andando com fantasias e jogando serpentinas e confetes. Combinei com uma amiga de estacionar o carro perto da casa dela e ir em direção à Praça Ecológica de Ponta Negra (também conhecida como Praça do Gringo’s) a pé. Fui para o bloco no ano passado para gravar meu TCC e desta vez queria me divertir. Contarei meu relato a seguir.
Eram 16h30 quando chegamos na praça e várias pessoas já estavam presentes. O pessoal estava bastante criativo no quesito de fantasia. Vi diversas latinhas de cerveja desfilando, um grupo fantasiados de Finn do desenho “Hora de Aventura”, homens vestidos de mulheres, gente homenageando o mosquito da dengue e também a artista plástica mexicana Frida Kahlo.
Mas teve gente que veio usar o carnaval como momento político. Como é o caso desta foto a seguir, onde o rapaz se fantasiou de fugitivo de Alcaçuz, maior penitenciária do RN, conhecida pelos noticiário pelas fugas constantes.
Animação era nítida, parecia que a pilha não ficava fraca em nenhum momento. A música podia ser a mais calma, mas os foliões continuavam pulando e se divertindo. A energia do pessoal fazia com que a gente dançasse, impossível de ficar mal humorado dentro do bloco. Quando chegamos estava um show onde uma coisa me surpreendeu: o rapaz estava cantando marchinhas vindas do Rio Grande do Norte e adaptando músicas que citavam Salvador, Olinda e Recife para Natal.
A ideia era maravilhosa, pois como a folia da cidade está em fase, novamente, de desenvolvimento, precisamos nos sentir representados de alguma forma, sentir que temos uma festa genuinamente nossa. Sim, o bloco tem seu próprio hino e rapidamente já cantávamos a música do Poetas.
Uma foto publicada por Lara Paiva (@paiva_lara) em
Depois do show, a banda de frevo começa a se apresentar no centro da praça, alegrando os foliões. Idosos, crianças, adultos e adolescentes estavam unidos para brincar e se divertir.
Apesar do nome gigante, o bloco tem uma forte ligação com o bairro de Ponta Negra. Poetas, porque o bairro surgiram vários escritores e muitos escreveram sobre a praia. Careca em relação ao Morro do Careca. Bruxas está relacionado à origem pagã do carnaval. E, por fim, Lobisomens está relacionado uma lenda que esses bichos habitavam no alto do morro durante a noite.
Apesar de inspirar nos outros estados, o Poetas tenta trazer algo da terra. Os bonecos, por exemplo, representam personagens folclóricos do estado e sempre criam bonecos em homenagens às personalidades potiguares. Nesse ano, a homenagem foi a Deífilo Gurgel, que é um folclorista tão importante quanto Câmara Cascudo.
Os bonecos eram bastante disputados, havia filas de pessoas para fazer selfies ou tentar fotografar com suas câmeras ou celulares. Após o desfile dos bonecos, a banda de frevo e os foliões começam a circular pelas ruas de Ponta Negra. Então, a diversão começa e as pessoas começam a dançar enlouquecidamente e cantar as marchinhas. Eu e meus amigos nos divertimos bastante, pois foi algo tranquilo e sem confusão.
Verdade, não houveram discussões ou brigas sérias. Se alguém empurrasse, rapidamente levava uma hiper bronca. A única coisa de ruim que presenciei, todavia, foi uma pessoa que desmaiou após ter bebido demais durante o percurso do bloco.
O carnaval no Rio Grande do Norte, ao menos quando era pequena, tinha sinônimo de ir à praia e descansar. Eram os últimos momentos para aproveitar o verão. Não posso esquecer! Era um momento onde me encontrava com os primos, subíamos ao morro e também fazíamos guerras de spray de espuma. Não tinha aquele momento de brincar em blocos, ir aos bailes ou algo do gênero como era na época dos meus pais e avós. Bailinho de carnaval mesmo era organizado na escola. Vida longa ao Poetas!
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