Maia x Suassuna: Dia que Lavosier Maia se envolveu na rixa

Maia x Suassuna: Dia que Lavosier Maia se envolveu na rixa

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Na novela das 9, “A Dona do Pedaço”, uma das peças centrais da trama era uma richa de duas famílias no interior do Espírito Santo. Apesar de ser ficção, a briga de clãs é mais real que se parece e já chegou na fronteira dos estados da Paraíba e do RN. Essa briga envolve duas famílias importantes na parte empresarial e política, mas também ajudou a formar os pistoleiros mais perigosos da região. Estou falando do duelo entre Maia x Suassuna, que já tem um século de muitas discussões e crimes.  O fato chamou atenção dos jornais de grande circulação e vamos contar a história a seguir.

Primeiro, vamos falar a origem de cada família.  O clã dos Suassuna no sertão paraibano originou-se a partir de um padre que se chamava Felipe, descende das famílias Cavalcanti de Albuquerque de Pernambuco. Pertenceram a família o Visconde de Albuquerque e o Marquês de Muribeca, que foi lente da Faculdade de Direito de São Paulo. Os Cavalcanti de Albuquerque são proprietários de um engenho chamado Suassuna, inspirado em um nome índigena, eles foram envolvidos numa revolta que ficou conhecida chamada de Conspiração dos Suassunas e o objetivo era eclodir uma revolução para que o Brasil ficasse independente dos portugueses.

Já os Maia vem de Francisco Alves Maia, descendente de portugueses desembarcados em praias cearenses e primeiro membro destacado da família na política. Conhecido como coronel Maia foi o responsável por enviar seus descendentes para estudarem em faculdades, como as de Direito de Recife e São Paulo e a de Medicina em Salvador. Este pensamento avançado para a época criou entre os seus descendentes a importância dos estudos para ascensão social, política e profissional.

Antes, os descedentes dos clãs eram amigos e chegaram a estudar juntos na mesma faculdade e casaram entre si.  Porém, a última ocasião que Maia e Suassuna foram aliados do mesmo partido aconteceu para apoiar Epitácio Pessoa como Presidente do Brasil. Depois disso nunca mais e vamos falar a origem da rixa.

Começou mesmo em 1922, quando Francisco Sérgio Maia, o Chico Sérgio, filho do coronel Sérgio Maia, queria namorar Noemi  Leite, a mais bela cunhada de Christiano Suassuna. O namoro, obviamente, era desaprovado por ambas famílias, principalmente pelo fato de Chico Sérgio ter tido tuberculose.  Com a intenção de dar um susto em Chico Sérgio, João Mantense, um capanga de Cristiano Suassuna, foi à fazenda do coronel Sérgio Maia e lá encontrou o jovem Chico conversando em numa roda de amigos. Passou a jogar pedras e pedaços de tijolos no rapaz. Uma banda de tijolo atingiu uma de suas pernas, causando sérias lesões.

Como vingança, o  capanga de Christiano Suassuna foi agredido em plena feira de Catolé do Rocha.

Matéria do Jornal do Brasil explicando a briga

A briga que foi o começo do estopim foi quando João Agripino Filho, tio do ex-senador potiguar José Agripino Maia, estava com seus pais e o irmão Antônio Maia em Catolé do Rocha na calçada quando Américo Suassuna com um rifle na mão e ficou passando na frente da casa dos Maia ameaçando de morte.  Na hora que o membro do clã Suassuna levantou a arma, João Agripino saiu levando Dona Angelina, o bebê e o jovem João Agripino para dentro de casa. Américo começou atirar. Os  capangas de João Agripino (o pai de João Agripino Filho), conhecidos como João Boquinha e Cícero Novato, que responderam aos tiros de Américo e um deles estava armado com um fuzil. O patriarca também conseguiu se armar e responder o tiroteio.

Raimundo Suassuna a troca de balas encerrou quando seu pai Pio Suassuna interveio e a briga pirou naquele dia. Mas, a Guerra não acabou. Uma curiosidade é que Pio era casado com Dolores Henriques Maia. Sim, eles brigavam, mas tinham parentes em comum. Era uma relação bem de tapas e beijos, mesmo.

Uma outra briga que envolveu as duas famílias aconteceu no período do cangaço.  Em 27 de julho de 1924 foi protagonizado pelo cangaceiro Francisco Pereira Dantas, conhecido como Chico Pereira e aliado de Lampião, era conhecido pelos inúmeros assaltos de Sousa. Um dos inimigos do cangaceiro era Octávio Mariz, ligado à família Maia. Isso fez com que os Suassunas “protegesse” o Chico Pereira, principalmente o João Suassuna (pai do escritor Ariano Suassuna), que na época era Governador da Paraíba.

