Sempre que vou ao Centro de Natal, principalmente na Cidade Alta, sempre trago alguma lição. Aquilo é o coração da cidade pulsando o tempo todo, onde estão os principais bancos, igrejas, lojas, escolas, dentre outros lugares. É onde você vai encontrar aquele tecido para ser usado no vestido para a festa da sua amiga ou beber aquele mate gelado quando o termômetro bate 30 graus. De domingo a domingo sempre tem alguma coisa rolando. Sempre vai ter gente. Lá é onde vemos o desenvolvimento da cidade e também a história da capital que começou a desenvolver do centro para a praia, diferente de algumas cidades do Nordeste.
O relógio bate 18 horas na cidade, como as pessoas chamam o Centro de Natal, as seis badaladas do relógio na antiga catedral, a matriz de Nossa Senhora da Apresentação dispara. As portas do comércio estão fechando. Natal já apresenta um céu estrelado e escuro, as ruas deveriam estar vazios, principalmente por ser um sábado, porém a galera ainda continua circulando no bairro de Cidade Alta. Diferente do shopping, quando todas as lojas fecham é hora de ir para casa, o povo não quer sair, você tem diversas opções. Sai as lojas, entra a vida noturna.
No por-do-sol, as pessoas já ficam no Bar do Zé Reeira, que fica na lateral da avenida Rio Branco, próximo do histórico prédio onde fica o campus de Cidade Alta do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Imagina como somos privilegiados ao beber, escutar samba e brigar com o nosso cérebro por olhar ao por do sol com o rio Potengi ao fundo e querer ver os prédios antigos que estavam em volta. O Zé Reeira é um espaço para descanso, mas também é o local onde as pessoas conseguem unir festa com o protestar político. Mostrar a sua insatisfação. Quer saber a opinião pública? Visite o local, sempre acompanhado de um litrão, por gentileza!
Tudo fica perto, se está cansado de ir ao bar, você pode andar pelas ruas da cidade, no qual enxergamos o antigo e o novo na mesma rua. Alternando em casas antigas, novas e reformadas misturadas em um mesmo balaio.
Na rua Vigário Bartolomeu com a Gonçalves Lêdo (Elas se misturam, principalmente quando a mesma é cortada pela Rua Heitor Carrilho) está o Bardallos. Não é chique, como aqueles bares de Ponta Negra ou sofisticado como os de Petrópolis. Mas lá você ver todo o tipo de gente, do médico ao sindicalista. Do estudante ao político com grandes culhões. De dia, ele funciona como um self-service para almoço. A noite, no entanto, está sempre lotado, onde sempre rola shows de artistas alternativos locais e lançamento de livros. Quando fui no lançamento da antologia Blackout, organizado por Ayrton Alves e Vitor H Azevedo, as pessoas entravam e saiam o tempo todo. Ora para comprar o livro, ora para beber cerveja. Quase criava um congestionamento das pessoas, por ficar querendo ficar brechando os inúmeros quadros que estavam na parede.
Um corredor de luzes meio foscas, ladeado de mesas, quadros e detalhes minimalistas é a característica principal. Enquanto o lançamento rolava, a juventude e a antiga boemia se mistura. As pessoas sempre reclamam que a próxima geração sempre é a pior, mas as diferentes gerações estavam se cruzando, conversando sobre Nietzsche e Balzac como se fossem velhos irmãos enquanto Luan Bates, banda nova na cena alternativa de cidade, tocando ao fundo. Não discutira sobre boletos e trabalho. Deixava isso para semana. Bardallos é um evento de cultura. E cultura falaremos.
Parece estranho andar no centro da cidade em um sábado a noite, mas é tanta gente circulando na rua, que dá vontade de fazer um city tour na cidade, visto que o bar fica próximo do tradicional Hotel do Sol, Igreja do Galo, Pinacoteca do Estado, Instituto Histórico e Geográfico e dentre outros prédios históricos.
Enquanto folheava o Blackout, lia aqueles poemas que retratam um pouco da capital potiguar, lembrando dos poemas dos poetas antigos da cidade que cresci lendo. Apesar de mostrar os novos poetas, tinha a união da nostalgia, no qual a publicação praticamente foi feita a mão, parecendo aquelas fanzines que eram datilografadas e duplicadas através de um mimeógrafo, assim como foi o Delírio Urbano, na década de 80, considerado a primeira fanzine de Natal.
As outras zonas Urbanas de Natal podem se modernizar, mas a Cidade Alta é democrática, ela recebe todo mundo de braços abertos. É um espaço de congregação, no qual nem as igrejas conseguem em retiros.
Que as pessoas continuem mantendo a chama do Centro da Cidade vivo!
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