Clara expondo que ela é acima de tudo negra

Clara expondo que ela é acima de tudo negra

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Recebo a mensagem de Henrique, do Rizomarte Records, dizendo: “Ei, vai lançar o clipe de Clara veja!”. Inicialmente, era para ser uma matéria para anunciar a estreia, mas a mulher de um site só, não conseguiu. No entanto, isso quer dizer que eu desisti de falar sobre o assunto? Não, pois eu assisti o clipe de cores quentes e modernizando os elementos dos ancestrais africanos. Mas, a bela concepção também se mistura com a bela voz de Clara, que está há anos na cena potiguar, com “Clara e a Noite” e entre outros projetos.

Veja, portanto, o clipe no final da postagem. 

Mas, o seu clipe “Nega” poderia muito bem viralizar nacionalmente, uma vez que está com uma produção digna de cinema, a cenografia perfeita e, por fim, a fotografia, destacando as cores quentes, efeitos caleidoscópicos e o que tudo que Clara queria dizer ao falar que o nome dela é esse e que ela é negra, mesmo tendo uma pele mais clara. É uma forma de desabafar das afrontas cotidianas do racismo, no qual muitos negros de pele clara escutam as seguintes frases:

“Você tem uma pele muito clara para ser negra”.

“Você é morena”.

“Mas, você não é negra”.

É um mantra diário

Clara

A música tem esse efeito de repetição não é a toa, pois é uma forma de se reafirmar para si e aos outros que ela é “Negra”, em negrito, sublinhado e itálico para todo mundo saber. Os reflexos vindos na imagem o tempo todo enfatizam essa repetição durante os quatro minutos e vinte segundos de música.   Para que a concepção desta letra ficasse cada vez mais clara, o novo clipe de Clara teve a concepção de Alice Carvalho, Larinha Dantas e Sylara Silvério.

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As três meninas que mencionei, elas estão juntas em vários projetos. Esses que tentam resgatar as nossas raízes, fornecendo uma autoestima que muitas vezes são reduzidas à pó através dos estereótipos alimentados pelas revistas, TVs e, agora, os filtros do Instragram.

O título inspirado na Sankofa, tem o olhar no passado e na ancestralidade, trazendo pro hoje o que carregamos em nossas raízes. Sankofa, para quem não sabe, é um ideograma presente no adinkra, conjunto de símbolos ideográficos dos povos acã, grupo linguístico da África Ocidental.

Clara mergulha no seu universo de mulher negra, mãe e habitante da periferia, onde observa um estado de sítio permanente e não declarado ao mesmo tempo, o acolhimento da comunidade, do lugar em que vive há  mais de 20 anos.

Não foi só o clipe Negra que fala sobre racismo

O EP de estreia solo de CLARA foi todo pautado pela compreensão de onde vem. Além disso, uma forma de compreender as suas bases familiares, sociais, culturais e o reconhecimento de seu lugar no mundo. E, como resultado, compreender o seu lado mulher, mãe, filha, neta e como pessoa preta em um país historicamente racista.

“‘Negra’, por sinal, foi a primeira composição para o ‘Volte e Pegue’. Depois de todo o processo que alguns de nós passamos, me ver negra foi como um despertar, como expandir minha consciência. Essa canção vem com um rito de auto afirmação, um mantra onde afirmo e reafirmo pra mim mesma a minha negritude. No clipe exploramos a sensação de casulo, de estar dentro, se aperfeiçoando, se construindo, se fortalecendo para depois dar as caras ao mundo da melhor forma possível, forte, empoderada e pronta pras batalhas”, resume.

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Clara Pinheiro é cantora e compositora multi-premiada. Desde muito cedo se identifica com as artes, por isso estudou teatro durante dez anos. Aceitando um convite da banda de vanguarda Pangaio, subiu ao palco acompanhada com um grupo pela primeira vez em meados de 2006, passando pela Orquestra Boca Seca.

Em 2010 forma a banda Clara e a Noite para apresentar seu trabalho, mesmo ano em que ganha o prêmio de júri popular do Festival de Música do Beco da Lama (MPBeco). Por conseguinte, saiu em turnê pelo Nordeste e tocou nos mais importantes festivais do Rio Grande do Norte. Em 2014 fez uma turnê pela Europa.

Sobre o clipe Clara

O projeto teve realização da Dale! Produções Culturais através de recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte, Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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