Brechando em SP

A galeria (não é mais) do Rock

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A Galeria do Rock, quando mais nova, era um lugar que queria ir bastante por ter discos, camisetas e outros acessórios de rock de forma mais fácil. Diferentemente de Natal que tinha que ir ao Alecrim uma vez na vida ou encontrar um estande do rock no Saga ou Yujô da vida. Sem contar que não era nascida quando veio a Whiplash.

Mas, era assim que curtia rock em Natal, onde os amigos que iam para Galeria do Rock em viagem à SP compravam as coisas para gente. Eram meses de mesada para isso. A gente achava que era a Disney do roqueiro.

Escuto rock desde os meus 12 anos e somente aos 28 anos que finalmente pude ir ao loca. Desta vez não fui sozinha, estava acompanhada de Jana Maia, jornalista e também do signo Áries. O que tínhamos em comum? A curiosidade.

Jana escreve para o Típico Local, site parceiro do Brechando. Não sei quais as observações que ela poderia colocar no site. Mas, a gente encheu o peito e disse: que decepção.

A minha vinda para São Paulo foi anunciada por antecipação para Jana. Pensamos em inúmeras coisas e vimos que tinha que observar o ponto turístico mais sonhado dos natalenses roqueiros, dar um rolê na República e ir a Galeria do Rock. Nos encontramos no SESC 24 de março. Jana estava acompanhada do conje Felipe, que teve que escutar nossas reclamações.

As nossas reclamações não eram em vão, pois a gente viu um prédio dos anos 60 bonitão entrando em ruínas, com um monte de loja com placa de aluga-se. De vez em quando via aquele tiozão estereotipado das páginas de esquerda andando nos corredores ou adolescentes procurando um acessório de anime para comprar.

A gente foi rodando de baixo para cima para ver como era o clima. Inicialmente erramos a galeria, porque do lado tinha uma parecida e com uma estrutura semelhante, mas Felipe rapidamente nos corrigiu e rindo dos murmúrios de arianas.

Ao entrar, eu fui no meu principal objetivo: comprar um LP de metal que raramente seria vendido em Natal. Durante toda a viagem, como falei, procurei lugares diferentes da cidade onde moro.

Impulsiva que sou, eu vi um LP de Melissa do Mercyful Fate. Apesar da cara de unicórnio, sempre que gostei de metal extremo e adoro as histórias de terror que King Diamond contava. Melissa é um dos meus discos favoritos e ter em LP seria. Aí já me empolgo e pergunto: “Moço, quanto custa Melissa?”.

Fiquei imensamente feliz por não perguntarem se era para meu namorado e o rapaz sorridente falou o preço, além de ter me dado uma pechincha. Percebeu meu sotaque e viu que não era de lá. “O que você está fazendo aqui? A sua cidade tem praias bonitas. Tome o LP, tenho certeza que vai curtir lá”, disse o homem feliz conversando com um tiozinho de boné com uma voz familiar, mas bem discreto e tímido.

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Era o Regis Tadeu, o youtuber

Não. Não era parente, mas estavam discutindo LP e falando de suas coleções. Somente quando cheguei no hotel me toquei que era Regis Tadeu. Aquele homem do vídeo tretando com os fãs de Manowar. Ele parecia um tiozinho que iria no boteco comprar um litrão.

Feliz com LP na sacola, eu e Jana continuamos a nossa saga observadora. “Está vazio! Será que fomos bem perto de fechar?”. Aí o Felipe nos respondeu que era o horário que vinha mais gente, por conta dos bares por perto.

A Galeria do Rock fica próximo de bares boêmios, da Praça da República, do Copan e do Viaduto do Chá. Então, opção de gela não iria faltar. Mas, tinha um grupo de roqueiros em torno dos 30 anos que estavam bebendo sua gela, como se fosse a galera em frente ao Game Station do Midway.

Então arriscamos de subir de andar em andar para ver se tinha lojas interessantes. A arquitetura do local era muito bonita, mas víamos que precisava de reforma. “Meu Deus, a varanda não bate no meio da barriga. Medo da bixiga”, dizia ao tentar tirar foto da calçada o loca que ficava na icônica Avenida São João.

No meio do caminho definimos a galeria utilizando Natal obviamente como metáfora: o Shopping 10 com acessórios de roqueiro e otakus. Porque o Shopping 10 é uma galeria que fica no Alecrim e tem uma estrutura arquitetônica parecida, próxima de bares e numa rua movimentada da cidade.

Não podemos reclamar que o espaço era ventilado e a gente subia os andares para saber o que poderia nos reservar. As escadas rolantes só tinham direção de subida, para descer eram as escadas laterais. As lojas mais frequentadas eram de discos, alternados entre novos e usados.

“Meu Deus, tem o Clube da Esquina 1. Estou até com medo de perguntar o preço, aposto que é o meu rim”, brincou Jana. De vez em quando ouvíamos os barulhinhos de motor de tatuagem e ficávamos pensando qual seria o próximo desenho.

“Esse barulhinho que gosto muito. Saudades de tatuar”, dizia minha pessoa. Ficamos impressionada como o preço das joias do piercing eram caras, mas cada uma mais linda que a outra.

Por que tá tudo fechado?

O último andar foi o mais triste porque não tinha nenhuma loja aberta, parecia que o povo tinha desistido de ser roqueiro. Descemos questionando isso:

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Seria os bolsominions estragando o rock? A crise econômica realmente ferrou? A pandemia deu o catalisador?

Pode ser tudo isso ou nada. Concluímos, portanto, que um ponto turístico em uma cidade grande pode apresentar o seu próprio descaso.

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