Natal, 2008. A jornalista que vos escreve tinha 15 anos, mudado de escola e conhecendo os amigos que estão no meu ciclo de convivência até hoje. Naquela época nós queríamos mudar o mundo, escutar o que era diferente, descobrir coisas legais e espalhar aqueles que estavam fazendo coisas similares na cena potiguar. Era, ao mesmo tempo, o período em que descobrira a Ribeira, o Dosol, baladinhas, os festivais alternativos e o rock natalense. Nós tínhamos bandas incríveis, ralando incansavelmente para conseguir sair da rota Nordeste. Alguns chegaram a conseguir e outros não.
Para conseguir as músicas ou baixava a versão mp3 na comunidade do Orkut (alguns tinham aqueles sites feitos pelo Geocities) ou comprava o CD na porta de onde os shows aconteciam. Rapidamente, comecei a fazer amizade com os músicos da cena local e também queria tentar conhecer aquele mundo. Naquela época já queria ser jornalista, mas para trabalhar numa Rolling Stone, Bizz ou Rock Brigade. Também não acharia ruim ir para São Paulo ser VJ da MTV.
Naquela época, o rock era esquisito para alguns natalenses. Quem escutasse rock, era esquisito. O lance mesmo era escutar axé e ir ao Circo da Folia. Estava na lista daqueles que queriam fugir dessa modinha, não me misturava mesmo. O pessoal do meu colégio escutava Aviões do Forró. “Que tontos que loucos somos nós dois”. Odiava essa música. Enquanto isso estava escutando Paranoid do Black Sabbath e lendo “O Sol Também se Levanta”, de Ernest Hemingway.
Antigamente, os músicos tinham que procurar aquele produtor cultural bacanudo para que segurasse a sua mão e lhe conduzisse para vários lugares com o objetivo de tentar fazer sucesso. O mais longe que era alcançado era Paraíba, Pernambuco e Ceará.
Também era lei divulgar as suas músicas no Myspace e dentre outras coisas. Se tivesse algum integrante de classe média alta, era um benefício, mas não sinônimo de sucesso (Poderia citar enormes exemplos, mas seria perda de tempo).
Natal, 2016. Essas redes sociais estão em desuso, a Ribeira ainda persiste apesar do abre e fecha dos bares e restaurantes. Bandas legais terminaram e bandas mais legais apareceram. A forma das divulgações das bandas mudou bastante. As novatas utilizaram ferramentas novas como o Facebook, Bandcamp, Spotify e Soundcloud para divulgar o som. Não precisa gastar a mesada para alugar um estúdio para gravar o som, tudo pode ser feito apenas com gravadores, editores de som e postar, bem do it yourself mesmo.
Agora, os produtores culturais estão ouvindo o som dos caras e de várias ao mesmo tempo. Eles não precisam ir atrás deles, pois apenas por um toque pode conhecer um mundo de bandas incríveis vindas da terrinha.
A facilidade da internet ajudou a divulgar uma porrada de bandas vindas dos corredores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como Mahmed, Talude, Far From Alaska e também Plutão Já Foi Planeta. Essas duas últimas citadas são as que mais estão conquistando o mercado fora do Rio Grande do Norte e Nordeste.
O Far From Alaska, com o seu som em inglês e indie mais o esforço da banda, disponibilizando conteúdo na internet fez com que eles chamassem atenção dos músicos nacionais e participassem de grandes festivais, como Lollapalooza, atrair a grande imprensa musical e fazer com que a imprensa local finalmente se tocasse que a gente tem som do nível de Foster The People e uma porrada de banda gringa. Recentemente, eles conseguiram tocar na França e ganharam um prêmio como artista revelação.
Agora, o Plutão Já Foi Planeta está na final do programa Superstar, uma espécie de The Voice de bandas e está começando a ser vista pelos natalenses, atingindo o público além de quem vai ao Dosol. De 10 mil ouvintes por mês no Spotify, eles aumentaram para 50 mil. A música mais escutada deles da rede social tem 200 mil ouvintes. A fanpage do Facebook já tem mais de 100 mil seguidores.
A vocalista Natália Noronha, que era uma tímida estudante de jornalismo da UFRN e conhecida apenas por compartilhar músicas gravadas na internet, agora é considerada a musa do programa e elogiada pelo carisma e presença de palco. Muito massa, eu ver uma caloura alcançando voos mais altos que a profissão poderia fornecer.
Até o ano passado, eles estavam lutando para tocar nos editais de shows locais, tocando no Natal em Natal às 14 horas e agora são convidados para abrir shows das bandas nacionais no Arena das Dunas, Mada, Dosol e todos os festivais alternativos possíveis do Brasil.
Desde o site do Carnatal (maior Micareta do Brasil feita em Natal) até o Senac estão fazendo campanha para eles ganharem no próximo domingo (26), no qual fizeram sucesso apenas cantando as músicas de seus primeiros discos (o segundo está quase pronto e sendo produzido por Gustavo Ruiz, irmão da cantora Tulipa Ruiz). Só fizeram apenas um cover em todas as performances do programa.
Paulo Ricardo, ex-vocalista do RPM e jurado do programa, diz que eles são “a banda mais completa da edição”. O Samuel Rosa, quando participou do programa, criticou a falta de interesse das rádios em tocar músicas como a deles. Olha aí, só falta as rádios que tocam músicas mais para o povão da cidade colocar o som deles disponíveis, pois eles possuem público de sobra.
Eles finalmente ajudaram a abrir os olhos dos potiguares que o rock nordestino bom e de qualidade também está aqui. Tanto que já existe a campanha para que eles ganhem. Isso mostra que não é só de forró e axé que vive a música do Rio Grande do Norte. Eles provaram que é possível viver de música autoral e não precisa largar o rock para o forró para viver de música.
Espero que essa esplêndida experiência do Plutão estimule e facilite a outras bandas a seguirem esse mesmo caminho, os produtores valorizem os artistas de verdade (não fornecendo cachês de 900 reais), as pessoas olhem o rock potiguar com olhos melhores, o público topa em pagar um ingresso acima de 10 reais e que eles toquem além Ribeira e da rádio Universitária FM.
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