Jean Mermoz saiu de Natal até o Senegal e fez história na aviação

Jean Mermoz saiu de Natal até o Senegal e fez história na aviação

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Em Natal temos várias homenagens ao Jean Mermoz, no entanto poucas pessoas sabem da importância que esse francês teve na história da aviação. Recentemente, teve uma homenagem da Aliança Francesa. Mas, vamos contar a sua história.

Antes, vamos explicar quem foi Jean Mermoz

Jean Mermoz nasceu na cidade de Aubenton, no dia 09 de dezembro de 1901. Pouco se sabe da sua infância e juventude, mas a sua carreira de aviador começou em 1920, quando tinha 19 anos. Neste período a Europa estava em crise econômica e se reerguendo por conta dos estragos da Primeira Guerra Mundial. Se alistou no exército, onde escolheu a aviação por conta do salário. Entretanto, ele foi expulso por indisciplina e vai trabalhar em voos da Aviação Civil.

Seu primeiro emprego na área foi nas Linhas Aéreas Latécoère em 1924. Durante três semanas atuou como mecânico. Mas, ele enlouquecia os chefes por sua rebeldia, principalmente as acrobacias enquanto voava. Reza a lenda que o diretor da companhia, Didier Daurat, tido como extremamente rigoroso, disse: “Aqui não contratamos acrobatas. Se o senhor quer fazer circo, deve procurar outro lugar”.

Em 1926, começa de fato a construir sua carreira como piloto ao voar sobre o Saara na mira dos mouros dissidentes do Marrocos Espanhol e, na América do Sul, realiza voos noturnos. Contudo, foi a sua loucura como piloto em Natal que chamou atenção e entrou na história.

Em 1930, Mermoz, conhecido também como “O Arcanjo” já havia realizado várias façanhas na Aéropostale, como os primeiros voos noturnos entre o Rio de Janeiro e, por conseguinte, Buenos Aires. Ainda mais realizava o sobrevoo da perigosa cordilheira dos Andes.

Rota de Jean Mermoz à Natal

Ele entrou na história da aviação ocorreu em 1930, com o feito da primeira ligação postal sem escalas sobre o Atlântico Sul.

Em 1936, aos 35 anos, já como inspetor da Air France, Jean Mermoz e sua tripulação desapareceram no Atlântico. Fato aconteceu durante a sua 25.ª travessia do Atlântico Sul, a bordo de um hidroavião Laté 300. Por isso, esse momento histórico foi importantíssimo para a história da aviação. O francês, nesta travessia, esteve acompanhado do navegador Jean Dabry e pelo técnico de rádio Léopold Gimié, percorreu quase 3.500 quilômetros que separam Saint-Louis (Senegal) de Natal no Brasil, com 130 quilos de correspondência a bordo, em quase 24 horas de viagem. Mermoz foi responsável por estabelecer linhas aéreas regulares entre França, Espanha, Marrocos e Senegal, que ele sonhava em estender para a América do Sul.

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Jean Mermoz em uma de suas travessias ao Atlântico Sul



Tudo isso foi acompanhado na Rampa, onde os aviões saíam do prédio para fazer rotas comerciais e também entrega de postais.

Na época, as correspondências entre a África e a América do Sul eram transportadas de navio e demoravam dias para chegar. As regulamentações francesas proibiram o voo comercial sobre o Atlântico por razões de segurança. Por isso, foi necessário transformar o Latécoère-28 em um hidroavião, equipando-o com flutuadores e motores reforçados para comprovar que esta rota daria certo.

Jean Mermoz veio a falecer em 1936, aos 35 anos, já como inspetor da Air France, ele e sua tripulação vieram a desaparecer no Atlântico, durante a sua 25ª travessia do Atlântico Sul. Estava a bordo de um hidroavião Laté 300, até então sendo o maior equipamento já construído na época, com quatro motores da marca Hispano-Suiza, embora considerado um equipamento não confiável em suas operações de voo.

Monumento em homenagem pelo Consulado da França em Natal


Fotos: Ulyana Lima


No dia 25 de abril, todavia, a Aliança Francesa de Natal inaugurou um monumento alusivo aos 90 anos da primeira travessia aérea transatlântica com correio postal. Além disso, o evento foi coordenado pelo Conselheiro de Cooperação e Ação Cultural da Embaixada da França no Brasil, Olivier Giron, e contou com a presença do Adido de Cooperação do Consulado Geral da França em Recife, Sébastien Dahyot. Ainda mais teve a presença do diretor da Aliança Francesa de Natal, Ernesto Guerra, e da agente Consular da França em Natal, Caroline Fernandes. 

