Uma entrevista para tirar os tabus sobre o que é ser LGBT

Uma entrevista para tirar os tabus sobre o que é ser LGBT

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Qual a importância de lutar a favor do LGBT? Por isso, voltamos a procurar o professor Sidi Schneider, que é homossexual e militante a favor de direitos iguais entre pessoas LGBT e heterossexuais. Apesar dos avanços, em vários países, inclusive o Brasil, aparece diversas medidas consideradas um retrocesso. O objetivo é tentar desmentir ou tentar tirar o tabu em torno da palavra, visto que hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Vou deixar a entrevista aqui com perguntas e respostas para o melhor entendimento:

Embora alguns criticam dizendo que é uma festa, qual a importância da parada LGBT?

Com relação aos movimentos que levaram a formação da parada gay no ano de 1970, nos remetemos a pequenas organizações fechadas que buscavam reunir gays e lésbicas, para fazer panfletos e procurar se agrupar para lutar contra os internamentos psiquiátricos e a sociedade que tanto perseguia os homossexuais. Contudo o fato que marca e faz eclodir a Parada Gay, se dá no ano de 1969. O fato aconteceu na Rua Cristopher, na madrugada do dia 28 de junho de 1969, quando em um bar chamado Stonewall, ao ser encurralados por policiais corruptos, dentro do bar, centenas de gays, travestis, lésbicas e transgêneros, lutaram pela sua liberdade sexual e pela igualdade de direitos. A luta que durou 3 dias deu origem ao dia da liberdade Gay, hoje a chamada Parada do orgulho LGBT, um movimento que teve como base o movimento de libertação negra e que fundamentou suas discussões e sua luta em um histórico onde a homossexualidade era doentia e marginalizada em hospitais psiquiátricos. (A gente falou mais da Stonewall na nossa primeira matéria do dia). 

A importância da Parada Gay é chamar a atenção para a diversidade social que habita as nossas sociedades, ela além de ser um dia onde milhares de LGBTTs saem as ruas podendo se beijar, paquerar, andar de mãos dadas, sem ser incomodados, ou ao contrário sendo vistos como festeiros somente, é um momento em que estão tendo visibilidade social. Também deve estar claro a todos, que a Parada do Orgulho LGBTT, é no final de semana que encerra uma série de discussões que vem ocorrendo em diversos espaços. Discussões e palestras que buscam discutir a atual situação dos homossexuais, busca empoderar travestis e trans e ainda esclarecer tabus solidificados pela moral, ou seja, a Parada na verdade é o encerramento de um grande movimento que discute em vários grupos a necessidade da comunidade LGBTT se unir e esclarecer “verdades” não fundamentadas.

Você já sofreu homofobia?

Bom diretamente nunca sofri nenhuma agressão homofóbica, o que já aconteceu é ter meu instagran invadido e uma internauta ter comentado em minha foto que aos olhos de Deus eu e meu noivo não representávamos uma família. Contudo, ao printar a foto e expô-la na mesma rede social muitas pessoas me apoiaram enviando mensagens de apoio a eu e Márcio. (Para saber mais do relacionamento de Sidi e Marcio, clique neste link).

Ultimamente, a gente enxerga mensagens de ódio mais explícitas, principalmente vindas de pré-candidatos à presidência no ano que vem. Como você analisa este discurso de ódio?

Com relação a depoimentos onde esta claro o ódio aos homossexuais, por parte do pretendente a eleição para presidência, vejo que o mesmo apesar de ser homofóbico declarado, assim como machista e ainda uma pessoa que apoia torturadores, como declarou em rede nacional, ele esta se aproveitando do discurso moral que ainda esta entranhado em nossa sociedade e que tem muitos adeptos, para conseguir apoiadores a sua eleição. Assim, acredito que ele esta declarando seu ódio, por ter pessoas que pensam da mesma forma. E isto podemos comprovar pelas estatísticas, sendo que o Brasil hoje é um dos países que mais mata pessoas pela sua sexualidade, e ainda critica imensamente qualquer aparição midiática de beijos, trocas de carinho ou discussões sobre a homossexualidade.

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Muita gente associa LGBT com promiscuidade, de onde surgiu esta visão deturpada?

A visão do LGBTT como um ser promiscuo é histórica, na verdade pelo que vi ao estudar a história da sexualidade de Michel Foucault, este discurso vem através da igreja católica, que por muitos séculos pregou o ato sexual como meio de procriação e qualquer outra forma de prazer, mesmo sendo entre pessoas de sexos diferentes, era tido como uma afronta à moral. E neste sentido o sodomita, homem que praticava o sexo anal, era tido como grande pecador. Contudo, esta moral foi tendo cada vez mais poder sobre sua sociedade. A culpabilização do homossexual masculino, como ser promíscuo se acentua na década de oitenta, quando o vírus da AIDS começa a se expandir no mundo, sendo o gay o “bode expiatório” desta transmissão em larga escala. Infelizmente até hoje temos entranhados em nossa sociedade o fato de pessoas do mesmo sexo serem promíscuos, pois, de acordo com o pensamento de alguns, não se voltariam à formação de uma família e sim apenas buscariam o prazer sexual, o que não corresponde à verdade.

