Lambendo as ruas de Natal e Região Metropolitana com sua história

Lambendo as ruas de Natal e Região Metropolitana com sua história

“Você vem né?”, dizia a performer Catarina Santos nos áudios de Whatsapp. E fui. Sabe quando a criança está ansiosa para ir ao parque de diversões no final de semana? Eu a interpretei desta forma, sendo que a diferença que Catarina iria lançar uma de suas obras mais importantes nas ruas natalenses, além de estimular os lambes da muherada. A exposição à céu aberto Lambe Mulher 2023 reúne mulheres potiguares a fazer lambes nas ruas da cidade.

Mas, você está me perguntando: O que é lambe? É a arte que utiliza cola, água, papel e rolo para grudar nos muros e paredes das ruas. Como se fosse um outdoor, sendo que mais voltado para exposição artística. “A Lambe Mulher busca enfatizar que as ruas pertencem às mulheres não só em seu preceito político como também cultural e de memória social”, enfatiza Catarina.

E não precisava ser experiente em lambe, desde que tivesse uma arte para grudar nas calçadas, postes e murais já estava valendo.

Fotos: Lara Paiva.

Catarina é de tudo um pouco. Artista plástica, fotógrafa, estudante de pedagogia cultural, militante política, trabalha com mídias sociais e entre outras atividades. Agora, ela quer botar o bloco na rua após períodos conturbados durante a pandemia.

Para o Lambe Mulher, Catarina lançou o Evangelho de Santa Catarina do Pau Oco está sendo pregado nas ruas da cidade para contar a história não só da artista, mas também de mulheres do RN que foram taxadas, por algum momento da vida, de loucas. Ela intitula a primeira parte de “As Três Rainhas Loucas do RN”.

A ação faz parte da edição Lambe Mulher que conta com as artistas que grudaram arte na Pinacoteca, no Teatro Sandoval Wanderley e também está na mira outros pontos da cidade e região Metropolitana.

Denunciando a calçada da Pinacoteca

Os lambes também foram espaço para Catarina denunciar a destruição da calçada portuguesa que tinha na Pinacoteca e foi coberta de cimento. A artista, inclusive, elaborou um reels para mostrar o que foi feito, além de pedir uma justificativa das autoridades.

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Quem são as outras “loucas”?

“Aqui quero que as pessoas parem de injuriar com apelidos que difamam a reputação delas através da memória delas porque elas tem nome e elas não ficam atrás maridos ou de nome de bairros”, disse a Catarina durante um dos nossos telefonemas para falar desta ação.

Amélia Machado

Amélia Duarte Machado nasceu em 1881. Quando jovem, ela casou com o português Manoel Duarte Machado, um homem bastante rico naquela época. Dono de muitas terras e um grande comerciante, tinha lojas nas ruas da Ribeira.

Em 1910, eles construíram uma casa próximo da Igreja do Rosário, no bairro de Cidade Alta, que existe até hoje e falamos dela no Brechando. A casa tinha uma arquitetura pomposa do palacete ornamentado com gradil e estátuas, provenientes da França e estilo Art Nouveau.

No ano de 1934, o Manuel Machado faleceu e a Amélia continuou a morar no sobrado, além de administrar os negócios da família.

Entretanto, uma lenda urbana acabou com a sua reputação. Como era viúva, empresária e sem filhos, apesar de ter tentado engravidar várias vezes, mas gostava de brincar com as crianças e era uma alma bastante caridosa. “As pessoas de Natal não aceitavam naquela época que uma mulher como Amélia conseguisse ser bastante rica”, lamentou Catarina.

As lendas começaram a apontar que odiava crianças e era uma mulher malvada apareceram. Diziam que ela comia os fígados dos meninos e que as orelhas eram grandes, fruto de uma doença misteriosa que alguns pontam como elefantíase ou uma outra doença rara.

Júlia de Medeiros

Nasceu na região do Seridó potiguar no dia 28 de agosto de 1896. Foi alfabetizada em sua própria residência, numa das salas da Fazenda Umari, sob a orientação de Misael Barros, o seu mestre-escola. Após ser alfabetizada Júlia Medeiros seguiu para a capital potiguar em busca de ampliar seus conhecimentos.

Em Natal, se formou no Colégio Nossa Senhora da Conceição e decidiu ser professora. Com esse objetivo ingressou, em 1921, na Escola Normal de Natal. Após concluir seus estudos foi diplomada no dia 30 de janeiro de 1926. De volta a Caicó, com o propósito de fundar um externato para as crianças, faz publicar no Jornal das Moças (1926-1932), no qual trabalhou como redatora, redigiu uma nota, por meio da qual, oferecia os seus serviços como professora particular.

Sintonizada com a causa das mulheres, escreve mais uma página na história de Caicó. Foi a primeira mulher de Caicó a se alistar como eleitora. Em 1950, aos 54 anos de idade, é eleita vereadora pelo Partido Social Democrático. Obteve na eleição com 214 votos, num universo de 4.469, correspondendo a 4,78% da votação. Concorreu com 28 candidatos e foi a 6ª colocada. Reelegeu-se para novo mandato para o período de 1954 a 1958.

Após encerrar o mandato como vereadora, Júlia Medeiros se encontrava perturbada mentalmente. Segundo seus familiares, ela se trancava em sua casa e permanecia dias sem comunicação. Durante a sua trajetória, ela era amiga de grandes nomes potiguares, como Palmira Wanderley e Câmara Cascudo.

Após a sua aposentadoria, na década de 60, a família achou que era melhor se mudar para Natal. Foi onde surgiu o apelido “Rocas-Quintas”, porque andava por toda a cidade a pé em passos ligeiros, vestindo roupas desgastadas e agindo como mendiga.

Após receber as zombarias das crianças com seu apelido jocoso, ela dizia que foi uma mulher de destaque, porém ninguém a acreditava. Sempre dizia: E ela, com o dedo em riste, revida: “Me respeitem, que eu tive vida importante”.


 

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