Mês: outubro 2025

  • [Artigo] Pombona ou capacitismo sutil

    [Artigo] Pombona ou capacitismo sutil

    A cada 11 palavras que ouvi acerca sobre mim, 22 foram pombona. Dialeto nordestino para se referir alguém que é idiota, retardada, burra, imbecil, lerda e todos os adjetivos para dizer que não tenho capacidade intelectual. Isto foi desde a infância, subiu para adolescência (direta ou indiretamente em relação aos meus amigos) e também na vida adulta.

    O meu principal questionamento: o que eu fazia para que as pessoas me relacionassem assim?

    Por um tempo, assim como outros que foram xingados de forma similar, mascarava, tentara seguir padrões sociais ou agir no caminho parecido com minhas influências. Pior que ficava menos natural ainda e mais motivo para esses xingamentos.

    É algo que me incomoda, porque nunca me senti incapaz intelectual muito menos tenho algum problema para conseguir os meus objetivos. Sempre é um esforço para provar o contrário, como tirando as notas boas na vida estudantil, mostrar que posso ser criativa ou que posso ter gostos diferentes.

    Ao mesmo tempo, em simultâneo, queria ficar mais na minha, curtir meus discos na vitrola, ler meus livros estranhos, gostar de sair apenas para os eventos que não estejam no TOP 50 do Spotify ou ficar escrevendo sobre as minhas observações.

    Não quero mais que meus trejeitos, a forma de andar e, principalmente, de falar não sejam motivos para que as pessoas a venham me repelir.

    Até eu perceber que esse termo, o pombão ou pombona, pode soar capacitista, principalmente se referir para xingar alguém que seja neurodivergente. Reconheço que não tenho dados suficientes, mas isto me trouxe muitos prejuízos sociais, como se abrir com as pessoas.

    O Transtorno do Espectro Autista (TEA), recém-descoberto, me fez relembrar muita coisa. Uma delas foi o retorno a raiva deste xingamento, ao ser uma ferida na minha autoestima por muito tempo e, principalmente, pelo fato de que não tinha o direito.

    Era um carimbo da invalidade como pessoa.

    Hoje, portanto, não me permito mais nem pensar assim, principalmente para curar aquela infância e adolescência ferida que ficava olhando no alto da passarela do Via Direta a cidade passar e pensar no futuro, antes de pegar aquele 46.

    Quero que aquela garota que tem mania de tatear as grades e muros com texturas estranhas tenha orgulho do caminho que passou. Mesmo diferente, aos olhos de alguns, conseguiu muita coisa.