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  • Vamos falar do compositor “Mãos de seda, coração de ferro” do Impacto V

    Vamos falar do compositor “Mãos de seda, coração de ferro” do Impacto V

    A canção da banda Impacto V, “Mãos de seda, coração de ferro“, é uma das mais conhecidas no grupo e está no icônico clássico do rock potiguar Lágrimas Azuis. Mas, você sabia que o compositor da canção foi um guitarrista de uma importante banda de rock do Brasil?

    O guitarrista Piska foi o compositor da canção que abre o lado A do disco. Integrante do Casa das Máquinas, ele escreveu a música e a banda interpretou, virando um hino do rock do estado do Rio Grande do Norte.

    Mas, antes precisamos falar da banda. A banda surgiu em fevereiro de 1969, no mesmo ano que o Black Sabbath lançara o seu primeiro álbum botando o alicerce do Heavy Metal e o Led Zeppelin dominando as paradas britânicas com seu hard rock. Neste período, eles estavam dominando os shows na cidade, principalmente em Petrópolis. Na época, a influência era Renato e seus Blue Caps, Beatles, The Fevers e Golden Boys.

    O sucesso foi tão grande que começou a tocar nos estados vizinhos. No ano de 1973, eles foram ao Rio de Janeiro a convite de Leno, que trabalhava na gravadora CBS. O primeiro disco se chama Impacto V e mostra uma versão desenhada do grupo. O disco vendeu 80 mil copas, foi sucesso no Nordeste e continha vários covers de músicas gringas e duas músicas inéditas.

    Somente em 1975 que lançaram o consagrado “Lágrimas Azuis” e hoje considerado um dos 10 discos mais raros do Brasil. Para o segundo trabalho, o lance foi investir em canções próprias. Na época, o produtor do grupo era o Leno, potiguar e fazia sucesso com a dupla com Lilian.

    Na época trabalhou com inúmeros compositores, como Raul Seixas. Mas também um deles foi o Piska, guitarrista do psicodélico Casa das Máquinas.

    História de Piska, compositor desta canção do Impacto V

    Seu nome é Carlos Roberto Piazzoli, nasceu em 22 de abril de 1951. Ele era considerado autoditada, uma vez que começou a tocar bateria, baixo, teclado e guitarra. Em 1970, começou sua carreira bandas. Mas, somente em 1973, conhece o ex-baterista de Os Incríveis, Netinho, que estava montando uma nova banda.

    Com o grupo, Piska grava 3 álbuns de estúdio pela gravadora Som Livre. O primeiro autointitulado, de 1974, sofre com a multiplicidade de orientações: o disco mistura letras que falam sobre espiritualidade com outras juvenis ao estilo da Jovem Guarda e, em relação aos instrumentos, existe uma mistura de hard rock, rock and roll e baladas.

    O segundo, Lar de Maravilhas, lançado no ano seguinte, traz uma firme orientação rumo ao rock progressivo com letras espiritualistas de tom contracultural.

    O último, Casa de Rock (o mais famoso do grupo), de 1976, apresenta uma mistura coesa de hard rock com rock progressivo.

    Crime poderia acabar com a carreira

    Em 17 de setembro de 1977, o guitarrista e o então vocalista da banda, Simbas, juntamente com o irmão adolescente deste último e com Sidnei Giraldi envolveram-se em uma briga com um motorista, João Luís da Silva Filho, e um cinegrafista, Lucínio de Faria, ambos da Rede Record.

    O cinegrafista ficou gravemente ferido, mas foi orientado por funcionários da emissora a não procurar nem a polícia nem um hospital. Entretanto, com a piora no estado de saúde do cinegrafista, ele foi encaminhado a um hospital em Santo André onde foram constatados hematomas nas pernas e no abdômen, que resultaram em ruptura do fígado e lesões pulmonares, devido a costelas quebradas.

    Em pouco tempo após sua admissão, Lucínio morreu devido aos ferimentos. As lesões no fígado foram determinantes para o óbito, já que o cinegrafista já tivera problemas hepáticos. Na época, os jornais exploraram bastante a briga e pediam a condenação do grupo.

    Confira um dos trechos do jornal:

    Briga na Record mata o câmera Lucínio de Faria

    Folha de SP – 20-set-1977 – Primeiro Caderno

    A briga entre dois músicos do conjunto “Casa das Máquinas” e dois funcionários do Canal 7 (TV Record) em São Paulo – que provocou a morte do câmera-man (sic) Lucínio de Faria e ferimentos graves no motorista João Luiz da Silva Filho, aconteceu no sábado, mas só foi registrada na Polícia no domingo à noite. E só ontem a tarde o delegado Manoel Levino, da 15ª DP (Itaim Bibi), começou a intimar os envolvidos. Entre eles o Cantor Nivaldo Alves Horas, conhecido como Simba, de 25 anos, seu irmão menor Nelson, de 17 (os outros membros do conjunto souberam do caso mais tarde), o motorista João Ruiz e o funcionário da Record Vady Gragnandini, acusado de ocultar a briga por temer que os envolvidos perdessem o emprego.

    O processo se arrastaria nos anos seguintes, levando os músicos a 2 julgamentos diferentes, devido a anulação do primeiro júri. Apenas no final dos anos 1980, eles seriam completamente inocentados da acusação de homicídio doloso

    Pós-julgamento e ressurgimento no sertanejo

    Piska numa foto já na fase produtor

    Devido aos problemas legais, a banda acabou em abril de 1978 e Piska passou a atuar como músico de estúdio e de apoio em turnês para artistas ligados à MPB, como: Gal Costa, Zizi Possi, Caetano Veloso, Ney Matogrosso e Elis Regina. Com Ney, viajou por América e Europa em extensa turnê de muito sucesso. Com Elis, participou das gravações de seu último álbum de estúdio, Elis, pela Odeon.

    Em 1989, conhece o produtor e compositor César Augusto que o apresenta à música sertaneja. Passa, então, a trabalhar como compositor, arranjador e produtor – além de guitarrista e tecladista – em diversos discos desta vertente, especialmente de Leandro & Leonardo, Chrystian & Ralf, João Paulo e Daniel, Zezé Di Camargo & Luciano e Chitãozinho & Xororó.

    Assim, é responsável por diversos sucessos destes artistas, como “Um Sonhador” (Tim Bernardes fez um cover), “Louco por ela”, “Alguém”, “Pare!” (usado na sonoplastia dos programas de autidório) e “Bandido É o Coração”.

    Trabalhando com o estilo, desenvolve um estilo que mistura guitarras com arranjos sertanejos, utilizando-se de técnicas de rock e de heavy metal, além de fazer muito metaleiro escutar estas canções escondido.

    Morte

    Piska em uma das apresentações

    Em 2009, Piska descobre que sofria de Hepatite C, passando a ter problemas hepáticos Devido a natureza da doença, o artista entra na fila de transplantes. Entretanto, em 30 de dezembro de 2011, Piska morre na capital paulista de falência múltipla de órgãos.