
O punk surgiu nos anos 70, na Inglaterra, por meio de bandas como The Clash e Sex Pistols. Mas, isto chegava na imprensa potiguar? Claro que chegava. Por isso, vamos repostar uma publicação do Diário de Natal de novembro de 1977.
A publicação foi assinada pelo jornalista Vicente Serejo, no qual escreveu na seção de “discos” algumas das tendências musicais daquela época, no período que tudo era imoral, ilegal ou engordava. Afinal, o período era Ditadura Militar e não viam com bons olhos o estilo musical.
Para Serejo, o punk: “Com o punk, literalmente moleque, a música voltou as ruas, aos capitães de bandos de molecagens, aos adolescentes rebeldes, quebradores de vidraças, carros, armazéns. Pois a filosofia punk é contestar tudo, leis, capitalismo”.
Somente no último parágrafo reconhece que The Clash está conquistando o pessoal, mesmo ele discordando do estilo.
Veja a matéria na íntegra a seguir:
The Clash, punk rock
Quem viu o filme “American Graffitti”, que retrata a juventude americana nos anos cinquenta (década do surgimento do rock’n’roll), certamente se recorda de uma cena na qual um grupo de rapazes de ter• ninho, topete com brilhantina e guitarras em punho. Anima o baile de um clube. O nome cio conjunto era Bill Haley e Seus Cometas e a música que tocavam se chamava “Rock Around The Clock”. O rock que causou a explosão desse movimento tão discutido e que está vivo até hoje. Até hoje? É a pergunta feitá por críticos, músicos. Produtores e pessoas ligadas ao meio.
Dos anos cinquenta para cá, o rock passou por várias modificações, que vieram a resultar nos mais diferentes de música, como o rock progressivo, o heavy metal rock e tantos outros. Esses estilos, apesar de possuírem ligações com o rock básico dos primeiros tempos. São muito mais ricos em sofisticação que o primeiro. Isso tem as suas vantagens e logicamente desvantagens também. Para citar apenas alguns exemplos, analisemos os grupos de música progressiva.
Com esses grupos, o rock atingiu o seu auge em termos de complexidade, não só na parte musical como também na visual. Aparelhagens gigantescas, efeitos visuais (inclusive raio laser), roupas brilhantes, verdadeiras manobras militares na saída dos concertos. Enfim, o músico de rock. O ídolo está afastando cada ver mais do seu público, como se fosse um Deus; o rock transformando-se de música de dança, música para o corpo, em música para mente. Hoje em dia, o garotão que vai a um concerto desses, não levanta da cadeira um minuto sequer.
O rock havia fugido do domínio dos rapazes que se iniciavam. Com o punk, literalmente moleque, a música voltou as ruas, aos capitães de bandos de
molecagens, aos adolescentes rebeldes, quebradores de vidraças, carros, armazéns. Pois a filosofia punk é contestar tudo, leis, capitalismo. Polícia, politica. Enfim, tudo que diga respeito a ordem. Idolatram a violência, umas roupas rasgadas (jeans e couro), e objetos comuns e sem valor (uma chapinha, por exemplo) como se fosse uma joia preciosíssima. Acarretam problemas incríveis para a sociedade em Londres e Nova York.
O Clash é um desses grupos violentos que canta o que não presta para a sociedade. Ele proclama o valor das drogas, o nojo pela proibição e outras anomalias em suas letras. Segundo a crítica especializada, a música do Clash (um rock de mar- cação cerrada), é a que melhor representa a ver- dadeira filosofia punk. Apesar da linha atrevida que percorrem, os rapazes estão sendo muito bem recebidos pela juventude mundial sem rechaços por parte das autoridades.