A foto de Erta de Souza mostra bem o que aconteceu na avenida Deodoro da Fonseca nesta semana. Após quase 15 anos do seu fim, o Diário de Natal teve outro fim trágico, uma vez que a sua primeira sede virou apenas um terreno baldio. Veículos e máquinas pesadas derrubaram o que restou do prédio que já funcionou a primeira rádio da capital potiguar, o jornal impresso e toda a história da imprensa local, além de exibições de filmes, programas de calouros e shows musicais.
Desde 2015, quando o Brechando surgiu, a gente mostrou o abandono do prédio, além de exibir os registros do Google Maps desde 2011 mostram o desgaste que o prédio vem sofrendo ao longo dos tempos. Além disso, começou a ficar assim após a reforma do jornal em 2009, quando houve demissões de alguns jornalistas e a publicação sofreu com algumas modificações, como a transformação do formato standart para tabloide.
O início do abandono
Em 2010, este prédio foi vendido e mudou a sua sede para o bairro de Igapó, logo após a ponte de mesmo nome, na zona Norte da capital potiguar. O jornal começou a ser impresso na sede do Diário de Pernambuco (que também pertence ao Diários Associados), em Recife.
Os vizinhos do prédio tiveram que colocar blocos de tijolos nas principais entradas, pois o local estava sendo usado para abrigar usuários de drogas. O terreno totalmente deteriorado e tomado pelo mato. O problema fez com que os moradores ficassem sentem inseguros. Além disso, outra questão é a incidência de mosquitos, uma vez que o terreno acumula muito lixo. Sem contar que registraram casos de dengue na rua por causa da água da chuva que se acumulara nos recipientes jogados lá dentro.
O abandono do prédio do Diário de Natal apareceu em diversas reportagens da mídia local, como o jornalista Saulo de Castro mostrou muito bem no Portal No Ar.
MLB ocupou o antigo Diário de Natal este ano
As famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) que ocupavam o prédio antigo Diário de Natal começaram a deixar o local em julho de 2024. Para a mudança eles usaram um caminhão fornecido pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), órgão do Governo do Estado.
Segundo o MLB, as famílias voltaram ao galpão na Ribeira, onde estavam até janeiro. Além disso, no galpão da Ribeira, os manifestantes se juntarão a outras 20 famílias e permanecerão lá por aproximadamente três semanas. Depois disso, as 30 famílias serão levadas para o prédio cedido pelo governo.
Por que eles ocuparam?
As famílias deverão ficar no prédio cedido pelo governo por tempo indeterminado, aguardando a entrega de imóveis dos programas Pró-Moradia ou Minha Casa Minha Vida. No dia 26 de julho, o juiz Bruno Lacerda Fernandes, da 5ª Vara da Fazenda Pública, atendeu a um pedido do Governo do Estado e da Defensoria Pública. Na semana passada, o Governo do Estado fechou um acordo com o MLB para a desocupação do terreno. Pelo acordo, as famílias mudaram para um imóvel escolhido pelo movimento e alugado pelo governo.
Em nota, o governo afirmou que contratou uma empresa para limpar e preparar o imóvel que abrigará as famílias “o mais breve possível”.
Sobre o Diário de Natal
O Diário de Natal surgiu em 1932. Aos domingos, ele vendia como O Poti (mesmo nome da rádio do grupo), que foi suspensa em 2009 e retornado em 2011. Na década de 1970, o impresso chegou a ter uma tiragem diária de 30 mil exemplares. Na época, todavia, Natal tinha pouco mais de 200 mil habitantes.
O Diário de Natal também se constituiu como uma escola de jornalismo do Rio Grande do Norte, dos quais os grandes profissionais passaram pelo jornal. Ademais, era o mais antigo jornal impresso em circulação na capital potiguar. No dia 2 de outubro de 2012 o grupo Associados de Pernambuco decretou seu fim. A justificativa era que iria trabalhar apenas com o site, que não durou, portanto, seis meses.