Uma das provas, segundo os historiadores, foi um acontecimento em que Chico Pereira e os parentes do então governador paraibano estiveram em uma ocasião na fazenda Conceição, de propriedade de Manoel Maia de Vasconcelos, na época juiz em Assú e respondendo pela comarca de Mossoró, Rio Grande do Norte. Na época dizia que ele pediu apenas “água”, mas a recepção, obviamente, não foi carinhosa e deixou os Maia em estado de alerta.

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Nos dias de eleição foi criada uma linha imaginária em Catolé do Rocha, que tinha como base a igreja matriz de Nossa Senhora dos Remédios e dividia os setores políticos dos dois clãs. E a divisão das duas famílias continuou em assuntos políticos até mesmo externos de Catolé.

A briga chegou no apogeu (cidade do interior da Paraíba) com a chegada do Governo de Vargas. Os Maia apoiaram politicamente o governador João Pessoa no plano estadual e Getúlio Vargas na esfera federal. Já os Suassuna cerraram fileira junto ao coronel José Pereira, de Princesa, e no quadro político nacional deram apoio ao paulista Júlio Prestes.  Quando Pessoa se tornou presidente de seu estado e Suassuna deputado, os militares ficaram preocupados com essa situação e declararam parte da Paraíba independente, o que provocou o então presidente do Brasil, Washington Luís, a intervir em nome do governo nacional. Pessoa foi assassinado em 26 de julho de 1930 por um parente de Suassuna, no qual muitos acusaram o João de ser o mandante do crime. Por isso, ele foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro, levando toda a família a morar no interior de Pernambuco.

E essa disputa chegou na capital do Rio Grande do Norte. Aconteceu em 1954, quando Lauro Maia era o prefeito eleito da cidade potiguar de Patu, fronteiriça a Catolé do Rocha. Era uma liderança política ligada a João Café Filho, potiguar e depois se tornou presidente da República após o suicídio de Vargas. No dia 03 de junho, na calçada do Hotel América, na avenida Rio Branco, Maia foi assassinado. O pistoleiro desferiu quatro tiros com um revólver calibre 38 contra o prefeito de Patu, que efetivamente foi atingido por dois balaços e faleceu três dias depois no antigo Hospital Miguel Couto.

Patu foi testemunha das brigas dos Maia x Suassuna

A suspeita maior recaiu sobre José de Deus Dutra, ligado politicamente aos Suassuna em Patu. Por falta de provas José Dutra foi absolvido. Já o filho de Lauro Maia, o médico Lavoisier Maia Sobrinho (foto acima do título), que se tornaria Governador do Rio Grande do Norte, foi trabalhar em Catolé dos Rochas, no qual vamos contar a seguir. Era o dia 9 de setembro de 1956 na festa de comemoração de bodas de casamento do juiz de direito Sérgio Maia, no Prédio da Intendência, localizado à Rua Epitácio Pessoa, no centro de Catolé do Rocha. Depois houve uma animada comemoração em clube local.

Em meio à festa, Chiquinho Suassuna queria que um parente seu entrasse no recinto e participasse do evento, mas Lavoisier Maia barrou a entrada deste membro do clã opositor. Ambos estavam alcoolizados, Isso gerou uma altercação, que descambou para um tiroteio onde ficaram feridos Lavoisier e Chiquinho. Nesse mesmo episódio foi morto com um tiro acidental o agente de estatística Cantidiano de Andrade. Antes, tanto Lavosier e Chiquinho eram amigos e primos, no qual chegaram a organizar um São João juntos.  O tiroteio deixou sequelas gravíssimas ao futuro governador do RN que após o episódio de Catolé passou a morar em Mossoró.

Após estes acontecimentos houve um período de trégua na luta das famílias. Mas os ressentimentos, contudo, permaneceram como chagas abertas. Bastava que acontecesse algum problema mais sério para que as acusações voltassem à tona e a violência retomasse o seu sinistro crescimento.