Quando se fala em LGBT, mas a gente sabe que a sexualidade tem diversos leques, como a bissexualidade e o gender fluid, existe preconceito dentro da comunidade com essa diversificação?

Com relação ao preconceito dos próprios LGBTTs com a diversidade que compõe este grupo social, ainda encontramos situações de preconceitos, principalmente com relação às travestis e transexuais. Infelizmente isto acontece como um fator de proteção “daquele aceito socialmente”. Como Paulo Freire, já discutiu em seu livro Pedagogia do Oprimido, os gays e lésbicas, que já foram oprimidos socialmente, acabam introjetando o opressor, e por este motivo não aceitam ou não buscam unir forças com os demais integrantes. Este fato também se deve pelo discurso social que vemos diariamente, onde se eu sou gay e mantenho atitudes de uma pessoa hétero eu sou mais respeitado, ou seja, ainda temos uma grande desunião devido a falta de conversas e discussões tanto na sociedade quanto no próprio grupo LGBTT.

Recentemente, muitos casas legislativas tiraram nos planos de educação sobre educação LGBT. Por que esse assunto é ainda tabu nas escolas? Os pais poderiam educá-las? Diminuiria o bullying nas escolas ?

Infelizmente o fato de muitas casas legislativas lutarem pela retirada das discussões sobre sexualidade na escola, se deve a má interpretação sobre o que vinha a ser a proposta. A pouco tempo tive acesso a uma gama de matérias que foram disponibilizados em 4 universidades federais do Brasil e que buscavam a formação de professores para esta discussão em sala de aula. A ideia do governo anterior em discutir levar esta discussão para sala de aula é excelente, pois é uma forma de educarmos a nova geração a ver a diversidade sexual e social com respeito, sem se espantar ao ver dois homens ou duas mulheres se beijando, que apoiem a adoção por casais homoafetivos, ou ao menos, que respeitem as pessoas que convivem em seus grupos, tanto de trabalho, sala de aula ou mesmo de sua comunidade.

O fato de termos estas discussões partindo dos pais também é muito importante, pais esclarecidos sobre a diversidade sexual e a igualdade de direitos de qualquer cidadão, independentemente de sua sexualidade, possibilita a educação de seus filhos com uma mente mais ampla, até porque ninguém nasce homofóbico ou machista e sim aprende em seu dia-a-dia, seja vendo seus familiares intitularem pessoas pejorativamente como “viado e sapatão”, até o fato de ouvir que homossexuais tem que ser mortos pois não “são normais”, assim como piadas que rebaixam as pessoas pela sua sexualidade ou seu gênero, levando a um constante aprendizado e a opressão dos LGBTTs.

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Esta educação voltada a discutir a diversidade sexual também é a base para empoderar adolescentes que tem medo de se assumir perante a sociedade, e inclusive é uma forma de combater o bullyng, nas escolas. Fato que pode ser presenciando nos dias de hoje, excluindo alunos e levando muitas crianças e adolescentes a depressão e até ao suicídio.

Como anda o mercado de trabalho para o LGBT ?

Bom infelizmente o fato de ser declaradamente LGBTT ainda tranca muitas portas no mercado de trabalho. Apesar de não ser declarado temos muitos casos onde pessoas são demitidos após se declararem homossexuais ou mesmo ser descobertos pelos seus chefes. A situação piora quando se trata de travestis ou trás, sendo que podemos comprovar este dado ao buscarmos em nossos representantes políticos quantos são declaradamente homossexuais, ou ainda quanto a cargos importantes em empresas, escolas e outras instituições. Infelizmente a sexualidade ainda influência tanto na contratação das pessoas assim como na representação política.

Mesmo com avanços como o casamento gay, o que falta ainda para melhorar?

Apesar de hoje termos uma lei que dá direitos iguais a homossexuais e a heterossexuais com relação ao matrimônio civil, ainda temos que lutar para criminalizar a homo e transfobia. Estes crimes de ódio social não podem ser vistos e banalizado como Sales ataques a um cidadão, E sim devem ser tratados e penalizados por órgãos específicos assim como o feminicídio.
Também temos que lutar e muito pela discussão nas escolas com as crianças e adolescentes e preparação dos professores para abordar tanto a temática da sexualidade quanto a questão de gênero, para que estes tenham embasamento teórico para discutir em suas aulas.

Qual a importância do dia 28 de junho?

Com relação ao dia 28 de junho é uma data importante pelo fato de ser um marco da resistência homossexual frente aos abusos de poder cometidos pela sociedade. Assim, cada postagem nas redes sociais, cada atitude que envolve a simbologia do movimento Lgbtt ou ainda o simples fato de se relembrar desta história serve como mote para se discutir a atual situação dos Lgbtt. A comemoração do dia Internacional do orgulho LGBTT não é um dia festivo e sim um dia que está chamando a atenção da sociedade para o paralelo que existe entre os direitos homossexuais e para os direitos heterossexuais, convocando a mesma para discutir sobre cidadania, rever a moral que permeia a sociedade e principalmente embasar a necessidade de se respeitar todos integrantes sociais, Independente de sua sexualidade, trejeitos ou maneira de se vestir.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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