Autor: Lara Paiva

  • Pesquisa potiguar ajudou a criar startup que identifica doença mental por meio de IA

    Pesquisa potiguar ajudou a criar startup que identifica doença mental por meio de IA

    Um estudo brasileiro liderado pela neurocientista Natalia Mota (foto acima do título), egressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O estudo utilizou inteligência artificial para analisar as formas de expressão de jovens em risco clínico de transtornos mentais. Toda essa matéria achamos na Agecom e vamos resumir aqui.

    A pesquisa, que conta ainda com participação de Marina Ribeiro, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática (BioInfo/UFRN), acompanhou 4.501 pessoas de 18 a 35 anos em São Paulo. Dessas, 174 apresentaram sinais leves de sofrimento psíquico e foram selecionadas para uma segunda etapa, com entrevistas presenciais.

    Após essa triagem, 71 participantes seguiram no estudo com dados completos. Os voluntários foram divididos em dois grupos: 42 pessoas com risco clínico (grupo CHR, da sigla em inglês Clinical High Risk) e 29 no grupo de controle.

    Desenvolvimento da pesquisa

    Depois de dois anos e meio, os pesquisadores observaram três desfechos. Entre os que estavam em risco, 15 pessoas ficaram bem sem desenvolver transtornos (grupo remitido), 23 foram diagnosticadas com depressão ou ansiedade e quatro evoluíram para casos de psicose.

    Antes desse desfecho, todos os participantes foram convidados a contar pequenas histórias com base em três imagens positivas. Essa atividade fazia parte de um protocolo simples chamado “Happy Thoughts”. As falas foram gravadas, transcritas e analisadas com algoritmos que criam uma espécie de “mapa” da narrativa: cada palavra é um ponto e as conexões entre elas são traçadas como linhas, formando uma rede.

    Este mapa foi criado por inteligência artificial. Para os pesquisadores, o que interessa aos pesquisadores não é apenas o conteúdo das histórias, mas como elas são estruturadas. Uma fala com muitas palavras diferentes e conexões variadas forma um mapa mais rico. Já uma narrativa com muitas repetições ou com termos que se conectam sempre da mesma forma gera um padrão mais fechado, mais previsível.

    Resultado da pesquisa

    O estudo mostrou que as pessoas que não desenvolveram nenhum transtorno ao longo do tempo foram justamente aquelas cujas narrativas apresentavam mapas mais variados, com mais ligações entre palavras diferentes. Já os jovens que mais tarde desenvolveram desordens como ansiedade e depressão tinham narrativas mais repetitivas e previsíveis.  

    Além da estrutura da fala, os pesquisadores também observaram o conteúdo emocional das palavras utilizadas. Mesmo ao descrever imagens de teor positivo, jovens que mais tarde foram diagnosticados com depressão ou ansiedade recorreram com frequência a termos associados a “tristeza”, “medo” ou “raiva”. Essa expressão emocional fora de contexto pode funcionar como um sinal precoce de alerta. 

    Toda essa medida foi feita por meio de uma métrica desenvolvida pela própria equipe de pesquisa, onde utilizavam a IA para comparar o discurso dos participantes era o mesmo ou variava dependendo do momento.

    A pesquisa também observou que a escolaridade influencia os resultados. Jovens com menos anos de estudo apresentaram maior gravidade dos sintomas, o que reforça a relação entre linguagem, cognição e vulnerabilidade emocional.

    Surgiu Mobile Brain: Startup brasileira vinda de pesquisa da UFRN

    Esse conhecimento fundamentou o surgimento da Mobile Brain, startup brasileira da qual Natália Mota é cientista-chefe. A empresa aplica princípios de neurociência computacional para criar ferramentas voltadas à saúde mental e à educação. Com base em teorias como a dos grafos, suas tecnologias analisam a estrutura de narrativas orais para identificar padrões associados a dificuldades cognitivas ou sintomas emocionais. 

    Um dos produtos da Mobile Brain, o LitMetrix, é usado para monitorar a complexidade narrativa de crianças em fase de alfabetização, ajudando a prever sua evolução na leitura e compreensão textual. A empresa esse ano lança um novo produto, o CogMetrix, que permite avaliar sinais como esses permitindo identificar grupos que necessitam de ações em prevenção e promoção de saúde mental em larga escala.

    Interessados em conhecer os serviços oferecidos ou entrar em contato com a equipe podem acessar o site: www.mobilebrain.com.br.

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