Dificuldade de manter o teatro vivo em Natal

Dificuldade de manter o teatro vivo em Natal

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Para os natalenses, o teatro é visto como coisa de doido ou assistir peça é chato. Manter teatro já é difícil e viver de arte numa cidade considerada extremamente conservadora é trinta vezes mais. Este pensamento retrógrado faz com que diversos espaços culturais sejam esquecidos pela sociedade. É normal ouvir de natalenses terem ido no teatro apenas na idade escolar e quando adulto não vão.

Ou quando vão é para ver peças de atores globais ou vindas de outros estados. A gente não sabe dos atores da terra, só aqueles que aparecem na novela das 9. O teatro bom é aquele elitizado, onde não importa o conteúdo, o importante é falar que foi para aquele musical famoso no jornal e tirar selfie. Esse hábitos precisam ser mudados, pois problemas surgiram.

As notícias para área de teatro não estão nada boas: Teatro Sandoval Wanderley prestes a se transformar em um shopping (conta com o apoio dos integrantes da Fecomércio), o centenário Alberto Maranhão continua interditado e o Aboca está lutando fortemente na campanha de financiamento coletivo para não fechar as portas. Mesmo com esse furacão de coisas ruins, as pessoas estão se juntando para conseguir com que o teatro de Natal esteja firme e forte.

ABOCA surgiu em março de 2014 a partir do encontro de três grupos da cidade, a Bololô Cia Cênica, o Coletivo Artístico Atores à Deriva e o Carmin Grupo de Teatro. A afinidade de trabalho e a busca por um espaço de compartilhamento de processos e ações formativas foram o estímulo necessário para a concretização desse projeto. Atualmente ocupam como residentes oficiais a Bololô Cia. Cênica e a Sociedade T.

É financiado especialmente pelo público, que consome, convive e reside n’ABOCA. Atualmente é residida por artistas e gestores culturais que buscam a partir de suas atividades e investimentos pessoais, manter o local como base de seu projeto de vida, estabelecendo um elo afetivo com a comunidade e a classe cultural.

No entanto, o dinheiro do público não está conseguindo sustentar nenhum dos integrantes e por isso estão buscando várias formas de fazer com que o espaço seja divulgado.

Recentemente, ABOCA criou um Núcleo de Experimentação e Práticas, no qual conseguiu reunir pessoas que estão dispostas em trabalhar no espaço, fazendo atividades de assessoria de imprensa, design, mídias sociais e produção de atividades. Lá, o grupo está ralando duro para fazer com que as pessoas saibam da campanha de financiamento coletivo para que Aboca consiga se manter por mais dois anos e não feche as portas.

“A gente trabalha numa gestão coletiva e colaborativa, no qual temos uma série de profissionais, que estão tentando manter o espaço. São nestes momentos de crise, que a gente tenta buscar soluções”, disse Arlindo Bezerra, um dos desenvolvedores do ABOCA, espaço cultural que está lutando fortemente para não fechar as portas. Até o momento, eles conseguiram apenas 25% do valor arrecadado, faltando duas semanas para encerrar o projeto, o que deixa o ator e produtor cultural preocupado, mas, ao mesmo tempo, esperançoso.

O dinheiro da campanha do ABOCA será usado para manter o aluguel da casa 16 da rua Frei Miguelinho, comprar novos equipamentos para o espaço e conseguir criar cursos novos.

Bezerra comentou que o problema da crise do teatro é pela falta de criação de um público e também a ausência de incentivo do Município e Estado de levar atrações para dentro destes equipamentos públicos.  Hoje, dos três teatros públicos existentes em Natal, apenas o Teatro de Cultura Popular, TCP, que fica no anexo da Fundação José Augusto (FJA) está aberto.

“O nosso grande medo é: Será que daqui a cinco anos as pessoas vão ter acesso ao Teatro Alberto Maranhão?. Hoje já temos uma geração que nunca conheceu o Sandoval Wanderley. Tenho medo desta falta de experiência do público com os teatros tradicionais. Isto faz com que não crie um público”.

Por isso, muitas companhias particulares criaram os seus próprios espaços para divulgar as suas peças, como ABOCA, Barracão do Clowns de Shakespeare o TECESOL. “São espaços alternativos, não propriamente um teatro, mas era uma forma para que os trabalhos cênicos fossem divulgados e é importante que eles existam, pois é uma forma de encontrar o público”.

Para Arlindo Bezerra é importante a participação do poder público para estimular a criação de peças, como criação de editais tanto na gestão municipal quanto estadual. “O que a gente mais precisa é de instituições que ajudem a fomentar os espaços culturais, independente que a peça aconteça aqui, na Casa da Ribeira ou Barracão do Clowns de Shakespeare. A gente tendo este fomento público, uma campanha de financiamento coletivo não seria a principal forma que as companhias estariam buscando para se manter”.

Uma outra forma que o ABOCA está tentando manter o espaço aberto se chama o evento Movimento n’Aboca, no qual a edição de março/abril vai comemorar os três anos do espaço.

A festa terá as atrações Bando das Brenhas, Luisa & Os Alquimistas e Skarimbó, além da DJ Karol Posadzki. O ingresso antecipado com valor promocional (R$15) pode ser adquirido online no site bit.ly/ingressomovimento3anos.

O Movimento n’ABOCA é uma das ações artísticas continuadas que os grupos residentes e o núcleo gestor do espaço promovem para manter e movimentar o espaço. Essa é a 12ª edição do Movimento que, além de celebrar os três anos de resistência d’ABOCA, tem o intuito de divulgar e buscar mais apoios para a campanha de financiamento coletivo que os grupos estão encampando no Catarse, para manter ABOCA em pleno funcionamento pelos próximos dois anos.

“Não estamos conseguindo manter ABOCA sozinhos, e nos vemos sobre a triste ameaça de ter que fechar as portas e perder esse sonho que estamos construindo com tanto esforço”, comentou. Mas, Arlindo comenta que está esperançoso com a ajuda das pessoas e espera conseguir manter o seu sonho ainda de portas abertas.

Sobre a campanha citada na matéria

ABOCA ABERTA é uma campanha que visa na manutenção do espaço com ações artísticas continuadas pelo período de dois anos, através de atividades de residência, ocupação, formação, apreciação e celebração. O projeto segue recebendo contribuições até o dia 16 de abril, no site catarse.me/abocaaberta ou diretamente com os gestores do espaço, com financiamentos a partir de R$15 e várias recompensas.

Veja o vídeo da campanha:

 

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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