Já contamos algumas vezes no Brechando sobre a relação dos natalenses com o cinema. Porém, o primeiro surgiu no século XX, o Polytheama. Mas, 50 anos depois, chegou o filme pornô em Natal e vamos contar a história a seguir.
Nos anos 50, mais precisamente no ano de 1952, uma produção chamou atenção da cidade, intitulada de “Veneno Lento”, cuja censura era para maiores de 21 anos.
O cartaz, no entanto, prometia que seria “um filme quente”, assim chamando atenção dos garotos que estavam com os hormônios a solta.
Até os anos 1950, os cinemas de Natal só exibiam filmes tradicionais de aventura, drama e comédia, uma vez que somente o governo de Juscelino Kubitschek trouxe as produções de Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves e dentre outros comediantes.
O burburinho dos natalenses foi grande, visto que lotou a fila dos cinema, inclusive chegando a causar confusão e bastante briga.
Outra ocasião em que o Rio Grande acolheu superlotação foi em Programa de auditório em 1954, porque a Miss Brasil Marta Rocha desfilou para o delírio dos homens.
A história foi contada no livro Dos Bondes ao Hippie Drive-in, de Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, publicada pela editora da UFRN.
Filme causou confusão com os familiares dos irmãos Sizenando Rossiter Pinheiro
Dentro do livro citado acima, os irmãos contaram uma história da família ao ver esse polêmico filme que apareceu na cidade do Natal.
A história pode ser lida a seguir:
João Sizenando juntou-se aos amigos João Peixoto e Miguel Coelho (este pai de Miguel Ângelo, ex-técnico da seleção brasileira olímpica feminina de basquete), e foram finalmente assistir a fita.
Peixoto era uma pessoa alegre, mas de pavio curto, bastava desconfiar que alguém o estivesse provocando para partir pra briga.
Uma multidão impressionante já os aguardava em frente ao Rio Grande. Era “macho demais” se acotovelando nas filas – que filas? – em busca de um ingresso, muita confusão. No empurra-empurra, os três se separaram.
Algum tempo depois, Sizenando viu por entre cabeças, ombros e solavancos, lá na frente quando João Peixoto, já sem camisa, conseguiu entrar no cinema.
Não sem antes acertar um murro no queixo de um desconhecido que tentara bater-lhe a carteira.
A dentadura voou e foi pisoteada pela multidão. Lá dentro, o filme já tinha começado e qualquer semelhança entre os personagens do filme com pessoas ilustres da sociedade natalense,
não passava despercebido:– Olha aí fulano, tua mãe!
No meio de tudo isso, os lanterninhas no escuro, tentavam identificar e expulsar, naquela confusão, as pessoas que soltavam camisinhas
cheias de ar. O cinema estava muito melhor que o filme!De volta para casa eles encontraram o desolado Miguel que não conseguiu entrar nem vender o ingresso que tinha na mão.
E era um filme pornô em Natal mesmo?
Na verdade, o filme se chama apenas “Veneno” e é um nacional do ano de 1952 e não tem nada pornográfico, mas pelo fato de ter cenas mais calientes na época achou melhor colocar a classificação ser para 18 anos e não como 21 como foi falado no livro.
Achamos um cartaz do filme nos cinemas do Rio de Janeiro na décadade 50:
É um trabalho da produtora Vera Cruz e considerado um dos melhores trabalhos do diretor Gianni Pons, natural da Itália, embora alguns considerem argentino, e produziu vários filmes na década de 50.
O filme conta a história de Hugo (Anselmo Duarte), funcionário de uma indústria de vidros, que ama apaixonadamente sua esposa Gina (Leonora Amar). Ela, ao contrário, demonstra completa indiferença por Hugo, que vai ficando obcecado pela ideia de que sua esposa o odeia. Tem horríveis pesadelos durante os quais se vê matando Gina. Cada sonho termina sempre com um implacável delegado de polícia (Ziembinski) que o interroga. Hugo passa a confundir sonho e realidade depois que é procurado pelo mesmo delegado de polícia do sonho, que vem indagar se sua casa não foi assaltada.
O protagonista era Anselmo Duarte, que uma década depois ficaria conhecido por dirigir “O Pagador de Promessas”.
E a história parece uma versão brasileira de um filme de Alfred Hitchcock.
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