Parecia que as pessoas fugiam de um apocalipse zumbi. Esta foi a sensação que eu tive quando vi um amontoado de pessoas entrando no ônibus. A ansiedade era sentida a quilômetros de distância. Estavam cansados, exaustos e aliviados.
Ninguém sabia se voltariam para casa. O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários (Sintro) havia parado todos os ônibus da cidade, alegando que os patrões não realizaram o aumento que foi acordado. Eles decidiram marcar o indicativo de greve para 11 de agosto, próxima terça-feira. O que aconteceu hoje foi um aperitivo do que ainda estar por vir.
Todos os veículos ficaram paralisados na sede do sindicato, que fica na Avenida Rio Branco, uma das principais vias do bairro Cidade Alta. Quem conseguiu ir para escola ou trabalho mais cedo teve um misto de felicidade e temor, pois se perguntavam: “Como vou para casa?”.
Era uma das pessoas que pensava assim. Cheguei a pensar em ir a pé ao compromisso que tinha marcado. Após uma pesquisada no Google Maps, vestir uma roupa leve e levar uma garrafinha d’água. Saí de casa com o seguinte objetivo: “vou para lá nem que seja a pé”.
No meio do caminho até a pista principal só via caminhões, carros e alternativos. As paradas estavam entupidas de gente apreensiva. Quando finalmente cheguei na principal avenida era mais ou menos 12h30. Os veículos apareciam de monte. Um em cima do outro, como se fossem vagões de uma mesma locomotiva.
Um misto de alívio e tranquilidade das pessoas. Fiquei feliz por não fazer mais a odisseia de quase 10 quilômetros a pé. O caminho que normalmente dura 15 minutos, poderia ter durado 1 hora e 15 minutos, no mínimo. Cheguei na parada em direção ao centro da cidade.
– Que bom! Os ônibus voltaram, eu já estava com medo de ficar a tarde toda esperando e estou cheio de sacolas nas mãos, afirmou um senhor que estava do meu lado.
– Quais desses que vão para Zona Norte?”, disse uma das meninas, acompanhada de mais outras duas. Parece que elas estudavam gastronomia, pois elas estavam comentando sobre um prato que elas fizeram durante a aula.
Após uns 15 minutos, eu finalmente peguei o “busão”. Já estava lotado e apareceu mais 20 pessoas contando comigo. Estavam desesperados para entrar, loucos para chegar ao seu destino.
Isto mostra como ainda dependemos do transporte público para fazer serviços considerados simples, como deslocar de casa para o trabalho. Se os ônibus param, outros serviços são atrapalhados. É tipo uma engrenagem que sai de uma máquina.
Consegui sentar em um banco perto da janela. Pelo que observei durante o percurso, todas as paradas estavam tumultuadas. Até mesmo aquelas que ficavam em locais mais tranquilos. Então, eu comecei a observar as pessoas dentro do veículo. O diálogo era a mesma coisa só.
“Olhe, meu filho perdeu a escola porque estavam parados. O colégio é bastante distante da nossa casa”, afirmou uma senhora que estava atrás de mim. Esbaforida, reclamava o tempo todo sobre a sua dificuldade no dia de sexta.
O senhor que estava do lado dela disse, com uma voz mais trêmula, que cogitou andar a pé, “caso continuassem parados”.
Uma que estava ao pé da porta gritava dizendo que os empresários deveriam pensar em pagar direito os motoristas, “porque eles são assaltados todos os dias e são mal pagos”. Já uma outra dizia que os motoristas deveriam pensar nos outros e não prejudicar a população.
Depois de 15 minutos, eu cheguei ao meu destino. Apesar das mudanças de fronteiras, paisagens e dentre outras coisas a única coisa que não mudou foi a quantidade de pessoas procurando ônibus. Devemos discutir mais sobre transporte público.