Autor: Lara Paiva

  • 55 km² da Caatinga do Seridó foi destruído em 30 anos

    55 km² da Caatinga do Seridó foi destruído em 30 anos

    No mês passado, publicamos que uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Lá constatou uma grande destruição da caatinga no Nordeste. A pesquisa dizia que o bioma nordestino estaria espalhado em 47 mil fragmentos. Outra pesquisa da instituição de ensino, todavia, mais precisamente no campus de Currais Novos e Caicó estudaram a destruição do bioma no Seridó. Mais precisamente em Jardim de Piranhas.

    Entre 1985 e 2015, foram destruídos 55 km² de mata da região. Isto equivale um Vaticano no meio da cidade. Ou seja, 55 mil campos de futebol.

    Como chegou a esse estudo

    A pesquisa apareceu numa revista e o artigo é Índice de Transformação Antrópica (ITA) como suporte para análise da degradação da paisagem no município de Jardim de Piranhas/RN. O estudo revela um estágio avançado de devastação no Seridó.

    Os dados indicam que essas áreas, antes ocupadas basicamente por pastagens, tornaram-se inutilizáveis. Um dos sinais da infertilidade destas áreas está o aumento da Jurema Preta. Os pesquisadores apontam há uma readaptação ecológica, uma vez que essa espécie é um indicador de degradação.

    A imagem acima, por exemplo, é do pesquisador Saulo Vital e mostra o avanço da Jurema Preta nesta área, indicando que a área já houve uma intervenção.

    Causas deste desmatamento

    O crescimento das cidades e  a ocupação de grandes áreas de matas são os principais fatores. O motivo também está ligado especialmente por agricultura e pecuária extensiva. O resultado causa erosão do solo, contaminação por agrotóxicos, poluição e queimadas após os desmatamentos, são algumas delas. Além disso, a cultura do algodão, no Rio Grande do Norte, na década de 80, foi a atividade que causou maior nível de desgaste do solo ao longo da área estudada.

    Para mostrar como a redução foi grande, a quantidade de corpos d’água, compostos por rios, açudes e represas, correspondia a 0,96% da área da Caatinga na cidade. Em 2015, o valor correspondia a 0,71%.

    Antes do algodão, apenas 15,33% do solo era visível e há cinco anos, o resultado é 44,58%. Embora pareça que este crescimento é bom para plantio, o excesso de solo é um sinal da terra ser infértil. Ou seja, inadequada para agricultura.

    Já a Caatinga densa e rala mais a Mata Ciliar, no ano de 1985, correspondia a 83,68% do território da cidade. Após 30 anos este número reduziu para 54,69 pontos percentuais.

    Além de alterar a paisagem, a ocupação desordenada e o uso predatório alimenta outro problema recorrente: a seca. A agricultura vem ocupando margens e, a depender da época do ano, leitos de rios por não conseguir mais extrair de certas faixas de terra o que precisa para a atividade.

    Por que a escolha de Jardim de Piranhas

    De acordo com a Agecom, os pesquisadores escolheram à cidade com 14 mil habitantes, uma vez que o rio Piranhas/Açu chega ao Rio Grande do Norte na região. Primeiramente, eles queriam entender o desmatamento da caatinga potiguar na origem do principal rio da região. Então, eles presumem se este problema ocorre ali, certamente acontece em todo a região do Seridó. Indicando, portanto, um alto nível de degradação.

    Apesar da notícia drástica ainda é possível reverter. A partir da reconstituição dos solos, replantio de árvores nativas e atividades multidisciplinares, contando com membros da Geografia, Engenharia Florestal e Biologia.