Quando se pensa em metal natalense, não podemos esquecer de jeito nenhum da loja Whiplash, criada por Luziano Stanley, que foi um marco na cultura potiguar e reuniu não só amantes do heavy metal, mas também na formação de bandas que estão em atividade até hoje. Matéria foi uma das vencedoras do prêmio Carlão de Souza, da lei Aldir Blanc, da Fundação José Augusto.
Hoje escutar metal é só pesquisar pelas bandas no Spotify, You Tube ou baixar em um site de mp3. Antigamente, coletar o nome destes artistas era quase uma missão bem Indiana Jones, no qual teria que desbravar por terras desconhecidas e que poucas pessoas tinham acesso. As lojas de discos foram um ótimo instrumento para espalhar artistas e música boa. Com o Metal isso não diferiria, visto que um ex-funcionário de uma loja de discos resolveu abrir um espaço de sua casa para montar a sua própria loja.
A Whiplash fez parte da vida dos natalenses e foi inaugurada na década de 1980 por Luziano Rock Stanley, que antigamente trabalhava num outro estabelecimento que vendia discos. Era um vasto colecionador de discos importados e outros artigos que deixaria qualquer metaleiro louco. Depois começou a vender estes mesmos dentro da sua casa.
Se você conhece bandas de heavy metal do Rio Grande do Norte, como Sodoma, Hameron ou Deadly Fate, agradeça por existir esta loja há mais de 30 anos e chacoalhou a cultura potiguar, mesmo que a mesma seja importada.
A demanda cresceu e criou uma loja. E as pessoas realmente gastavam os itens caros, numa época que o Brasil dos anos 80 passava por uma alta inflação e o dólar era bem mais acima dos cinco ou seis reais que encontramos por hoje. Os adolescentes amavam aquele período e relembram com bastante nostalgia.
O jornalista Conrado Carlos era um entusiasta da loja, onde passou boa parte da infância vendo as pilhas de discos de metal, no qual muitas vezes batiam no teto. Além disso, ele afirma que mantém a amizade da galera da Whiplash até agora.
Em entrevista, ele relembrou o dia que comemorou a sua aprovação no colégio na loja de discos.
“Eu pegava um ônibus, parava no IFRN, quando ainda era Etfrn, andava um pouquinho. Chegava na loja. Um dia estava em recuperação na escola em três ou quatro matérias, precisando de nota alta, e era certo a reprovação. Meu pai, desesperado para que isso não acontecesse e sabendo que gostava de ir para lá, deu a última cartada dizendo que se não passasse, eu não dou dinheiro para você comprar três discos na Whiplash. Estudei bastante e passei. Comprei três discos do Anthrax”.
Desses três discos, o Conrado comprou um disco do Anthrax em formato EP, que era com menos músicas e mais barato em relação aos outros. “Comprei no preço de um LP, aí o pessoal ficou rindo e eu acreditando que era porque não gostava da banda. Depois que percebi que paguei mais caro pelo disco. Hoje, quando reencontro os amigos, já adultos, eles fazem questão de relembrar desta história. E começamos a rir sobre este episódio”.
Numa época sem rede social, a propaganda feita pelas próprias pessoas ajudou para que a loja ficasse famosa e ficava no meio da Avenida Senador Salgado Filho. O local era perfeito para quem quisesse saber um pouco mais daquela cena pesadona.
Conrado Carlos lembra que aquilo era um paraíso para aqueles que curtiam o estilo. “Eu me lembro da primeira vez que vi os discos do Venom e eles ficavam lá no topo das pilhas. Aí pedia para ver e pedia o irmão de Luziano, que ajudava na loja, e subia para pegar. Era um trabalho danado para fazer isso. Com Luziano não tinha coragem de fazer isso (risos)”.
O sucesso da loja estimulou que fosse criada várias bandas de metal vindas do Rio Grande do Norte. Sabendo disso, Luziano criou o selo Whiplash Records, onde lançou coletâneas e foi fazer diversas excursões para os shows de bandas gringas em outras cidades brasileiras, como São Paulo. Entretanto, uma tragédia aconteceu.
No ano de 1992, Luziano faleceu após uma complicação na leucemia. Deixando muitos metaleiros órfãos de um dos pioneiros da divulgação deste estilo na cidade. “Quando ele estava presente na loja, as pessoas faziam questão de conversar para falar sobre as mais diversas bandas, o negócio ficava mais profissional mesmo”, relembrou.
Hoje, a primeira (e única) coletânea da Whiplash, em 1990, é considerada um clássico do metal natalense e brasileiro, uma vez que é considerado o primeiro disco de Heavy Metal produzido no estado potiguar.
