Meus seis meses usando o aplicativo Tinder

Meus seis meses usando o aplicativo Tinder

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Eu falava para mim: “Se ficasse solteira, eu nunca usaria o Tinder”.  Queimei a língua e os dedos, enquanto estava na casa da minha amiga jornalista Leila de Melo, em agosto ou setembro (não lembro exatamente o mês). Ela e o também jornalista Henrique Arruda pegaram meu celular, baixaram o aplicativo e ficaram me incentivando. “Vá pensando em ficadas informais. Nada de romance sério!”, eles diziam. Parecia que queriam tirar o pai da forca, ou liberar a minha solteirice de uma vez. Enquanto outros queriam que ficasse bela, recatada e do lar. Isso aconteceu após diversos goles de Ypioca com Coca-Cola no apartamento de Leila, também conhecido como Espaço Cultural de Petrópolis. Não uso mais, porque eu acho que ele deu o que tinha que dar.

Pensava que o Tinder era igual àquele quadro da Eliana, onde os homens ficavam pagando mico para ter a atenção da mulher. De fato é desse jeito, só que com mais (eu ia escrever menos, mas mudei de ideia na edição final) vergonha alheia do que em rede nacional! Era lá que se sabia que tinha terminado namoro ou está chifrando a sua companheira (tenho prints para comprovar!).

Leila, por sinal, largou a capital potiguar para ficar com o grande amor da sua vida pelo mesmo aplicativo. Confesso, eu nunca esperei por isso, uma vez que a última coisa que queria era um namoro sério. Em seis meses encontrei todos os tipos de homem, dos mais legais, os falsos legais, alguns cheguei a ficar, outros ficamos apenas amigos e até do tipo de gente mais filha da puta possível.

Como funciona o aplicativo? Você faz o seu cadastro (Via Facebook ou Google), depois cria o seu próprio perfil, com: idade, nome e uma descrição sobre a sua persona. Mas também você pode colocar a sua formação ou emprego, além de conectar as suas contas no Instagram e Spotify.

Após o seu perfil criado, vai aparecer na sua timeline um monte de garotos, se você for hétero. É todo tipo de homem, desde os galãs de novela da Globo até aquelas figuras que parecem ter saído de uma página de humor. Quando tinha umas presepadas, era motivo para dar gargalhadas, perfis falsos (alô, Catfish) ou ver gente hipócrita, que paga de bom namorado nas redes sociais, mas estava procurando outras pessoas no app (poderia expor, melhor deixar quieto). No meio do palheiro é possível encontrar uma agulha.

Então era a hora de dar um like (clicar no coração) ou dislike (no X). Se a pessoa que você clicou no coração também clicar no mesmo botão de seu perfil, surge o match. Ou seja, vocês se combinam. Geralmente, as pessoas não sabem quem te deu um like. Ainda tem o superlike, para enfatizar que gostou do carinha, uma forma de dar um match mais rápido possível (Praticamente um: “Me pega em nome de Jesus”).

Claro que aproveitei este momento e dei likes em um monte de crush solteiro para ver se rolara.

Mais ou menos é a interface do aplicativo

Quando dá match, você pode conversar com a pessoa em um chat e se o papo for adiante, hora de adicionar em outras redes sociais. Assim que falei da criação do meu Tinder, a minha outra amiga, Sylvia Pinheiro, dizia que tinha que abrir meus horizontes, visto que todos os meus exs seguiam as mesmas características, principalmente por eles terem mais de 1,80 m de altura (daqueles eu bato nos cotovelos) e nerds/geeks/gamers.

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No primeiro dia, a gente começou a rir com os homens que apareciam no meu celular e eu ficava descurtindo os homens com cara de playboy ou cantor de sertanejo, algo que não, de jeito nenhum, faz meu tipo.  Leila prontamente já dizia: “Você só gosta daqueles meninos com cara esquisita, que parecem um fugitivo do Hospital João Machado (nome de um hospital psiquiátrico da cidade, que por muito tempo foi usado de manicômio) ou parece aqueles roqueiros góticos da Finlândia (Ville Valo é que o diga, homem bonito da gota serena!)”. Só começava a rir e, mesmo quando alguém dava um match, a conversa não iria para frente.

Só umas semanas depois, quando um rapaz que pagava algumas matérias comigo na UFRN e eu demos match,  começamos a conversar, tínhamos várias coisas em comum (música, cinema, livros, gatos e outras coisas…) até sair algumas vezes. Não era o padrão de caras que geralmente fico, estava seguindo o conselho da minha amiga Sylvia, mas tínhamos uma química legal (na minha opinião) e havia queimado minha língua novamente ao falar que nunca ficaria com um radialista/jornalista/publicitário. Mas, não foi para frente e se distanciamos. Até teve uma confusão, pois no Festival Dosol, eu o vi com outra e ele não falou comigo, algo que me deixou muito chateada. Só uns meses depois que falamos novamente.

