O que acontece quando o que você achava esquisito em você é finalmente revelado? Você se rebela? Chora? Comemora? Ou tem todos os sentimentos? Isto tudo aconteceu em intervalos de hora. Na minha infância, nos anos 90, eu sempre vivia no mundo imaginário, onde imaginava demais, perguntara muito e questionava bastante os adultos. Diziam que eu era trabalhosa, por questionar o porquê daquele não, ficar agoniada com texturas de tecido e nem sempre comer tudo que queria.
Ficava incomodada com alguns barulhos e tinha preferências por coisas estranhas e esquisitas, como o desenho da Família Adams.
Minha mãe se estressava, até demais, quando não conseguia dizer o que me importunava na escola e não queria entrar em casa, porque só queria brincar ou não estava a fim de dizer meus sentimentos. Tinha, portanto, que ir no playground do prédio para me acalmar. Odiava viagens ao fim de semana de Natal para João Pessoa. Dizia ser a depressão materna, que passou para filha, pois está morando numa cidade que ninguém a conhecia e tirou sua independência.
Na família, eu só era uma garota curiosa. Na Educação Infantil, dizia que era coisa da idade. No Ensino Fundamental, os meus colegas me chamavam de retardada por demorar a aprender tabuada. No Ensino Médio, por ainda gostar de coisas não eram da moda-padrão, me chamavam de pombona. Não compreendia, porque o máximo de trabalho de carteira e PJ foram dois anos.
Talvez porque não aceitasse ordem ou achava que era desrespeitada, querendo me proteger. O jeito “atrevida” como dizia minha família ou amigos, aquela que não levava desaforo para casa. Lembro das vezes que adolescentes machistas da escola queriam zoar, respondi à altura e eles queriam ser mais agressivos. Nesta hora respondia mais alto. Uma atitude sem noção, dizia. Mas, era autodefesa sempre em mim.
Esta dualidade de tratamento, me deixava triste, deprimida e muitas vezes chorava querendo entender o porquê. A depressão já chegou em camadas profundas, chegando a ter mil diagnósticos. Remédios de controle emocional vieram, depois que percebi que homeopatia era mentira.
Terapia rodeava em círculos por muitas vezes. Descobria a origem dos traumas, mas não explicava tudo. Sabia como meu corpo funcionara, então criei uma casca para disfarçar ao máximo os meus defeitos. Construí uma forte rede de apoio para que eu não caísse em cada armadilha.
Abril de 2025, eu descobri: Não era esquisita, só tinha TEA. Transtorno do Espectro Autista, suporte 1 junto com TDAH.
Foram dois testes para chegar ao resultado. O primeiro foi em 2022 e o resultado chegou muito perto ao nível suporte 1.
A primeira suspeita veio quando amigas-mães relataram de comportamentos de seus filhos parecidos comigo com a mesma idade, depois vieram reportagens e até mesmo questionar minha psiquiatra e minha psicóloga.
Somente quando mudei de psiquiatra para fazer tratamento com canabidiol veio o incentivo de fazer o novo teste, dando coro ao que meus amigos, namorado e familiares pediam. Além disso, durante o mestrado, houve episódios que me deixaram constrangida porque as pessoas ficaram irritadas comigo por ser quem eu era. E após seis semanas. Bingo: TEA.
Hoje, minha vida está tão clara quanto a água que estou bebendo para fazer o teste. Estou indo atrás dos meus direitos, deveres e da recuperação dos 32 anos de que isto causou me problemas.
Sei que não sou anjo azul ou esta santificação ridícula de uma condição mental. Mas, encerro este texto dizendo: não sou esquisita, nem especial. Por fim, não me incomode em seu incômodo.

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