Na data de ontem comemorou-se os 54 anos do Golpe Militar e mesmo com poucos documentos, o Brechando conseguirá contar um pouco do que aconteceu no Rio Grande do Norte. O estado presenciou a atrocidade destes 21 anos de tempos sombrios. Naquela época do Regime Militar, o RN era administrado por Aluízio Alves e Natal, por sua vez, Djalma Maranhão. Neste período, as campanhas políticas tiveram uma intensa participação de intelectuais, estudantes, trabalhadores e minorias. De acordo com o historiador Luciano Capistrano:
“O cenário pré-64 era de muita participação popular. A prefeitura promovia folguedos nos diferentes bairros, incentivava a leitura através de bibliotecas populares e a galera de arte.”.
Além disso, passaram-se 30 anos da Intentona Comunista, que ajudou a intensificar as mobilizações sociais tanto em Natal quanto em Mossoró, a segunda maior cidade do RN. Durante o Golpe, os sindicatos foram fechados e os seus respectivos líderes foram presos. Enquanto isso, o Djalma Maranhão foi preso e entregou o seu cargo. Já Alves foi um dos primeiros governadores a apoiar a Ditadura Militar. Neste período rompeu com os apoiadores de Maranhão e criou um confronto com diversos segmentos políticos, sem contar com a demissão de servidores que criticavam a sua gestão, desenvolvendo uma postura bastante autoritária.
Por falar em Alves, o mesmo contribuiu para o desmantelo das forças democráticas potiguares, além de ter ganhado em torno de 20 milhões de dólares dos Estados Unidos, os quais foram distribuídos para a agricultura, casas populares (nascendo, assim, os primeiros conjuntos habitacionais na capital potiguar, conforme falamos nesta matéria), pecuária, água, saúde e educação.
Durante a sua gestão, Alves participou do Relatório Veras, um dossiê de 67 páginas contendo acusações de subversão a diversos militantes sociais do Rio Grande do Norte produzido à época do Governo de Aluízio Alves, a fim de mapear e reunir em um documento todos os “subversivos” do Estado.
O documento foi produzido pela Comissão Especial de Investigações e ficou conhecido como Relatório Veras, fazendo alusão ao nome do delegado que presidia a comissão. Esta comissão tratou de perseguir os funcionários públicos acusados de subversão e comunismo. As investigações duraram cinco meses. Entre os meses de abril e junho, foram 83 indiciados e 60 denunciados pela 7ª Auditoria Militar do Recife. E, com base nas conclusões da Comissão Estadual de Investigação, o governo fez as demissões no Estado e no município: 13 demitidos, 9 aposentados e 1 em disponibilidade.
O Relatório Veras foi publicado no jornal O Poti (edição dominical do Diário de Natal), de 27 de setembro de 1964, mostrando ainda fotos de pessoas indiciadas, acusadas de subversão.
Os militares e o governo civil, usando-se de IPMs e comissões de investigações, chegaram a prender, torturar e exilar participantes do PCB, de sindicatos, do movimento estudantil, funcionários públicos e trabalhadores rurais. Muitas lideranças católicas que trabalhavam em prol dos sindicatos rurais eram igualmente acusadas de comunistas, ou de pactuarem com eles.
Após o Golpe Militar em abril de 1964, os novos governantes comemoraram através da Marcha Para Família em Deus Pela Liberdade, com o apoio no palanque de Aluízio Alves, o presidente do Tribunal de Justiça, Oscar Siqueira, grandes empresários e líderes de sindicatos patronais. Alguns intelectuais potiguares também apoiaram, como Onofre Lopes, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e o folclorista Luís da Câmara Cascudo, que assumidamente era a favor de medidas anti-comunistas.
Onofre Lopes também participou de um relatório que investigava os estudantes da UFRN que estavam projetando protestos contra o regime.
Aluísio Alves começou a contrariar os militares quando teve seus direitos políticos cassados durante o Ato Inconstitucional-5 (conhecido como o AI-5) e quando houve a criação do bipartidarismo, surgindo o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e Aliança Renovadora Nacional (Arena). Alves resolveu integrar o primeiro partido citado, que hoje é o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), cujo um de seus integrantes é o atual presidente da República Michel Temer.
Neste mesmo período, o ditador Emílio Médici foi quem mais aumentou as sessões de tortura. Na década de 70 surgiu os Esquadrões da Morte, que apareceram em todos os estados brasileiros, e visava em procurar integrantes que eram contra os militares.
Em suma, o Golpe Militar de 64 desencadeou uma ação rápida e fulminante, deixando rastros que existem até hoje. Vivemos em um estado onde as pessoas ainda acham que ser socialista é “comedor de criancinha” e que protestar não vai levar para alguns cantos. Relembrar a Ditadura Militar é mostrar que não queremos este tipo de Governo nunca mais.
Fonte: DH Net.
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