“Faça a casinha”. Primeiramente, este bordão é muito comum de se ouvir na Frisson ou no Acorda Clubber. Depois, a autoria do bordão pertence a banda Taj Ma House. Ademais, o grupo se espalha a palavra da música eletrônica em Natal. O quarteto Frank “Pajux” Aleixo (voz e DJ), Janvita (vocal), Clara Luz Pinheiro (vocal) e Elisa Bacche na percussão está ficando cada vez mais popular. Embora todos já tenham experiência na cena cultural da capital potiguar há algum tempo, o encontro dos músicos está com sucesso que quase meteórico.

A apuração desta matéria foi feita em dois momentos, uma entrevistando Clara Luz durante o Festival Ponto de Ebulição e outra entrevistando Frank Pajux via DM de Instagram.
O grupo que hoje é referência na cena alternativa de Natal nasceu de encontros informais entre artistas locais. Além disso, Frank recorda que conheceu a cantora Clara Luz há mais de uma década, quando ela se apresentava em tributos a Tim Maia no Ateliê Bar, espaço que também recebia a festa Housaca, organizada por ele, que é radialista e professor de inglês.
Com Elisa e Janvita, que também já transitavam pela noite natalense, surgiu a ideia de criar algo coletivo. “O Taj Ma House começou quase improvisado. A gente juntava DJ set, voz, percussão, e dali nasceu a química. Até hoje mantemos esse espírito de experimentar e testar músicas ao vivo, mesmo antes delas estarem totalmente prontas”, afirmou.
Cena musical
Para a Clara Pinheiro, o grupo era um sinal do destino. “”Eu acho que o Taj é resultado de uma cena de música eletrônica de Natal. Eu costumo dizer que essa banda não nasceria em outro lugar, ela tem que ser daqui. Quando a gente sobe no palco, a gente tá fazendo um louvor, um culto à pista, à dança, à liberação, à felicidade”, comentou.
Crescer em um ambiente embalado por sons dos anos 70 e 80 moldou a trajetória de Frank Aleixo. Filho de uma casa onde sempre se ouviu disco e pop, ele pertence à geração que descobriu a música eletrônica através das coletâneas do Summer Eletro Hits, produzidas pela Som Livre.
Aos 18 anos, quando passou a frequentar os clubes de Natal, encontrou, por conseguinte, na boate um espaço de liberdade e acolhimento, especialmente para a comunidade LGBTQIA+. “Era o lugar onde a gente podia respirar, ser quem realmente era e construir novas possibilidades de vida, sempre embalados pela dance music”, relembra.

Foi em 2012, ainda na faculdade de Rádio e TV e já atuando como DJ, que Frank mergulhou de forma mais consciente na pesquisa musical. O ponto de virada veio ao ouvir o EP 1991, da rapper Azealia Banks. “Aquilo era tão bom e tão familiar, mas ao mesmo tempo novo. Descobri que se chamava house music e, a partir daí, fui entender que tudo o que eu ouvia nas pistas, tinha nome, história e ligação direta com a comunidade que eu fazia parte”, explica.
Entre inseguranças e descobertas
Apesar da experiência como DJ, Frank admite que subir ao palco como cantor foi um desafio. “Minha primeira vez cantando em público foi já com o Taj Ma House. Isso me assustou, porque a voz é um instrumento muito íntimo, mas, ao mesmo tempo, me fez aprender a cuidar dela e investir em preparação vocal”, relata. O DJ destaca que as inseguranças fazem parte do processo, mas que a pista de dança o ensinou a transformar erros em aprendizado.
Mais do que se apresentar, Frank vê no trabalho artístico um convite ao deslocamento do cotidiano. “É necessário que as pessoas saiam de casa, saiam do automático e vivam experiências diferentes. Eu também me movimento muito para ver os artistas que gosto. Então, ver o público presente nos shows é uma sensação de dever cumprido e de que estamos investindo energia para romper com a rotina tão dura que a gente enfrenta”, reflete.
O primeiro EP e turnê europeia
A banda se prepara para lançar o seu primeiro EP em outubro, poucos dias antes de subir ao palco do Festival Mada. O trabalho, intitulado ‘Taj’, terá três faixas: “Fazendo a Casinha”, uma espécie de tema de apresentação inspirado na disco music; um cover de “Fazendo a Cabeça” do Dusouto, clássico da noite natalense; e “Tem Que Ter House”, já conhecida do público. “É um disco que vem sendo lapidado com muito cuidado para soar bem em qualquer sistema de som. Estamos muito animados”, adianta Frank.
Recentemente, eles voltaram para Europa e Clara comentou um pouco desta experiência a seguir:
“A gente tocou em Natal, em Recife, e depois já foi para Europa. Então a gente, apesar de ter tido um tempo de experimentar esse show, cerca de um ano, mas ainda rolava um medinho, assim. Você está na Europa, você está vendendo um monte de gringo. Mas foi incrível, eles amaram, se jogaram”, disse.
Orgulho e sinceridade
Ao olhar para a trajetória do grupo, Frank destaca um valor que considera essencial: a honestidade. “O que mais me orgulha no Taj Ma House é a sinceridade de fazer algo que honra a nossa cultura, as pessoas que encontramos na pista e a nossa própria vontade de seguir criando. Temos fogo no rabo para continuar e isso é o que nos move”, conclui.
Para a Clara Luz, a recepção e o carinho do público está sendo, portanto, verdadeiro, no qual se sentem bastante orgulhosos. “E eu acho que isso é tão genuíno que as pessoas sentem isso e estão conosco, né? É ótimo saber que as pessoas do lugar da gente curtem nossa música e torcem pela gente. Estamos juntos”, finalizou.