Por falar em Dosol, neste mesmo dia, tinha encontrado um outro rapaz do Tinder que era de outra cidade e estávamos falando há uma semana. Chegamos a ficar no show, mesmo eu estando lá para trabalhar em nome do blog (Uma beijoca de um gatinho a gente não nega!). Mas, ele ficou chateadinho (na verdade ficou full pistola, como diz na gíria de gamers) porque sem querer desfoquei uma das fotos. Claro que era uma desculpa de parar de ficar. Porque embuste que é embuste inventa qualquer coisa.

Ainda neste mesmo dia, eu havia encontrado um cara que tinha dado um fora no mesmo aplicativo, pois no primeiro encontro queria que eu namorasse, casasse e tivesse dois filhos e um cachorro. Neste encontro, apareceu um compromisso de trabalho e ele ficou super chateado comigo e falando um monte de abobrinha. Então, eu falei: “Pera aí, boy”. Toda vida que ele me via no festival, olhava torto e era algo bem constrangedor. Praticamente um De Férias com o Ex no Festival Dosol, como todo evento da capital do Rio Grande do Norte.

Sem me aprofundar muito nos detalhes, eu posso dizer que esse dia de show foi terrivelmente ruim e deixei de curtir as bandas pelos inúmeros constrangimentos, fui direto para casa. Ainda achei que um amigo tinha me bloqueado no Whatsapp após uma discussão boba. Achei que o mundo me odiava. Foi um desastre. Até as mais feministas podem ter seus dias ruins, isso é normal de acontecer. Lembre-se, garotas: se amem e vá curtir as bandas, essas situações são contornadas, de uma forma ou de outra.

Mas, eu consegui criar forças, fiz as pazes com o amigo do Whatsapp que meu deu uma bronca por ter ficado na bad por conta do primeiro dia do Dosol e fui no segundo dia, onde consegui cumprimentar o primeiro cara citado, pois mamãe não me criou na selva  e chorei de emoção com o show do Liniker.

Mesmo que você esteja no Tinder, você não tem a obrigação de ficar com todo mundo ou namorar com o primeiro rapaz que beijou depois de solteira. Mas isso não quer dizer que você é inimiga só por ter beijado. Por exemplo eu fiz amizade com diversos meninos e foi melhor assim. No ano passado, uma das maiores amizades surgiu via app e a gente se fala todo dia, apesar das nossas loucuras, um dos poucos frutos que o Tinder pode trazer.

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No entanto, nem todos tem a mesma sorte, pois o que vai ter mais é só dor de cabeça, um dos motivos de ter deletado o aplicativo.

Embuste, antipático e machista é o que você vai ver no Tinder. Gente que acha que você é uma boneca inflável e está disponível para satisfazer os seus desejos sexuais. Independente se a menina quer ou não quer um sexo casual, isto não quer dizer que você precisa ser agredida verbalmente, fisicamente ou até moralmente. Eu não cheguei a esse nível, pois o primeiro papo chato de macho já desfazia o match ou bloqueava nas redes sociais. Virtualmente ou na vida real, Meninos: “Não é não”.

Sem contar que é muito comum você gostar de alguém no app, e a pessoa não sentir a mesma coisa e vice-versa. Algo que é bastante comum de acontecer nestes tempos de amor líquido, o que Zygmunt Baumann falava tanto em seu livro, o qual vivemos intensamente: a parte de ficar, cortejar e beijar, mas na hora de amadurecer o relacionamento, saímos do barco e nadamos até a costa, correndo da água. Apesar disso não ser realidade apenas do Tinder, isto acontece em flertes via festas, igrejas e outros lugares.

No entanto, quando você tenta navegar as correntezas te levam para caminhos super perigosos, principalmente para quem for mulher, onde ainda temos o machismo para ditar as regras como devemos comportar durante um flerte.

Cuidado, meninas, alguns parecem ser a pessoa mais fofa pelo chat e quando você add no Facebook, você vai ver muita foto do pênis dele e mesmo sem você pedir. Eu, por exemplo, podia fazer uma exposição na Pinacoteca do Estado com essas imagens. Eles também podem xingar você pelo seu corpo. Se você ver algum tipo de agressão, expõe o garoto, para que outras meninas evitem furadas como essas.

Minha mãe, dona Alice Paiva, dizia que eu estava numa versão virtual de Sodoma e Gomorra. Para as pessoas que tem uma versão romantizada e tradicional, eles seguem esta linha de pensamento. Porém, eu pensava: “Estava no inferno? Abraça o capeta.”. Ela, mesmo preocupada, fazia piada sobre a minha vida e apelidou todos os matches que mostrava para ela no celular, como Patropi (personagem Hippie da “Escolinha do Professor Raimundo”), Feioso (se ela achasse feio), Anão (se tivesse menos de 1,70m e menos de 1,58m, que é altura das mulheres da família), Tapete Persa (se alguém fosse totalmente tatuado), Peter Pan (que não queria crescer), Criança que Lara cria (se fosse mais novo), dentre outros.

Este foi a sitcom que transformou o que seria a minha vida amorosa.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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