Um minuto de sua atenção, precisamos falar de Dona Alice

Um minuto de sua atenção, precisamos falar de Dona Alice

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Domingo, dia das mães, acredito que dona Alice e dona Ana Cláudia devem estar brigando para fazer a comida. Mas, espera, estou escrevendo isso numa quinta-feira. Não consigo prever o futuro, mas sei que essas situações são as mais corriqueiras possíveis e provavelmente irá acontecer. Não entendeu, né? Mas bora falar da primeira pessoa citada, que é a minha mãe.

Dizem que eu pareço fisicamente com meu pai (depois falo dele), mas a personalidade é quase dela, no qual falam que eu sou teimosa, exigente e decidida quando quer uma determinada coisa. A gente não gosta muito quando o destino sai do controle da nossa vida, mas depois conseguimos se adaptar com o novo mundo.

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Uma das coincidências é que nascemos em dias nada comuns. Ela, no dia 25 de dezembro. Eu, 1º de abril. Também escolhemos a mesma faculdade: jornalismo. Apesar dela preferir o funcionalismo público, ela hoje é a brecheira número 1. Liga para mim quando escrevo algo inusitado ou quando erro alguma palavra.

É uma figura muito presente na minha vida, todos meus amigos já ouviram falar algo sobre dona Alice.

Quando fiz vestibular para área, ela quase me matou, dizendo que iria me arrepender, deveria fazer publicidade e que eu tinha outros cursos de humanas para fazer. “Você está louca, por que está fazendo isso contigo?”, dizia.

Mas quando comecei a trabalhar na área, ela ficou toda derretida e adorava comentar o que fazia como profissional. Segundo a Carol, minha irmã, ela chorava copiosamente na minha formatura.

Sobre a sua juventude, os amigos dela falam para mim que era bem para frente e mesmo sendo filha de uma sacoleira com um motorista, ela conseguiu passar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Minha avó dizia que ela ficava estudando bastante e que só via livros na cama dela.

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Minha mãe quando jovem

Durante a faculdade, entrou no emprego público e conciliava os dois. Foi uma maratona, mas deu certo, apesar de ouvir comentários dos tios chatos. Ela se formou e a foto da turma dela virou outdoor.

Sobre o machismo, ela sambava na cara, pois ela fazia o que queria e não importava se eles reclamavam porque bebia demais ou escutava muito discos da Tropicália. Adoro as fotos dela de jovem bêbada, pois mostra uma dona Alice livre.

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Pausa na escrita. Neste momento, ela está exigindo que eu apresse para ir ao trabalho. Mas, antes, preciso arrumar o meu quarto. Ainda pergunta se já arrumei meu projeto para o TCC da especialização. Implica se ficar direto na casa do namorado ou passo o fim de semana na rua.

Apesar da cara de bravinha, mamãe é uma das figuras mais doces e recepciona todo mundo, mesmo aqueles que possuem o pensamento contrário do dela. Pronta para discutir todo tipo de assunto, até sobre relacionamento aberto.

Se preocupava muito com a educação da gente, pois ela não queria que a gente fosse viver embaixo do machismo, mas ao mesmo tempo estava pronta para se desconstruir quando estivesse errada. Por isso, elas nos deu bastante liberdade sobre o nosso pensamento e também a religião que seguisse. Odiava a ideia de que a gente tinha que pensar do jeito dela, após ver filhos de amigos e parentes não sendo eles só porque os pais querem, mesmo que isso não esteja nos sonhos dela ou no script.

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Além disso, ela procura se modernizar e odeia frases como: “no meu tempo as coisas eram assim”, pois ela sabe que não é assim que a banda toca. Um exemplo disso é como tentar tirar selfies, como nessa foto a seguir:

Mesmo com as filhas já adultas, ela se preocupa com a gente como se fossemos crianças.

Os diálogos mais comuns quando perguntam da gente são:
“As meninas vão bem…”
“As meninas foram ao cinema…”

Aprendi com ela que posso gostar de mundos totalmente diferentes e que isso não quer dizer que sou sem personalidade. Ela, por exemplo, adora Queen e Rita Lee, mas também pode escutar Fábio Jr de boas. De quebra, ela acha o Padre Fábio de Melo gatinho e escuta músicas religiosas.

Enquanto eu posso escutar desde Mercyful Fate até a Pabllo Vittar.

Com ela, eu aprendi que não tenho a obrigação de andar com uma menina fofa e que isso não reduz à masculinidade.

Foi com ela que aprendi a fotografar e também a escrever histórias. Somos péssimas em matemática e matérias de exatas no geral.

Mãe, dessa vez comprei seu presente e curta o seu dia.

Feliz Dia das Mães!

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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