Olivier Giron falou da importância da travessia, considerada marco na história mundial da aviação: “Uma carta que antes levava meses para chegar ao Brasil a bordo dos navios a vapor passou, então, a trazer notícias, para a época, ainda frescas”. Sobre a importância de Natal no fato, Giron destacou: “Por ser a cidade mais perto do continente europeu e africano, Natal foi a primeira das 11 escalas da Aéropostale no país. A cidade já conta com uma escola e uma rua com o nome do piloto Jean Mermoz e a escultura será mais uma maneira de lembrar do passado que a França tem em comum com o Brasil, mais especificamente com Natal”.

A obra, instalada dentro da Aliança Francesa, foi executada pelo o artista carioca Mario Pitanguy e representa o hidroavião “Laté 28.3”, modelo utilizado por Mermoz, incluindo um medalhão do piloto. “A doação da escultura para a população natalense, por meio da nossa instituição, contribui amplamente com a promoção da língua, da história e da cultura francesa aqui na cidade, estamos honrados” disse Ernesto Guerra.

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Biógrafo do piloto de Jean Mermoz também esteve no evento Natal

Jean Mermoz Natal
Biografo de Jean Mermoz esteve em Natal (Fotos: Ulyana Lima)

O biógrafo Roberto da Silva que pesquisou a fundo a vida de Jean Mermoz. O estudioso português expôs algumas curiosidades. “Além dele, a tripulação era composta pelo navegador Jean Dabry e o radiotelegrafista Léopold Gimié. Além disso, o voo não foi tranquilo, eles enfrentaram o temido pot-au-noir, nuvens compactas e negras que cobrem a superfície da água e a ela aderem. Mas, com bravura e determinação, o piloto conseguiu amerissar no rio Potengi, às 7h 20min do dia 13-05-1930”. Para Roberto, Mermoz e seu feito ainda são muito pouco conhecidos pelo cidadão natalense e a instalação do monumento pode ajudar a reverter esse fato.

O evento marcou o encerramento do “Jean Mermoz em Natal”, projeto iniciado em 2020 pelo Serviço Cultural da Embaixada da França no Brasil. Também estavam presentes Mireille Meireles, diretora da Escola Francesa, representantes da UFRN e representantes do Município e Estado.

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2 respostas para “Jean Mermoz saiu de Natal até o Senegal e fez história na aviação”

  1. Em relação à reportagem “JEAN MERMOZ SAIU DE NATAL ATÉ O SENEGAL E FEZ HISTÓRIA NA AVIAÇÃO como biógrafo de Jean Mermoz peço permissão para fazer alguns reparos:
    Não são desconhecidas a infância e a adolescência de Jean Mermoz. Todos os seus biógrafos as reconstituem em diversos episódios. O primeiro capítulo de meu livro é dedicado justamente a essas fases da vida de Jean Mermoz.
    Mermoz jamais foi expulso do serviço militar por indisciplina. O que se registra e ele mesmo confessa em cartas à Madame Gabrielle Mermoz, sua mãe, são detenções por indisciplina, a maior parte delas injustas por serem resultado de perseguição de um superior seu, por razões particulares.
    Mermoz jamais enlouqueceu chefes por ter praticado acrobacias enquanto era piloto da Aéropostale. O episódio de acrobacias por ele efetuadas ocorreu somente em seu teste para ingressar na Aéropostale, o que desagradou o Chefe de Exploração da empresa, Didier Daurat, mas isso não comprometeu em nada sua admissão.
    É absolutamente improcedente e sem pertinência alguma a afirmação “Contudo foi a sua loucura como piloto em Natal que chamou atenção e entrou na história.”
    Jean Mermoz entrou na história por sua inteligência, sua capacidade profissional, sua coragem, sua bravura, seu heroísmo.
    Quando desapareceu no Atlântico Sul, em 1936, ele não estava acompanhado por Dabry e Gimié, seus companheiros no voo pioneiro de 1930. No parágrafo da reportagem em que se aborda seu desaparecimento há uma confusão entre os dois voos, isto é, entre a primeira e a última travessia transatlântica de Jean Mermoz.
    Não era da Rampa que partiam os hidroaviões da Aéropostale para suas rotas comerciais, mais precisamente, para o transporte do correio.
    A proibição do voo direto pretendido por Jean Mermoz, desde 1927, foi temporária por razões absolutamente técnicas.
    Não é português, como está assinalado na reportagem, o biógrafo de Jean Mermoz, presente na inauguração do monumento comemorativo dos 90 anos da primeira travessia transatlântica em voo direto realizada por Mermoz. Roberto da Silva é brasileiro, norte-rio-grandense de Pedro Velho. Na verdade, é autor da primeira biografia de Jean Mermoz escrita em língua portuguesa.

    1. Obrigada pelas palavras de sabedoria e por dar esse detalhe

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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