Guia completo para explicar o que foi a invasão Holandesa no Rio Grande do Norte

Por mais de 20 anos, Natal e outros estados do litoral brasileiro ficaram sob o domínio da Holanda. Entretanto, pensamos rapidamente nos santos mártires, mas o Centro Histórico de Natal e outros lugares do Rio Grande do Norte também tiveram as suas cicatrizes pelos neerlandeses. 

Edição/Texto: Lara Paiva

Invasão holandesa no Rio Grande do Norte

A Invasão Holandesa no Brasil foi um dos episódios que mudou a cena do Nordeste. Muitos se falam de Maurício de Nassau e sua contribuição com o estado de Pernambuco. Entretanto, no Rio Grande do Norte, a invasão foi marcada por violência não só entre os cidadãos, mas também em símbolos religiosos. Por isso, vamos montar um infográfico para explicar que este episódio, embora pareça que durou pouco tempo nos livros de história, durou anos.

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O reino de Portugal estava em crise. O desaparecimento de D. Henrique causou crises governamentais seríssimas. Primeiramente, ele não tinha filhos.

Logo, resultou na coroação de Filipe II, da Espanha, como rei de Portugal. Como desdobramento, as coroas de Espanha e Portugal foram unificadas sob o domínio do mesmo rei. Isso ficou conhecido como União Ibérica e representava, naturalmente, que mudanças drásticas aconteceriam nas relações diplomáticas entre Holanda e Portugal, pois a Holanda estava em guerra contra a Espanha desde 1568.

Assim, a Holanda criou a Companhia das Índias Ocidentais com foco na produção açucareira dos países.



Mapa de Natal na época da invasão holandesa

A guerra entre Espanha e Holanda tinha relação com a luta dos holandeses por sua independência, uma vez que até 1581, a Holanda estava sob o domínio dos Habsburgo, a dinastia que reinava na Espanha). Por conta desse contexto, os inimigos da Espanha tornaram-se os inimigos de Portugal. Além disso, surgiu a Companhia das Índias Ocidentais, cujo objetivo era tomar o controle dos locais produtores de açúcar de Portugal, bem como dos postos de comércios de escravos na África.

O primeiro alvo foi Salvador, em 1624, no qual conquistaram após um dia de batalha.  Depois de um ano, a resistência portuguesa conseguiu expulsar os holandeses de Salvador. Isso foi possível, na maioria, graças à chegada de aproximadamente 12 mil homens para lutar contra os holandeses.


Brasão da Companhia das Índias Ocidentais
Esse moço é o Maurício de Nassau

Após o fracasso na Bahia, eles optaram em invadir a capitania de Pernambuco. Em 1630, uma expedição holandesa formada por 65 embarcações e 7280 homens. Contudo, eles conseguiram conquistar Olinda, no dia de 14 de fevereiro de 1630. A partir de 1637, foi enviado o alemão Maurício de Nassau para administrar a colônia holandesa.

Nassau realizou inúmeras ações para o desenvolvimento da colônia.  Enquanto isso na capitania do Rio Grande do Norte foi totalmente contrário as atividades das terras pernambucanas.

“Pernambuco era o centro econômico daquela época. Além disso, era um ponto de produção e distribuição de cana-de-açúcar. A capitania do Rio Grande era o complemento financeiro, através da produção de carne e sal. Ainda mais a proximidade da África também ajudou a invasão nas terras potiguares”, disse o professor de história Henrique Lucena, em entrevista ao Brechando.

Como foi no Rio Grande do Norte

Primeiras tentativas

A primeira tentativa aconteceu em 1631, quando, segundo Câmara Cascudo, 14 navios tentaram embarcar, porém rapidamente foram derrotados. Mas, em 1633, veio uma segunda tentativa conseguiram fazer o seu feito.

Sucesso da segunda invasão

Quase dois anos depois, em 5 de dezembro de 1633, chegarem da capitania, os holandeses feriram o capitão-mor do Rio Grande, Pero Mendes Gouveia (por isso, a avenida Capitão-Mor Gouveia), e tomaram o Forte dos Reis Magos e Natal passou a se chamar de Nova Amsterdã.

Totalmente diferente de Pernambuco

Durante o período do domínio holandês, a Holanda se preocupava somente em dominar a explorar e ocupar a região, eliminando qualquer tipo de resistência, dentre as quais os massacres de Cunhaú e Uruaçu, ocorridas em 1645. Lá, eles conseguiram como aliados os índios tapuias para dominar as fazendas de gado.