O lado A do disco é formado pela banda Crosskill e Hammeron. Já o outro é pela banda Ausschwitz e Deadly Fate. Na época, eles eram os principais expoentes do metalzão. Sim, apesar do nome ser “Whiplash Attack Vol. 1”, esta foi a única coletânea do selo de Luziano, que cantou neste álbum com Hammeron.
Hoje é uma obra rara, até mesmo para colecionadores de LPs. O disco fez tanto sucesso, que os grupos fizeram turnê em outros estados do Nordeste. Além disso, chamou atenção dos principais jornais da cidade, como a Tribuna do Norte.
É normal você ouvir alguém da Paraíba dizendo que já escutou essa maravilha. O disco também chamou atenção dos jornais tradicionais da cidade, veja a seguir a publicação do caderno de cultura da Tribuna do Norte.
No livro “100 discos de rock potiguar para escutar antes de morrer”, o jornalista potiguar, Alexis Peixoto, diz: “Primeiro disco de metal no Rio Grande do Norte, esta coletânea é também o melhor registro da cena headbanger que tomou de assalto a capital potiguar da época, o álbum é prova da boa fase criativa que as bandas atravessavam, transitando entre o heavy metal tradicional, thrash e death metal.”.
Das quatro bandas, apenas o Deadly Fate e Croskill continuam em atividade. Falando em Deadly, neste disco traz a primeira versão de “Black Helmet”, que regravaram 14 anos depois, em 2004, para o segundo álbum “Black Helmet”.
Aonde comprar aquele disco maroto do Mötorhead? Onde eu iria achar The Number of The Beast, do Iron Maiden? Queria que tivesse a Whiplash na minha vida, pois não compraria discos de heavy metal na internet. Essa loja de discos fez parte da vida dos natalenses e foi inaugurada na década de 1980.
Os rapazes e moças vestidos de preto e causando espanto na tradicional Natal era comum circularem na principal avenida da cidade para discutir a cena do metal, montar bandas e falar da cena em sua totalidade.
Luziano era um vasto colecionador de discos importados e outros artigos que deixaria qualquer metaleiro louco, depois começou a vender estes mesmos dentro da sua casa. A demanda cresceu e criou uma loja. Se você perguntar por Luziano para qualquer metaleiro natalense acima de 35 anos, eles sempre vão ressaltar a importância dele para o cenário, que já teve muitos altos e baixos.
Numa época sem rede social, a propaganda feita pelas próprias pessoas ajudou para que a loja ficasse famosa e ficava no meio da Avenida Senador Salgado Filho.
O local era perfeito para quem quisesse saber um pouco mais daquela música Made in England e comprar aquele disco raro. O foco dos clientes eram jovens de 15 a 22 anos. Coloquei esse termo, pois o Metal nasceu na zona industrial da Inglaterra, onde nasceram as mais variadas bandas, como o Black Sabbath, liderada pelo cantor Ozzy Osbourne, e o Judas Priest.
O guitarrista Alex Duarte, que toca em várias bandas da capital potiguar, dentre elas a Morto e Open the Coffin, relembrou quando ainda adolescente e estava começando a ouvir o estilo quando frequentava o Whiplash. “Quando me perguntam sobre a loja, a minha primeira memória foi comprar uma fita cassete que tinha no lado A o Cannibal Corpse e do outro uma banda chamada Overflash. Saí de lá bastante feliz”, relembrou.
Foi o sucesso da loja fez com que criasse o selo Whiplash Records, onde saiu a coletânea citada acima. Mas, eles lançaram discos de outras bandas do Rio Grande do Norte. Além disso, fez diversas excursões para shows internacionais e de outros estados, no qual essa tradição se repete até hoje com outras pessoas.
Mesmo Luziano e a Whiplash tenham deixado a sua presença física, o legado estará sempre presente, visto que marcou uma época definida pelo amadorismo e paixão. Anos depois, um grupo criou um bar aonde funcionava o Whiplash e colocou o mesmo nome como uma homenagem ao alicerce do metal potiguar. Entretanto, o espaço fechou em meados de 2013/2014.
O jornalista Hugo Morais, editor do portal “O Inimigo”, conhecido por divulgar música independente, reconhece a importância do estabelecimento, tanto em seu formato de bar quanto na loja de discos. “Era o lugar onde os headbangers se encontravam em Natal para ouvir música, ver vídeos e comprar materiais. Na época Áurea já fui. Mas antes do fechamento total, fomos beber nos fundos do bar. É sempre era um ambiente de confraternização.”, comentou.
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte. Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.