Esta não é a única rixa familiar dos Suassuna, no qual eles também têm problemas com a Oliveira, também ocasionada no mesmo período por motivos políticos.  Em 1995, Pedro Veras de Sousa matou a tiros Silvino Mesquita, então patriarca do clã dos Oliveira. Ninguém sabe ao certo o porquê do assassinato. Para o polícia, foi apenas uma briga de valentões. Os filhos de Silvino, no entanto, resolveram se vingar e matou Grimalcy Mesquita, filho de Silvino. Depois, os Oliveira mudaram para São Paulo e juntou dinheiro para vingar das duas mortes. E com ajuda de pistoleiros, a matança começou.

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Segundo as investigações, as famílias compravam apólice de seguro para possíveis alvos. Se um deles fosse assassinado, o dinheiro da indenização serviria para financiar uma possível vingança contra os rivais.
Desconfiados de que o clã dos Veras estivessem recebendo ajuda dos Suassuna, os Oliveira passaram a se vingar das duas famílias. Policiais que investigam o caso chegam a estimar que o número de mortos passe de cem. Só neste ano, a investigação policial aponta sete homicídios ligados à rixa. Segundo a Polícia Militar da Paraíba, os 64 crimes ocorreram em ao menos quatro Estados: Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e São Paulo. Até hoje, mais de 100 pessoas já morreram de ambos os lados.

No Rio Grande do Norte, a família Suassuna ficou conhecida nas páginas policiais por estarem envolvidos em pistolagem. No ano de 2009,  o Eriberto Suassuna Barreto, 66, foi executado a tiros na manhã de ontem, por volta das 9 horas, próximo ao prédio do Ministério Público, rua Senador Dinarte Mariz, centro da cidade de Pau dos Ferros. Segundo a polícia, a vítima foi morta com aproximadamente seis tiros de revólver calibre 38, enquanto seguia para a Secretaria Municipal de Saúde, onde trabalhava atualmente, em sua Honda Titan, vermelha.

Testemunhas informaram à polícia que os pistoleiros estavam em outra Titan, preta, e placa não-identificada. O aposentado havia saído de sua residência, localizada na rua Antônio Fontes de Oliveira, bairro São Benedito, e foi seguido até ser atingido por vários tiros.

A vítima ainda chegou a ser socorrida, mas morreu antes mesmo de ser atendida pelos médicos. O corpo não foi trazido pelos peritos do Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep) porque tentaram socorrê-lo e o local do crime foi alterado. O cadáver foi trazido para o Itep pelo carro de uma funerária para ser periciado e depois liberado para sepultamento. Em julho daquele ano, pistoleiros já haviam executado o irmão do aposentado, João Barreto Suassuna. Ele foi morto no município de Riacho da Cruz, em uma fazenda onde residia. Em 1999, outro integrante da família também foi morto por pistoleiros. Giovani Suassuna foi executado na cidade de Umarizal.

No ano de 2011, o O Ministério Público da Paraíba denunciou, nesta semana, nove suspeitos de participação dos Oliveira e Suassunas que seriam responsáveis por 95 homicídios motivados por uma rixa entre famílias no Sertão do estado. O esquema de ‘pistolagem’ foi desarticulado durante a Operação Laços de Sangue e a denúncia foi apresentada por promotores do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco).  Na denúncia, os suspeitos são responsabilizados pelos crimes de homicídio, formação de quadrilha e em alguns casos porte ilegal de arma. Os dois grupos, segundo o Ministério Público, protagonizaram a disputa familiar que vinha aumentando os índices de criminalidade na região sertaneja. Levantamentos da Polícia Civil apontam que somente em 2011, 15 pessoas foram mortas em função da rixa entre as famílias. De acordo com a investigação a série de mortes já duraria mais de 30 anos.

Em setembro, a primeira parte da operação prendeu pelo menos 15 integrantes das duas famílias com 18 armas, entre pistolas, escopetas e espingardas supostamente utilizadas nos assassinatos. Já em novembro, uma segunda etapa da Laços de Sangue prendeu mais quatro pessoas. Após a realização da operação, juízes e delegados envolvidos nas investigações passaram a receber ameaças de morte, o que motivou o Tribunal de Justiça a criar um plano de segurança especial.

Mesmo assim, o vereador de Patu, que faz fronteira com Catolé dos Rochas, Alexandrino Suassuna, conhecido como Xanxan foi morto em 2015. Ele foi alvejado por 12 disparos de arma de fogo em frente a uma churrascaria. No ano anterior, o seu tio Paulo Henrique Suassuna Barreto também foi executado no mesmo município.

As brigas dos Suassunas virou matéria do Fantástico, que pode ser conferida a seguir:

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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