Crônica: Beijo de Dunhill

Crônica: Beijo de Dunhill

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Escutar ao som de Construção de Chico Buarque.

Ela já era taxada como a mais feia das filhas. Sua autoestima era tão escondida quanto dos cabelos crespos. Tentou estudar, mas sair do interior era um caminho árduo e complicado. Achavam inteligente, mas não bonita. Chorava demais, reclamava demais e era zombada por isso.

Achou que a terra da garoa prometida seria a sua mina de ouro. Foi com o que ela achava de príncipe. Os abusos não cessaram, foi primeiro nocaute.

Achava que o casamento melhoraria com a chegada dos filhos. Mais agressões e menos força ainda para se erguer. Achava que era tão insignificante que sempre dizia “sim” como uma forma de ser aceita.
Enquanto levava surras e xingamentos, o único beijo que recebia era de uma carteira de Dunhill, apreciada principalmente quando estava muito ansiosa. Os filhos a tratavam como se fosse a última.

Diziam que a amava, mas a mesma só chorava quando percebia que não conseguia criar os seus filhos por se sentir tão inútil. Não conseguia arranjar outro namorado, porque se considerava feia, e desalinhada.

O seu desalinho estava na sua bagunça e também na falta de zelo. Restando apenas o Dunhill.
Ficou 10 dias sem fumar Dunhill. No 11⁰ tragou como se fosse o último. Era uma tarde de domingo em que ela viu o mundo, resolveu sair de cena.


O cérebro disse: Está na hora de parar! E parou.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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