Não cresci ouvindo rock. Assim como o João e Maria deixaram pedras como forma de voltar para casa, os discos da Tropicália que minha mãe escutava quando tinha vontade foram os meus primeiros acordes do que seria um ensaio do Rock and Roll. Porém, graças ao meu amigo de escola, o Luiz Guilherme, me apresentou o Charlie Brown Jr, Nirvana, Kiss e Avril Lavigne, nos quais eram fãs. Mas, foi assistindo a MTV que ouvi sobre Black Sabbath, então rapidamente baixei três músicas no Kazaa e me apaixonei por aquele som que parecia que estava gritando dentro de mim. A agressividade e o som rasgante combinados por uma bateria, baixo e guitarra trilhou muito a minha vida.
Infelizmente, os shows de muitas bandas favoritas aconteciam além do Nordeste, principalmente o Rio de Janeiro e São Paulo, no qual não tinha dinheiro nem para comprar uma passagem imagina os ingressos. O meu primeiro show internacional foi em 2010, quando o Scorpions realizou um show na cidade de João Pessoa, cheguei a faltar prova no terceiro ano de Ensino Médio.
Por isso, quando comecei a estagiar em jornalismo, juntava dinheiro para ir aos shows internacionais. Me lembro da primeira vez que juntei seis meses de estágio para ir ao Rio de Janeiro com o objetivo de balançar a cabeça para a noite do metal do Rock In Rio e finalmente ouvir ao vivo o Iron Maiden, que está no top 10 das minhas bandas de heavy metal do meu coração, isto aconteceu outras vezes e já relatamos minha aventura em shows internacionais.
Em Natal é muito raro ter shows estrangeiros e geralmente vem artistas que não estão com mais sucesso todo. Sabia que Julio Iglesias já fez show no antigo Estádio Machadinho?
Mas voltando ao rock, shows deste gênero são os mais raros ainda. Já teve o The Donnas em meados dos anos 2000 no Festival Dosol e o Blaze Bayley no Centro Cultural Dosol, no qual a apresentação do ex-vocalista do Iron Maiden ficou conhecida por não ter tido quase ninguém na Ribeira para apreciá-lo.
Quando entrei na faculdade de jornalismo, eu tinha três objetivos profissionais:
- Trabalhar na Roadie Crew
- Plano B era ser fotojornalista
- Cobrir bandas de rock
A única coisa que deu certo foi cobrir bandas e criar um trabalho independente (a MTV fechou, não é mesmo ?), principalmente daquelas que eu gosto e uma delas tive o prazer de curtir o show de uma das bandas que escuto bastante o Against Me, que conheci quando um amigo meu compartilhou o disco “Transgender Dysphoria Blues” e gostei do que escutei e daquela voz rasgada da Laura Jane Grace, que mostra suas insatisfações sobre a sua vida pessoal e social em letra e guitarra. Então, eu fui pesquisar a banda e também os álbuns antigos. Mas, foi “White Crosses”, que virou meu disco de cabeceira por muito tempo, principalmente por escutar em loop infinito “I was a teenager anarchist”.
Quando o Centro Cultural Dosol apresentou que o Against Me viria para capital potiguar e fazer o show do primeiro dia do Festival Dosol, na Ribeira, fiquei meio aflita, questionando se natalense teria público suficiente e se o show seria estigante quanto os que vi no You Tube. Resultado: Melhor que pensava. O Dosol não estava lotado, mas tinha gente até no bar para assistir o grupo, isso é um bom sinal, visto que é raro shows de bandas conhecidas e internacionais na capital potiguar.
Assim que o Dosol anunciou a banda no seu line-up, prontamente comprei o ingresso e fiquei esperando pelo grande momento, além de converter alguns amigos que também gostam do som para ir ao show. Resultado? Mesmo sendo um domingo, dia que os natalenses estão super indispostos para assistir ou ir ao evento cultural da cidade, resolveu escutar um roquezinho que não tem perigo de assustar ninguém, como já dizia o Raulzito.
Diferente de outros shows internacionais que fui, as bandas que abriram para o Against Me condiziam com o estilo do grupo da Flórida, inclusive o baterista do Deb and The Mentals, Giuluiano Di Martino, fez sua apresentação vestido de Jane Grance. O pessoal mesmo só começou a chegar por volta das 18 horas da noite e foi em um dia muito politizado, visto que também acontecia o Festival Vermelho É a Cor Mais Quente, onde bandas potiguares e artistas da terra fizeram apresentações criticando o facismo e o seu avanço no Brasil.
Em suma, foi um dia que se encaixou perfeitamente, visto que a vocalista adora criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seus shows, principalmente pela sua falta de atenção aos imigrantes, negros e LGBTs.
As horas se avançavam e todos perguntavam onde estava Laura, muitos tentaram andar pelos corredores do Dosol para ver se a americana com quase dois metros de altura estava lá no tradicional bairro da cidade. Eu mesma era uma que ficava olhando as brechas do camarim. No entanto, assim que a equipe do Against Me passou o som, o Dosol escureceu e discretamente a banda entrou pela porta da frente feito um raio. No meio de gritos, eles começaram a tocar com True Trans.
No meio do caos, Laura Jane Grace sorria o tempo todo enquanto gritava e tocava os seus desabafos em forma de música. Isto foi tão poética e bonito, que esquecemos os preconceitos, problemas e o caos que nos rodamos, assim também abro sorriso e me entrego as polgas, os pulos e as canções que eu gritava até minha garganta ficar arranhada. “Percebo que vocês estão em um período turbulento, mas precisamos de muito barulho para mandar esses facistas e racistas se ferrarem”, dizia a vocalista durante o intervalo de uma das música causando grito na plateia.
A cada música que passava, uma massagem no coração.
Quando o show se aproximava, eu ficava cada vez mais perto do palco, tanto que nos momentos finais do show, eu ficava com a mão estendida o tempo todo só para ver se ela faria um hi-5 e no final ela me deu a set list do que tocou no show, causando alvoroço na plateia. Não preciso mencionar que quase não durmi.
Ainda estou em êxtase! Apesar das broncas de segunda, o meu sorriso de domingo me fez ficar alegre!
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Zerei meu domingo! Obrigada @againstme, obrigada, @laurajanegrace
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