Dia: 11 de fevereiro de 2017

  • Por que escreveram isso na Ribeira? Foi baseado em quem?

    Por que escreveram isso na Ribeira? Foi baseado em quem?

    Andando numa noite na Ribeira, mais precisamente na Avenida Duque de Caxias, eu encontro esta seguinte frase em um muro de um estabelecimento com placa de aluga-se:

    A Rua é A Pomba-Gira do Absoluto

    Assim como esta frase, o Brechando também apresenta várias visões das ruas natalenses e suas histórias.

    Aí fiquei me questionando: Quem escreveu esta frase? O que ela quer dizer? Então, eu vi o meu amigo e poeta Victor Hugo Azevedo tirando uma foto com o muro e se referindo ao poeta Roberto Piva, no qual é bastante conhecido pela cena alternativa da literatura e que faleceu em 2010.

    A frase não é exatamente um verso de Piva, mas uma adaptação dela. O verso verdadeiro quer dizer: “Eu sou a pomba-gira do Absoluto”.

    O poema completo, que está no livro Ciclones (1997), pode ser conferido a seguir:

    Poema vertigem
    Eu sou a viagem de ácido
    nos barcos da noite
    Eu sou o garoto que se masturba
    na montanha
    Eu sou o tecno pagão
    Eu sou o Reich, Ferenczi & Jung
    Eu sou o Eterno Retorno
    Eu sou o espaço cibernético
    Eu sou a floresta virgem
    das garotas convulsivas
    Eu sou o disco-voador tatuado
    Eu sou o garoto e a garota
    Casa Grande & Senzala
    Eu sou a orgia com o
    garoto loiro e sua namorada
    de vagina colorida
    (ele vestia a calcinha dela
    & dançava feito Shiva
    no meu corpo)
    Eu sou o nômade de Orgônio
    Eu sou a Ilha de Veludo
    Eu sou a Invenção de Orfeu
    Eu sou os olhos pescadores
    Eu sou o Tambor do Xamã
    (& o Xamã coberto
    de peles e andrógino)
    Eu sou o beijo de Urânio
    de Al Capone
    Eu sou uma metralhadora em
    estado de graça
    Eu sou a pomba-gira do Absoluto

    (ciclones, 1997)

    Muita gente fica chocada com a palavra “Pomba-Gira”, mas se você for realmente pesquisar sobre a palavra, a mesma significa uma entidade de cultos Afros, vem aos nossos terreiros para nos auxiliar, orientar, amparar, aconselhar, etc. Ou seja, ela tem mil facetas. Já a palavra “absoluto” vem do latim solutus ab omni re, compreendendo o que é “em si e por si”. Muitas vezes é utilizado como sinônimo de “Total”, “Todo” ou “Pleno”. Portanto, a pomba-gira do absoluto pode ser interpretado como as várias facetas de tudo.

    Quer dizer que o Piva considerava um homem de mil e uma faces. Assim como a rua, nenhuma via da cidade é igual a outra, sempre tem as suas facetas. Na verdade, isto é uma interpretação minha, pode ser quem pintou o muro com esta frase pense de outra forma.

    Não é a primeira vez que poetas brasileiros inspiraram os muros natalenses, já falamos que o cantor e compositor Cícero teve versos de suas canções espalhadas na Rua Ulisses Caldas, no qual pode conferir este texto aqui.