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  • Jornalista procura saber se Maria Boa estava em Natal na Segunda Guerra

    Jornalista procura saber se Maria Boa estava em Natal na Segunda Guerra

    São vários mistérios acerca da participação da Maria Boa, dona do principal bordel da cidade. A empresária virou tema de filme e destaque nos livros de história sobre a sua participação na Segunda Guerra Mundial. Por isso, o jornalista Leonardo Dantas, que tem o site P-47, foi saber mais.

    Para quem não sabe, Leonardo é jornalista e engenheiro civil apaixonado por aviões e pela Segunda Guerra Mundial. E demorou um tempo para que a matéria ficasse pronta.

    De fato, pouco há documentado e em contrapartida há muitos relatos, causos e estórias, como do homem que saiu escondido vestido de mulher para escapar da fúria da esposa e outras mulheres que esperavam na frente do prostíbulo ou do seminarista que entrou por engano no cabaré e foi resgatado pela Maria Boa em pessoa poupando o rapaz e a Igreja de qualquer constrangimento.

    Em pesquisa a jornais da época e documentos públicos, não é possível determinar exatamente quando Maria Boa abriu sua casa de prostituição, que em muitos textos é descrito como pensão, casa de drinks ou boate, localizada no bairro de Cidade Alta, na Rua Padre Pinto ou continuação da Rua Mermoz.

    disse Leonardo no post de seu blog.

    Mas, quando surgiu os primeiros registros de Maria Boa?

    Maria Boa nasceu como Maria Oliveira Barros, em 24 de junho de 1920, na cidade de Remígio (PB), mas teria crescido em Campina Grande até ser expulsa de casa pelo pai, no qual há divergências sobre o porquê do genitor ter tomado esta atitude. Independentemente, as justificativas eram machistas, porque uma teoria diz que a mesma foi expulsa por recusar a se casar e outra foi o fato de não ser mais virgem.

    O registro mostra que Maria mudou-se para João Pessoa com 13 ou 14 anos de idade para trabalhar como secretária de tipografia. Aos 15 anos, contudo, teve um namorado que terminou em decepção amorosa e, assim, parou na prostituição.

    Aos 18 anos veio morar no Rio Grande do Norte. Em seu artigo, Leonardo Dantas diz:

    É quase unânime que ela tenha chegado em 1940. Essa informação não resolve o impasse e ainda gera mais perguntas, quando iniciou seu próprio empreendimento e se os americanos frequentavam a casa. Como sabemos que ela nasceu em 1920, nessa época ela teria apenas 20 anos de idade, chegando numa cidade estranha, sem contatos e como garota de programa, então dificilmente teria condições de abrir seu próprio cabaré de imediato.

    Os relatos mais aceitos é que sua fama regional ultrapassou o estado da Paraíba e chegou aos ouvidos de uma cafetina local, a madame Georgina que administrava a pensão Ideal, também conhecida como Pensão Estrela, localizada na Rua Almino Afonso, na Ribeira. Como garota nesta pensão, logo Maria conquistou inúmeros fãs e recebia a atenção de inúmeros frequentadores.

    O jornalista também achou um recorte de jornal A Ordem de 1942 provando que Maria Boa estava em Natal durante a Segunda Guerra Mundial e quando os americanos estiveram na região.

    um recorte de um comunicado oficial informando telegrama retido em nome de Maria Oliveira Barros, na Pensão Ideal. Esse cabaré era muito bem frequentado e pode ter sido ali onde ela fez sua fama e pôde fazer alguma reserva financeira, atendendo provavelmente soldados cheios de dólares.

    Mas, os americanos não a mencionaram oficialmente

    Os militares americanos permaneceram na capital potiguar até 1946, no qual não há registros oficiais do Governo dos EUA ou de veteranos estadunidenses mencionando a Maria.

    Para o jornalista, isto é relevante, o Governo Americano queria que os seus soldados evitassem ao máximo de exposição para não ser chamados atenção, tanto pelos inimigos quanto de doenças.

    Com a chegada dos soldados e a frequência constante deles aos cabarés – um empreendimento que se espalhou por Natal e cidades vizinhas, como Macaíba e São José do Mipibu –, teve início a fiscalização por meio de postos de profilaxia com ajuda do Governo do Brasil. Esses posto acompanhavam a saúde das garotas e auxiliavam na emissão dos certificados indicando que aquele cabaré estava apto a atender os norte-americanos. Isso servia para conter qualquer epidemia de sífilis ou gonorreia entre os homens, pois muitos deles estavam para embarcar em direção ao front e soldado doente não combate.

    Um documento que ajuda nessa pesquisa é o informe publicado no periódico Foreign Ferry News, de 28 de novembro de 1943, que lista 17 locais proibidos aos soldados americanos, identificados como “Off Limit”. Caso algum militar fosse pego fora dos limites de áreas determinados, poderiam ser ditos e punidos disciplinarmente.

    Nos arquivos de jornais de Natal disponíveis na Biblioteca Nacional não há menções à pensão ou casa de Maria Boa antes de 14 de setembro de 1949, pelo menos não que tenhamos encontrados. E a citação em jornal envolve justamente uma investigação policial de trotes.

    A Base de Natal que levou a fama de Maria

    Mesmo que a Base Aérea de Parnamirim tivesse muito americanos, lá havia inúmeros soldados brasileiros. Logo, Leonardo concluiu que:

    A Conclusão que chegamos é que Maria Boa ganhou sua fama mesmo devido aos militares brasileiros, da Força Aérea (FAB), e foram eles que homenagearam a mulher batizando uma aeronave B-25 “Mitchell” e criaram o misterioso troféu “Maria Boa”, até hoje disputado entre os pilotos de caça brasileiros. Trata-se de um quadro com uma fotografia dela despida e de costas.

    A FAB se instalou a Base Aérea de Natal (BANT) em 1942 e cresceu com o fim da guerra. Passando a ser um dos maiores centros de treinamento aéreo da América Latina. Até hoje a Base Área é referência na aeronáutica.

    Ao longo dos anos, passou a receber cada vez mais militares, os quais se tornaram frequentadores assíduos das casas de diversão, entre elas, Maria Boa.

    Esse cabaré viu seu auge nos ano 1950 e 1960, anos após a guerra e saída dos americanos de Natal, e também vivenciou o declínio. A partir de 1970, mudanças sociais atingiram o Brasil com mudanças significativas nas leis e costumes, principalmente com uma maior fiscalização por parte do governo militar, que mirava entre outras coisas o tráfico e exploração sexual de mulheres.

    Os anos 1970 marcaram a decadência das casas de diversão, quando deixaram de ser locais frequentados por autoridades e figurões da sociedade, e passaram a receber frequentadores menos ilustres e com ficha policial. Além disso, os cabarés entraram nas páginas policiais como cenas de crimes e prisões. Com Maria Boa não foi diferente, sendo alvo constante de batidas policias, suas “meninas” presas por roubo e a casa recebendo vigaristas.