Me apresentei no Pole Dance na praia

Me apresentei no Pole Dance na praia

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Um artigo bem jornalismo gonzo tradicional no Brechando para falar como foi apresentar pole dance no meio da praia de Ponta Negra.

No domingo de carnaval eu torci meu pé no meio do bloco “Acorda, Clubber”. Além de ficar preocupada como seria recuperação, temia que não conseguisse fazer atividades que gostava de fazer: como bater perna e praticar pole dance. Entre idas e vindas, desde 2017, eu pratico algo que não é apenas, para mim, um exercício físico. Apresentar pole dance na praia de Ponta Negra foi mais que um desafio, uma lista de coisas felizes que a prática me proporcionou.

O Pole Dance é uma manifestação artística, combate ao machismo, resposta do meu corpo gordo à uma sociedade gordofóbica que posso ser forte e que me ajuda a resistir ao estresse da vida adulta. Desde 2022, eu voltei a fazer regularmente e não teve jeito. A ideia era voltar depois do carnaval e começar a praticar.

Terminando um mestrado profissional em comportamento do consumidor na UnP, começando o mestrado acadêmico de Estudo da Mídia da UFRN e ainda tendo meus trabalhos para pagar os boletos, o pole é uma válvula de escape.

A torção do pé tinha que ser recuperada em tempo recorde. Minha impaciência e vontade de me curar logo fez com que seguisse o tratamento a risca, resistir as dores no tornozelo e três semanas depois comecei a dar meus primeiros passinhos, mesmo tendo dor. Além disso, tinha que calcular os lugares acessíveis para não piorar.

Senti a segurança de ir ao Pole Dance

Na segunda semana de março, eu voltei ao Pole Dance sabendo que iria ter o evento “Pole na Praia” para se apresentar. Todo mundo queria saber se conseguiria me recuperar a tempo, principalmente me angustiava, porque a performance seria uma semana antes do meu aniversário e ainda mais seria uma forma triunfal para dizer que voltei.

Assim que voltei a trabalhar, o horário de almoço ficara ouvindo a música e anotando o que iria fazer de coreografia. Pensei comigo mesma: “Preciso sentir a musicalidade e as batidas da música.”. Escolhi “Caeu”, de Liniker, por gostar do artista e a mesma me acompanhar em momentos difíceis e extremamente e intensamente românticos.

Precisava expressar o sentimento do eu-lírico através de uma coreografia que imaginei poderia ser simples de executar. Não pensei em passos mirabolantes, só sentir e fluiu. Nem passava por minha cabeça de que iria ser ao ar livre e não em um teatro.

Foram quatro ensaios em uma semana

Após voltar aos treinos, a segunda ou terceira aula dediquei a coreografia, no qual já disse que vou falar o que sinto ao escutar a canção. Então, com uma câmera, a gente filmou a primeira vez que dancei e a vontade era de chorar por ter expressado tudo aquilo que estava apenas no papel.

Meu tornozelo dóia e dava sinais de retrocesso, mas resistia e seguia aos tratamentos firmemente. Por isso, a importância de um bom aquecimento e saber a hora de parar.

Com a ajuda da professora Olívia Macedo, a gente limpou alguns vícios e ficava se filmando para ver o que podia melhorar mais. “O movimento fica melhor na barra giratória”, aconselhou., Para quem não sabe, a barra pode ser giratória ou fixa. Naturalmente, prefiro a fixa, principalmente por executar melhor movimentos de força. Mas, Olívia me convenceu que por ser uma dança, eu tinha que dançar com a barra, como se fosse um parceiro. Concordei.

Temível dia que dancei no palco móvel pela primeira vez

Tentei ir ao treinamento do palco móvel, mas os dias de trabalho e mestrado foram muito intensos. Logo, só havia treinado dentro do estúdio. As minhas companheiras de apresentação mostravam os vídeos no palco móvel e via que por não fixar no teto, a barra balançava muito.

Meu medo de cair triplicou e de pagar um tremendo mico. E agora? Eu nunca tinha praticado. Respirei fundo e me encontrei no dia do ensaio geral.

Testei pela primeira vez a roupa da apresentação e o palco. A meta não era errar e muito menos ter medo. Então, fui aquecendo e vi como as meninas estavam fazendo para ter coragem. Entre um intervalo e outro pedia para subir. Quando vi que subir era tranquilo, me senti mais segura.

Então, subi várias vezes antes de começar minha coreografia. Após dançar e vi que conseguia fazer todos os passos perfeitamente, relaxei e vi que tinha que repousar.

Dia da apresentação: Bateu o nervosismo

A apresentação segui o conselho da professora, dormi oito horas, tomei café da manhã, bebi líquidos e comecei a me arrumar. Foi aí que o nervosismo bateu enquanto tinha que me depilar, fazer maquiagem, lavar o cabelo, finalizar os cachos e arrumar minha mochila em menos de duas horas.

Enquanto fazia essa lista, eu tinha que procurar uma inteligência emocional para que nada pudesse dar errado e procurar técnicas para sair como tudo planejado. Se tivesse imprevisto, era plano b, c…

O medo de chegar atrasada acontecia, mas tinha que procurar soluções e a rede de apoio foi fundamental. Minha família me ajudou com o almoço, enquanto minha irmã chegava na praia para me acalmar e dizer que tava tudo bem. Meu namorado apareceu e trouxe água para me hidratar. Meus pais trouxeram mensagens positivas no Whatsapp.

apresentei Pole Dance na Praia

A apresentação parecia que tudo estava distorcido em minha volta, só estava eu e a barra se olhando. Quando ouvi a música tocar, foi tão natural que comecei a fazer os passos e estava fluindo. Os aplausos me deram força, principalmente quando fazia algo que era incapaz de pensar que conseguiria fazer em menos de uma semana.

Ignorei que estava me apresentando em Ponta Negra, no calçadão, na frente de gente desconhecida, turistas e afins. Parecia que estava me apresentando em um palco de teatro ou anfiteatro.

Quando tocou o último verso e fiz passo final, só olhava para o céu, agradecia e não acreditava que consegui fazer uma performance em menos de uma semana. Era mais uma vez o pole dance me mostrando que posso ser o que quiser.

Minha irmã me filmou e me senti maravilhosa, olhava meu rosto no espelho também. Espero que este dia tenha entrado para história.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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