Era apenas um flerte quando Geovana Grauner e Alex Duarte começaram a se conhecer. O que era para ser uma simples ficada, virou uma grande amizade e parceria musical. Agora, vocês vão conhecer a banda Unidade e Contradição, por Alex Duarte e Geovana Grunauer.
Alex Duarte: Conheci Geovana através da não monogamia, o que foi muito legal, porque foi na prática aquilo que muito se fala: a possibilidade de desenvolver as relações para outros campos afetivos, ampliar, crescer e construir algo juntos. As parcerias musicais e artísticas são a realização concreta disso.
Geovana: Eu já nutria uma admiração por Alex pelos projetos musicais que ele está envolvido e pela maneira como ele se posiciona no mundo, mesmo sem ele ter conhecimento disso na época. Sempre o via no Beco da Lama, Zé Reeira, El Rock, Coletivo Viramundo e um belo dia criei coragem para flertar com ele, em 2019. Sem sombra de dúvidas, ele foi uma das pessoas que mais me incentivou a tocar e eu sou muito grata por esse chute que ele me deu (risos). Quem diria que tudo isso se firmaria numa amizade linda com alicerces fundadores nesse duo de doom. Jamais previa isso.
Alex: No decorrer de nossa amizade fomos descobrindo o quanto tínhamos em comum de gostos musicais. Isso acabou impulsionando a vontade de criar juntos algo, compor. Acabei descobrindo algo que eu já percebia, que Geovana é muito criativa e, portanto, uma excelente compositora. Começamos em jams e projetos com amigos.
A dinâmica sempre fluiu muito bem. Então, foi só uma questão de tempo para sair um projeto idealizado por essa construção. A pandemia acabou por ser catalisadora, depois de um tempo afastados um do outro, quando nos reencontramos, o processo criativo explodiu.
Geovana: Além das artes visuais, sempre fui fascinada pelo rock e pela música. Cheguei até a fazer aulas de violão quando era mais nova, em 2009/2010. Quando fiquei mais velha ganhei de presente uma guitarra e foi uma euforia indescritível, mas passei um tempo considerável sem tocar porque me achava incapaz. Como resultado, tinha internalizado a visão de “músico foda”.
Os artistas fissurados em solos técnicos (inclusive, nada contra) e isso acabou gerando um bloqueio em mim. Depois me dei conta de que faltava mais o exercício de voltar o olhar para dentro de mim, refletir sobre o que eu me identificava e definitivamente não era isso.
Os dois: O doom é um dos gêneros do metal no qual gostamos bastante, além do grunge, stoner rock. Então acabou sendo uma zona de convergência para ter como base as composições. As outras composições que estamos trabalhando para o full álbum, visto que terão essas outras influências que mencionamos.
O conservadorismo e seu espraiamento se apresenta em todos os âmbitos e níveis da sociedade, no metal não seria diferente. Por isso, o primeiro passo é reconhecer esse espaço como um ambiente a ser problematizado e passível de mudanças. No fundo, implica um resgate de sua origem subversiva. Então nosso papel é fazer uma crítica de fundo através da música e da estética geral da banda.
Banda: Como duas forças antagônicas que se complementam, a busca pela tentativa de equilíbrio nas relações e na vida de um modo geral sempre apresenta uma ruptura em algum nível, alguma oscilação contrária.
O nome do duo parte desse entendimento e de muitas outras questões envolvidas nessa dinâmica de equilíbrio que permeia o curso da vida. Aquilo que se apresenta como uno, em um outro momento, se mostrará contraditório. A ideia do nome vem desse movimento da vida, movimento esse incessante e incansável.
Em agosto de 2020 voltamos a nos encontrar, na casa de Alex e a partir disso, em jams, Geovana trazendo riffs e ideias, fomos somando com arranjos criados nesses encontros. Desta forma a música foi ganhando forma e corpo. Como já tínhamos a ideia de politizar o que iria sair, Geo deu vida à letra, e a arte como um todo.
O patriarcado e o machismo são a razão da masculinidade tóxica, que se refletem nesse falocentrismo que permeia as relações: o fato dos homens serem melhor remunerados do que as mulheres, de referências masculinas moldarem praticamente todos os âmbitos de nossa vida, do controle das subjetividades e modos de existir de pessoas que não se enquadram no status quo heteronormativo. Além disso, na cena do metal, isso é refletido na ausência de representatividade feminina LGBT ou não, e na insistência do patriarcado em definir os papéis que esses atores devem ter, quando lhes é permitido estar na cena. Até porque se pouco vemos essas pessoas ocupando esses espaços, embora muito provavelmente deve ser por não se sentirem bem acolhidas face às opressões que ali permeiam e isso deve ser discutido.
Banda: Temos consciência que nosso som não é o típico estilo que o “metaleiro” médio gosta. Entretanto, já temos algumas impressões positivas, claro que isso é daquele metaleiro menos tradicional e que se mostra aberto a outras propostas, na verdade é esse público que nos interessa.
Banda: Na verdade estamos na fase de lapidar as composições, em torno de 4 ou 5 músicas, fechando arranjos e letras, além de começar a ensaiar com uma baterista (Quel Soares). Dessa forma, nossa intenção é lançar um álbum ainda no ano de 2021.
Banda: Seria muito audacioso de nossa parte ter uma resposta pronta para essa pergunta, mas claro que nosso desejo é despertar e provocar reflexões críticas, na tentativa de plantar metaforicamente sementes para germinarem em um futuro menos distópico e opressivo, usando toda a potência inerente da arte para isso.