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Alexandre, o engraxate da Princesa Isabel

Com uma bolsa roxa e com sinais de desgaste, Alexandre andas nas ruas do centro da cidade, mais precisamente na Rua Princesa Isabel. O local que ele mais gosta da rua é o Café São Luiz. “Eu gosto de ficar aqui no Café São Luiz, eu trabalho aqui há mais de 30 anos. Desde que…

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Com uma bolsa roxa e com sinais de desgaste, Alexandre andas nas ruas do centro da cidade, mais precisamente na Rua Princesa Isabel. O local que ele mais gosta da rua é o Café São Luiz. “Eu gosto de ficar aqui no Café São Luiz, eu trabalho aqui há mais de 30 anos. Desde que entendo por gente estou aqui, apesar de ter ficado algum tempo afastado”, relatou.

Alexandre já é conhecido pelos funcionários do café, que prontamente já perguntam: “Quer café, Alexandre?”.  Com poucos dentes, mas um sorriso largo, este aceita e faz questão de pagá-lo. “Não precisa, rapaz”.

Mesmo assim, pagou. Os clientes da cafeteria também lhe conhece, uma vez que engraxou ou ainda engraxa muitos sapatos.

É esta a arte que domina. Engraxar os sapatos e fazê-los brilhar no meio das calçadas sujas e cinzas do centro de Natal.  Para ele, natural de São Gonçalo do Amarante, engraxar é uma das coisas mais fáceis do mundo e domina esta técnica há décadas. Coloca o produto com o auxílio de uma escova, depois lustra o sapato com o uma flanela. Tudo isso é escondido dentro da pequena mochila roxa e feito em uma questão de segundos.

“Engraxo os sapatos desde que eu tinha 10 anos, comecei por uma questão de sobrevivência, pois minha família é bastante pobre”, afirmou Alexandre.

No momento em que conversava, ele estava engraxando o sapato de um dos clientes fieis de Alexandre. “Sempre peço para que ele engraxe os meus sapatos e é bom para ajudá-lo a trabalhar e ficar longe das drogas”.

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Todo o dia, ele pega o trem de Soledade II, zona Norte de Natal, para no bairro da Ribeira e alguns minutos, subindo e descendo ladeira, chega na Rua Princesa Isabel. “Esta é a minha rotina, gosto muito de fazer o que eu faço, graças a Deus”.

Rapidamente, ele conta a parte ruim de trabalhar na rua, o acesso às drogas. Confessa que já experimentou desde garoto todo tipo de entorpecente até chegar no crack. “Comecei com cola, depois maconha, cocaína, até chegar no crack, me dava uma sensação de poder e não queria parar mais, fiquei anos assim. Era algo bastante viciante. Um dia decidiram me internar, fiquei um ano lá na clínica e agora estou nas ruas voltando ao trabalho”, comemorou.

Alexandre, que tem uma tatuagem desbotada em um dos braços, relatou que passou um ano internado e há pouco tempo recebeu alta. A única coisa que lamenta que não conseguiu a visita dos três filhos enquanto esteve por lá. “Eles moram lá em Pureza com a mãe dele. Conhece lá? O local é bastante bonito”, disse.

Atualmente, o engraxate mora com a mãe e a irmã. A Rua Princesa Isabel está escurecendo e é hora dele partir novamente para zona Norte, descansar e voltar às ruas amanhã para engraxar mais sapatos.

Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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