O fim

O fim da Invasão Holandesa no Rio Grande do Norte aconteceu de forma similar às outras capitanias, no qual o reino de Portugal conseguiu desmembrar da Espanha, quando puderam retomar o avanço em direção ao interior nordestino, expandindo as fazendas de gado e perseguindo as etnias indígenas. Somente em 1695, quando Bernardo Vieira assume o governo da capitania, a região é finalmente pacificada

Pero Mendes Gouveia ou Pedro Mendes Gouveia

Pedro Mendes Gouveia foi o 15º Capitão-Mor nomeado pela coroa portuguesa na capitania do Rio Grande. Ninguém sabe se ele era português ou espanhol, visto que nesta época havia a União Ibérica, quando Portugal e Espanhol se juntaram.  Por isso, existem vários debates sobre como é a grafia correta de seu nome.  

No entanto, sabe-se que ele foi nomeado como Capitão-Mor em torno de 1630 e os historiadores o lembram por enfrentar os holandeses da invasão. Após perder dos holandeses, ele ficou ferido por estilhaços de peluoros e o forte rendeu-se, entregue pelo seu ajudante Sebastião Pinheiro Coelho que retirou as chaves estando o Capitão-mor desacordado pela febre dos ferimentos.

Depois, ele foi encaminhado para Pernambuco, onde ficou preso. Após ser solto, viveu em Goiana e Itamaracá, onde morreu em torno de 1646 ou 1647. Entretanto, outros dizem que o mesmo morreu durante a batalha.

Lugares afetados pela Invasão Holandesa no Rio Grande do Norte

Canonização dos Mártires de Uruaçu e Cunhaú

Com a morte dos Padres André de Soveral e Ambrósio Ferro, além do camponês Mateus Moreira, o Vaticano realizou homenagens sob a alegação de que eles se sacrificaram em nome da fé. Como resultado,  em 16 de junho de 1989 o processo de beatificação foi concedido pela Santa Sé.

Em 21 de dezembro de 1998 o papa João II assinou o decreto reconhecendo o martírio de 30 brasileiros, sendo dois sacerdotes e 28 leigos.

A celebração de beatificação aconteceu na Praça de São Pedro, no Vaticano, no dia 5 de março de 2000. A cerimônia religiosa foi presidida pelo papa João Paulo II. No Local do Massacre foi erguido o Monumento dos Mártires em memória dos Bem-Aventurados. O espaço é aberto aos turistas e religiosos, e a cada mês de outubro recebe centenas de fiéis de todas as partes que acompanham as celebrações e festividades em homenagem aos mortos.

Em homenagem ao morticínio, foi erguido um monumento na localidade de Uruaçu, próximo aonde ocorreu o martírio, denominado ‘Monumento aos Mártires’, que foi inaugurado no dia 05 de dezembro de 2000 com a presença de aproximadamente 15 mil pessoas, incluindo diversas autoridades eclesiásticas e governamentais.

O local abrange uma área de dois hectares, doada pela família Veríssimo, proprietária da fazenda. O Monumento aos Mártires foi projetado pelo arquiteto Francisco Soares Junior, tendo capacidade para receber 20 mil peregrinos. Atrás do palco há um painel medindo 30 metros. O Capelão do monumento é o Padre Antônio Murilo de Paiva.

Em março de 2017, o Papa Francisco anunciou que a canonização de 30 novos santos brasileiros foi aprovada aprovou um decreto a lista de beatos a serem santificados.

O processo de canonização estava na Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, desde o segundo semestre de 2015, por indicação do próprio Papa Francisco.

De acordo com a Arquidiocese de Natal, em outubro do ano passado, o Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’ Aniello, esteve na região e conheceu os locais dos martírios, e pode presenciar a devoção aos beatos.

Atualmente, os mártires de Cunhaú e Uruaçu são celebrados em duas datas: 16 de julho, numa cerimônia na capela da Nossa Senhora das Candeias, onde o massacre de Cunhaú aconteceu; e no dia 3 de outubro em Uruaçu, onde os mártires foram mortos pelos índios e soldados holandeses.

 

30 mártires de Uruaçu e Cunhaú

  1. André de Soveral. 
  2. Ambrósio Francisco Ferro.
  3. Mateus Moreira. 
  4. Domingo Carvalho.
  5. Antônio Vilela, o filho .
  6. José do Porto.
  7. Francisco de Bastos.
  8. Diego Pereira.
  9. João Lostao Navarro.
  10. Antônio Vilela.
  11. Estêvão Machado de Miranda
  12. Vicente de Souza Pereira
  13. Francisco Mendes Pereira.
  14. João da Silveira.
  15. Simão Correia
  16. Antonio Baracho.
  17. João Martins. 
  18. Manuel Rodrigues Moura.
  19. Esposa de Manuel Rodrigues Moura.
  20. Sete jovens companheiros de João Martins
  21. Filha de Antônio Vilela, o caçula
  22. Filha de Francisco Dias, o menor.
  23. Duas filhas de Estêvão Machado de Miranda