De fala mansa e fazendo algumas piadas sobre a sua vida, este é o Marcos Pontes, encerrando o primeiro dia da Campus Party Natal, para falar sobre conquistar sonhos, além de explicar passo a passo como chegou a ser um astronauta. Apesar do principal mote de sua palestra parecer ter sido retirado da música “Lua de Cristal” da Xuxa, o primeiro astronauta brasileiro queria mostrar em 1h30 o que realizou para conseguir chegar, mas garante que o céu nunca foi o limite.
“Adoro ir para esses eventos e conhecer esta turma jovem. É uma honra fazer um evento. Uma coisa que eu noto no ensino superior público do Brasil é que precisamos de interação entre a academia, empresas e os centros de pesquisas, no qual sejam incentivados projetos de desenvolvimento para o país. A gente sabe que tem certos empecilhos, mas é possível”, disse em entrevista para imprensa uma meia-hora antes de começar a sua apresentação.
A narração foi no estilo de depoimento, envolvendo aspectos pessoais, descrições, fatos e comentários. Ele provou que falar de astronomia e espaço pode ser transformado em algo leve sem precisar falar apenas em dados científicos e não tem vergonha nenhuma de responder perguntas bizarras, chegando a explicar como faz para consumir água e ir ao banheiro para urinar e defecar.
Natural da cidade de Bauru, interior de São Paulo, Pontes cresceu em um bairro humilde, no qual teve trabalhar desde cedo para realizar os seus sonhos e como tentou conciliar os estudos do Ensino Médio Técnico com os trabalhos de eletricista numa ferrovia. “Quando ficava desestimulado com os meus amigos dizendo que não iria ser piloto, a minha mãe me olhou e disse que podia ser o que quiser, desde que eu persistisse, estudasse e tivesse a perseverança naquilo em que acreditava”, comentou para o Brechando.
Terminando o Ensino Médio, ele conseguiu entrar na Força Aérea Brasileira e atuando como piloto de caça, entrou na rerserva como tenente-coronel. Depois migrou para o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mesmo tendo dois filhos e uma esposa para cuidar, e tornou-se engenheiro e com dois mestrados, sendo que em um deles chegou a estudar sobre a órbita dos planetas, começando aí seu interesse pelo espaço. Acabou por aí? Não, foi quando surgiu a oportunidade de ser astronauta.
Em junho de 1998, foi selecionado para o programa espacial da NASA, para a candidatura a que o país tinha direito no programa espacial do governo estadunidense, pelo fato de integrar o esforço multinacional de construção da Estação Espacial Internacional. Iniciou o treinamento obrigatório em agosto daquele ano no Centro Espacial Lyndon Johnson, em Houston, no Texas. Seu grupo de treinamento número 17 da NASA foi apelidado de Os Pinguins. Em dezembro de 2000, ao concluir o curso, foi declarado oficialmente “astronauta da NASA”.
Seu voo inaugural fora originalmente marcado para o ano de 2001, como parte da construção da Estação Espacial Internacional. Mais especificamente, o objetivo da missão seria transportar e instalar o módulo construído no Brasil (conhecido como “Express Pallet”). Problemas orçamentários da NASA forçaram, no entanto, o adiamento da missão para 2003. Ao se aproximar a data, persistentes problemas financeiros indicavam novo adiamento, mas o acidente que resultou na destruição do ônibus espacial Columbia, em fevereiro de 2003, suspendeu todos os voos da NASA por tempo indeterminado.
Este problema não o fez desistir e uma nova oportunidade surgiu, a chamada “Missão Centenário”, parceria da Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da Federação Russa (Roscosmos) , no qual assinaram um acordo que possibilitou a realização da primeira missão espacial tripulada brasileira, o nome é uma referência à comemoração dos cem anos do voo de Santos Dumont. Foi o quinto latino americano a ir ao Espaço e o primeiro do hemisfério sul, embora que o astronauta Carlos Noriega seja do Peru, ele é naturalizado americano.
“Lá eu tive que aprender russo em cinco meses e foram intensos treinamentos. Muitos me perguntam qual foi a importante parte da viagem. A decolagem foi importante, subir em direção ao espaço. Mas o momento mais intenso foi quando tive o contato com minha família por meia hora antes de partir. A gente nunca pensa que um dia podemos ficar afastados daqueles que amamos e este foi um momento único”, afirmou.
Depois da sua missão, a sua vida não parou e tem atuado como professor e palestrante, promovendo consultorias a diversas empresas de pequeno, médio e grande porte, no Brasil e no exterior. O Agora atua como Coach Especialista em Performance e Desenvolvimento Pessoal e Profissional, Professor e Pesquisador convidado do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico e Embaixador Mundial da WorldSkills International para o ensino profissionalizante, Embaixador no Brasil da Fundação FIRST para a promoção do ensino científico, Embaixador das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes.
“O nosso trabalho na fundação é voltado para crianças e adolescentes, é de gotinha, aos pouqinhos, mas ajudamos a juventude a pensar em melhorar a ciência do país. Todo mundo junto consegue fazer a ciência ser desenvolvida. Lá temos aulas de radioamador, robótica, foguetes, aerodinâmica e dentre outras atividades. A gente primeiro faz aula prática e transformamos em teoria. Praticamente um laboratório invertido. Podemos ensinar ciência de forma mais simples.”.
Ainda tem empresas relacionadas ao desenvolvimento tecnológico e quatro livros publicados. “O segredo para conquistar os nossos sonhos é não se acomodar. Se a vida estiver muito estável, porque algo está errado. Precisamos mudar sempre”, comentou.
Pontes durante toda a palestra mostrou um carinho especial por Natal, mostrando o registro da cidade numa fotografia feita por ele no Espaço e enfatizar que sua esposa, Fátima Cavalcanti, é natural da cidade de Angicos, região Oeste do Estado, para o delírio da plateia que estava presente. “Ainda guardo algumas lembraças da cidade, tenho parentes e amigos que moram por aqui”, finalizou. Se teve alguma consequência na saúde, Marcos respondeu que sim, no qual recentemente fez uma cirurgia no ouvido direito. “Por favor, falem mais alto, que eu estou meio surdo mesmo (risos)”, brincou.
Hoje, ele acompanha os avanços tecnológicos graças ao espaço, desde que foi para Estação Espacial, há 12 anos, principalmente na parte de gerar novos empregos. “Melhorou bastante o Programa Espacial Americano e a participação do capital privado por lá ajudou no desenvolvimento de novas empresas voltadas para o desenvolvimento espacial, permitindo, assim, a criação de equipamentos que poderão ajudar nos futuros projetos de pesquisa para o Planeta Terra e lugares mais longíquos do espaço, como asteróides e outros planetas”, finalizou.
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